sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SOU DE ESCORPIÃO SIM. E DAÍ?...


Não se deixe levar pelo preconceito. Se você cruzar com um tipo honesto, corajoso, íntegro, intenso, magnético, profundo, reservado, perspicaz, enigmático e fiel até que a morte os separe, corra e agarre esta oportunidade, porque você terá topado com um escorpionino. Seu astrólogo diz que os escorpiões são traiçoeiros? Mude de astrólogo, porque o escorpião tem um senso de lealdade só comparável ao de um mafioso siciliano - se você mantiver sua palavra, ele manterá a dele até debaixo de uma saraivada de balas.

Sua melhor amiga diz que os escorpiões são don-juans incuráveis? Troque de amiga, porque o escorpião, embora tremendamente ligado ao sexo, é tão seletivo que prefere uma vida monástica a transar com qualquer um. Você andou lendo que o escorpião é um dissimulado? Largue esse livro pelo último de Agatha Christie, pois a notória reserva escorpionina não tem nada a ver com hipocrisia.

Um escorpião nunca mente, só omite - e na maior parte das vezes está repleto de razões, porque sua fabulosa antena psíquica pescou que o interlocutor em questão não é lá muito confiável. Esta, talvez, seja a principal característica deste signo cujo mito mais esclarecedor é o de Lúcifer, o anjo decaído, não por noitadas em excesso, mas por uma lucidez além dos limites: o grande pecado do escorpião, como o do ex-anjo, é um orgulho excessivo. Excessivo, mas não descabido.

O probleminha de Lúcifer era que enxergava certas razões ocultas por trás da cantoria dos querubins - um desejozinho secreto de promoção naquele arcanjo que emitia uma nota mais aguda. Por isso ele acabou expulso do Paraíso, onde críticas não são facilmente digeridas. A mesma complicada sina ocorre com os terrenos escorpioninos: como eles são providos de uma espécie de olhar de raio X, que detecta as piores intenções até nos melhores sorrisos, acabam se tornando ossos duros de roer.
Um escorpionino tem um faro imcomparável para imposturas, o que lhe torna difícil a vida em sociedade. Isto o transforma, muitas vezes, num introspectivo de cenho franzido: sua capacidade de captar algo de podre no reino da Dinamarca não tem paralelo, em todo zodíaco e em qualquer estatística. Mas se o escorpião saca tudo, inclusive o pior de cada um, é porque tem uma sensibilidade que chega às raias do insuportável. O que o torna, também, muito solidário com o sofrimento alheio - nada de estranhar que Ghandi tenha ascendente em escorpião. Um escorpião nunca foge de problemas. Não fuja dele, portanto, a não ser que você queira passar o resto da vida bocejando entediado.

É sensível a doenças nos órgãos genitais, reprodutores e excretores (bexiga, uretra, intestino grosso, glândulas sexuais) e no nariz. Outros problemas podem ser a dificuldade de eliminação, disfunções no aparelho sexual, inflamações e ulcerações em geral. Eles geram descontentamento com as relações sociais, emocionalidade tensa, dispersão mental e tendência à destrutividade. O escorpião tem uma incontrolável tendência a se atormentar, culpando-se por tudo que dá errado a sua volta, e num de milhares de quilômetros além, Bósnia, Croácia e Cambodja incluídos.

Como ele jamais pega leve, nem quando está de férias, esta mania de carregar o mundo e seus males pode se tornar meio desconfortável para aqueles que o cercam, e pretendem apenas tomar mais uma bebidinha e prosear. Como, igualmente, um escorpião nunca se lamenta ou faz o papel de vítima - o que ocorre muito com os outros signos de água, peixes e câncer - é preciso se tornar um telepata para saber exatamente o que vai mal com seu escorpião de estimação. Se for uma mera insatisfação com tudo, deixe estar - isto não tem cura. Se for uma depressão profunda, daquelas que o arrastam para a cama (e não para fazer o que ele tanto gosta), algumas providências são necessárias.

