segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PARA SE VIVER UM NOVO ANO NOVO


O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... Você começará a perder noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sangüínea.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.
Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e "apagando" as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção precisa ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente). O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência).
Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa... São apagados de sua noção de passagem do tempo... Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir- as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações...
Enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década. Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... r-o-t-i-n-a. Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa. Mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M &M (Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte). E marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).
Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras. Participe do aniversário de formatura de sua turma. Visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal. Vá a shows, cozinhe uma receita original, tirada de um livro novo. Escolha roupas inusitadas, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.
Beije e morda sua paixão, mas não tire pedaços e viva com ela momentos loucos, estarrecedores, lúdicos, radicais. Vá a mercados alternativos, leia livros escandalosos aos olhos tolos de muita gente. Busque experiências novas. Não seja igual a ninguém. Se tiver algum dinheiro - não precisa muito - especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países. Abandone o slogan do "politicamente correto", seja tudo, menos, careta. Veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos... em outras palavras... E, se possível, usando outros métodos, mas...V-I-V-A I-N-T-E-N-S-A-M-E-N-T-E.
Porque se você viver intensamente, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas surpreendentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí. Fale palavrões, escreva versos, pinte quadros. Cerque-se de amigos com gostos especiais, vindos de lugares outros, com religiões atípicas e que gostam de comidas com sabores exóticos. Gente que sabe respirar em falsete, faz amor de todas as formas, em lugares ousados, correm riscos, amam aventuras e gargalham de desmaiar frente a quaisquer preconceitos... Dê preferências às que riem de si mesmas, que não têm dificuldades para enfrentarem o tanque de roupas, vender cachorro-quente, lavar banheiros, etc.
Lembre-se que as melhores companhias são as pessoas descontraídas, que gostam de cachorros, de gatos, que falam alto e que saem de sandálias havaianas mesmo para serem fotografadas para um jornal importante. Amizades com pessoas assim não têm preço.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida. Abomine a mesmice, peça demissão da mediocridade. Nós só vivemos uma vez e é preciso que seja com a emoção possível. E esta só vem quando quando não perdemos a oprtunidade de fazer o bem e não servimos de obstáculo para quem quer e insiste loucamente em fazê-lo.

(Airton Luiz Mendonça - com adaptações minhas)

BRINCANDO DE FAZER PALAVRAS, DO LIVRO POEMAS PARA OS ANJOS DA TERRA


Brincando de Fazer Palavras

Antonio da Costa Neto


Não que eu mereça,
mas gosto de me sentir amigo
de Manoel de Barros.
E como dois moleques de cabelos brancos,
nós brincarmos de inventar palavras:
- colocá-las para voar;
- fazer cócegas na barriga delas;
- encher as mãos e as fazer derramar
como se fossem água fresca, limpa e aos borbotões.
Nós as bebemos e elas escorrem pelo queixo,
matando a sede de beleza, de sabedoria.
Depois, as arranjar em filas como formigas
que, em procissão, somem no meio da aboboreira
de flores amarelas e pesados frutos no chão.
Nós dois e as palavras brincamos com o barro
fazendo esculturas, passarinhos, borboletas
e outros seres iluminados de braços e asas abertas.
Prontos para invadirem o infinito das almas.
Aí, nós voamos com elas, no tapete mágico
que a gente tece dentro da mente.
Cruzando os fios dos pensamentos e dos sonhos,
alinhavando sílabas, pontuando versos.
E com tudo isso, faremos um manto imenso e brilhante.
Só de poesia, renda, brocados e fitas, repleto de muito
poder e glórias para vestir este mundo
nu, ao relento e morto de vergonha.
Meu amiguinho, muito melhor do que eu,
consegue com elas, tudo,
como o senhor, o mago,
a quem elas, prontamente, obedecem e atendem.
Enquanto isto, eu, aprendiz,
vou tentando correr atrás das palavras,
remendá-las em poesias
para tentar contar histórias
e, se possível, encantar a vida.

________________

(*) Do livro, ainda inédito: Poemas para os anjos da terra.

sábado, 3 de dezembro de 2011

POEMAS PARA OS ANJOS DA TERRA, MEU NOVO LIVRO: SÓ UM APERITIVO







PREFÁCIO


Antonio, um excelente fazedor de versos


A cidade de Bonfim, atual Silvânia, um dos primeiros arraiais do ciclo do ouro, partícipe da interiorização civilizatória ocidental, nas futuras terras goianas, quando de mala e cuia, Anhanguera, Filho, marchou em seu segundo retorno (1726) para aqui permanecer e, definitivamente, misturar-se à terra tão sulcada por ele, em busca do seu precioso metal amarelo, a 19 de setembro de 1740, é o berço paridor do escritor Antonio da Costa Neto e de tantos outros grandes nomes da literatura brasileira.


Até então, cerca de alguns meses, confesso que não sabia da existência cultural de Antonio da Costa Neto, ele, amigo de alguns dos meus amigos de produção literária, ainda não havíamos nos encontrado. O bom culpado, disso tudo, foi um poema que escrevi e publiquei, em meu livro Licores da carne, de título: o descascador de amêndoas, que ainda não sei como foi habitar as páginas do blog do Antonio: mudandoparadigmas.blogspot.com, emoldurado por ele, com referências elogiosas ao meu texto. A chegada do meu e-mail na caixa eletrônica do Antonio, agradecendo a sua generosa crítica, aos meus versos, trouxe-me em resposta, o convite para prefaciar seu livro: Poemas para os Anjos da Terra, prontamente aceito por mim, pedindo-lhe a compreensão de certo tempo para essa feitura para que antes pudesse cumprir uma série de compromissos literários previamente agendados.


Depois de uns dois meses, iniciei a leitura dos seus versos. A poesia ao contrário da prosa, a sua resposta de leitura, é muito imediata. Foi, assim, numa leitura de quem toma o elevador e desce no último andar dessa construção poética que se deu o meu embarque gustativo e estético desse lavrador de poemas silvaniense, radicado em Brasília. Feliz, porque não dizer, eufórico, encontrei um poeta dotado de extrema habilidade para trabalhar com muita personalidade as impressões da sua vivência infantil, adolescente e, agora, adultamente interpretada, acolhidas com uma ternura tão própria e confessa sem meias-palavras, portadoras uma essência poética ricamente bem-trabalhada, incorporando palavras.


Suas lembranças sensoriais afagam bichos, plantas, comidas e gente em todos os seus trejeitos – muito em especial a sua origem afro-brasileira (minha também) – acomodando seus parentes, num terno mosaico familiar. Antonio da Costa Neto, muito privilegiado, viveu com farta intensidade seus primitivos ciclos carnais. Eles tão próximos aos meus e que durante a leitura dos seus poemas, suas tias, seus avós, não eram somente seus, eram meus avós, minhas tias, madrinhas, professoras que ele buscou em sua existência para universalizar poeticamente com perfeita realização.


Não é pelo fato de sermos filhos de uma mesma geração, de uma mesma origem continental, de cidades próximas, ele, de Silvânia, e eu, da minha Pires do Rio, que me emocionei ao ler seus versos. Nunca misturei minhas emoções pessoais para criar ou inventar estética poética, dar qualidade literária ao que não existe. Antonio é, sim, um excelente fazedor de versos.


O educador por profissão, Antonio da Costa Neto é a grande revelação poética dos meus encontros cotidianos com a poesia neste 2011. Foi um grande presente que recebi dele, ao ser convidado para apresentar este seu livro. Sem dúvida, também, um presente enriquecedor da produção poética do Planalto Central à poesia brasileira.



Ubirajara Galli

Membro da Academia Goiana de Letras


e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás




_________________


Meu Reino

O quintal da casa
da minha vó era grande.
Quase uma fazenda.
Junto às cercas de arame farpado
o capim ficava grande
e emoldurava a paisagem lá fora: casinhas, morros, postes, serras...
O tanque rodeado de moças e conversas,
mãos espumadas, batedor surrado
e varal tão cheio quanto o cansaço dos corpos.

Minha tia reclamava: - “Gente, estou mais morta do que viva”.

E ia se deitar mais cedo.

No outro dia acordava se espreguiçando e dizendo

que dormiu como uma pedra. Ai, que saudade...
Laranjeiras, cachos de banana, roseiras, margaridas, pés de pimenta.
Chuchu trepado no pé de manga, lá encima.