Nada de terapias de apoio, porque um escorpião jamais vai acreditar que ele está OK e o mundo está OK. Uma terapia de choque é a mais recomendável: uma passagem só de ida para a Iugoslávia, para trabalhar num campo de refugiados, ou um passeio às seis da tarde por qualquer dos pontos das grandes capitais brasileiras onde se concentram os menores infratores vai ajudar a reconhecer que há outros infernos ainda piores que seu inferno interior. Um pouco menos arriscada é a técnica de auto-análise.

Todo escorpião é um investigador nato, e isto explica porque eles dão excelentes psicanalistas. Em contrapartida, dão péssimos pacientes, já que nunca vão superar completamente a sensação de que aquele camarada sentado na poltrona atrás do divã está calado porque, no fundo, sabe menos do que ele. O escorpião lucra mais se pagar uma faculdade de psicologia em vez de honorários de um psicólogo avulso. É claro que às vezes não se pode esperar cinco anos escolares para resolver uma crise. Mas crises, na verdade, não atrapalham este signo. Ao contrário, ele precisa delas para se reciclar periodicamente. E acaba sempre levantando, sacudindo a poeira e dando a volta por cima.

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Texto de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicado no livro Use e abuse do seu signo. Editado pela LP&M: S. Paulo, 2008.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SABED0RIA DE GOETHE


Todos os dias devíamos

ler um bom poema,

ouvir uma linda canção,

contemplar um belo quadro

e dizer algumas bonitas palavras.


(Goethe)

CLARISSE: DENSA E MARAVILHOSA


Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas.
Dos pensamentos mais complexos.
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um
penhasco que eu vou dizer: E daí?
Eu adoro voar!
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“Sou implícita. E quando vou me explicitar perco a úmida intimidade.”

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Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Liberdade é pouco.
O que eu desejo ainda não tem nome.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Porque há o direito ao grito, então eu grito.
Sou como você me vê ...
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
depende de quando e como você me vê passar.
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.
O que obviamente não presta sempre me interessou muito.
Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito,
daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno
vôo e cai sem graça no chão.
À duração da minha existência dou uma significação
oculta que me ultrapassa.
Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo
passado, o presente e o futuro,
o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.
Vivo no quase, no nunca e no sempre.
Quase, quase - e por um triz escapo.

(Clarisse Lispector)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PROFESSOR, PARABÉNS PELO SEU DIA!...


Acho mesmo que estamos de parabéns.
Nós, os professores do mundo.
Mas também acredito que teríamos muito mais o que comemorar
se tivéssemos ensinando
as pessoas a modificarem o mundo e não apenas
a aperfeiçoarem o caos capitalista do ganho para poucos e
a conseqüente miséria para muitos a qualquer custo:
inclusive o da vida...
Se estivéssemos mais preocupados em constituir felicidades
e paz do que, propriamente, o lucro que enriquece os ricos...
Uma absoluta loucura contra nós mesmos...
Teríamos mais o que comemorar se entendêssemos
que as escolas, tal como ainda estão foram idealizadas
para conter a crítica, a sensibilidade, a capacidade de interagir
para a busca do que for melhor para todos.
Seríamos bem mais felizes se propagássemos o amor,
o bem-estar, a alegria de viver,
mais do que planilhas de gastos e controles de caixa.
E...parafraseando Rubem Alves:
"Bom professor não é o que dá uma boa aula explicando bem a matéria. Bom professor é o que transforma a aula em brinquedo, seduzindo o menino.
Uma vez seduzido o menino, não há quem o segure..."
E seduzir nossos meninos é liberar a criatividade,
o senso do viver com alegria, a conduta amorosa,
a crença vida, a conservação da natureza...
Etc...etc...etc...
Se fóssemos menos céticos e mais sensíveis,
menos ingênuos e mais abertos.
Se amolessêssemos mais corações
ao invés de trabalhar para endurecer os cérebros...
Aí sim, poderíamos gritar ao mundo:

P a r a b é n s P r o f e s s o r !. . .

Grande abraço! Reflitam comigo!

Antonio

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O NOME DELE É CHICO BUARQUE. FAVOR NÃO CONFUNDIR COM KELLY KEY!...


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
E agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
E agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão prá comer, por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague!...

(Chico Buarque“Construção / Deus lhe pague”)