Abacateiro, flor de manacá espalhando aquele cheiro bom de esperança.
Galinhas, jabuticabas, moitas de bananeiras fresquinhas e úmidas,

onde a galinhada preferia fazer seus ninhos.
Gato malhado e tocas de passarinhos. E a gente contando os ovos,
vigiando os filhotes nascerem.
Era só alegria ajudar dona sabiá deixando comidas
nos galhos das árvores e ficar espiando escondido.
Eu fazia isso e achava que já tinha ganhado o céu.
Não precisava mais rezar e nem fazer penitências.

Tinha preguiça de ir à missa
e fugia para ir espiar o Rio Vermelho nas manhãs de domingo.
Minha mãe desconfiava da minha cor morena

porque dentro da igreja não tinha sol.
Eu me fazia de desentendido e ia levando.
Corria para a casa da minha vó

e ganhava a barraquinha de despejo lá no fundo do quintal.
Me deliciava com o cheiro da lenha guardada há anos e dos bichos,
dos sacos de arroz e feijão empilhados. Queijos, rapaduras, muita farinha.
Dos pés de milho e dos tempos das pamonhas: de doce, de sal, de canela,
de pimenta com linguiça, frita, assada, cozida.
Minha vó ria suave e enrolava o cabelo no alto da cabeça,

prendendo com um pente preto com pedrinhas brilhantes.
Ela escondia a chave da despensa na alça da combinação
pra gente não roubar seus doces, bolos e biscoitos.
E antes de dormir; segurava nas mãos de Nossa Senhora da Guia,
pedia bênçãos e fazia o sinal da cruz rezando em voz alta

(que era pra santa escutar).
Apagava a luz, se deitava e ficava pensando:

nos filhos, nas dívidas, nos problemas...
De vez em quando dava um suspiro tão fundo que doía na alma.
A gente escutava passos na rua e ficava imaginando de quem poderia ser.
Às vezes ouvíamos vozes que davam para ser reconhecidas.
Eu era bem feliz porque tinha minha vó,

uma fortaleza a me proteger, me dar moedas.
Contar estórias como as da moça que se encantou,

do bezerrinho medroso e do peixe que sabia falar.
Tinha silêncio pra dormir, o escurinho do quarto e festa no coração.

E, amanhã, certamente, aquele quintal inteiro seria o meu Reino...
Eu, majestade, seria feliz entre cercas de arame, galinhas, gatos,
passarinhos, flores de abóbora e roupas branquinhas, cheirosas, lavadas
por minhas tias bonitas e ancudas.
Minha vó trançando os cabelos, calada, com os grampos na boca
e rezando em silêncio, cochichando, bem baixinho.

Enquanto eu achava que era para a gente ficar
rico e o meu pai poder ir pescar todos os dias, o dia todo,

que era o que ele mais queria na vida.
Eu, menino, brincava no quintal e nem pensava em outra coisa na vida.
E era muito mais feliz do que os reis da Suécia, da Espanha, da Inglaterra...
Mas muito mais mesmo.
(Ainda mais agora que eu sei que ser rei de verdade não tem aquela graça toda).
Bom mesmo era reinar no quintal-fazenda de minha vó.

_________________


Meu Padrinho Nenem da Costa

Tinha voz de melado de cana.

Alma de melado de cana.

Jeito de melado de cana.

Era mole pra beber que era uma coisa,

qualquer dose de cachaça com arnica

que tomava como remédio,

preparado por madrinha Martinha,

(que Deus a tenha num trono dourado)

meu Padrinho já caía de bêbado...

E virava menino, repetindo o tempo todo:

- “ Eu quero minha espingarda infantil.

Eu quero minha espingarda infantil!...”

O que me dava um misto de dó e de graça.

Meu padrinho morreu novo

e tinha no peito um coração

de torrão de açúcar

(que não chegou pra quem quis).

Era...um doce de pessoa.

Quando o doce é cobiçado demais

acaba cedo.

Vai embora logo.

Igual ao meu padrinho

o que desapareceu no horizonte

depois do ponto azul do infinito.

Onde ele parou, virou pra mim, sorriu macio,

colocou o chapéu, me deu adeus.

Pegou sua cabaça d’água e amarrou calmamente na cintura.

Jogou nas costas a enxada, o enxadão, a foice.

E foi plantar feijão e milho,

cortar cana, fazer melado, açúcar, rapadura, manuê

para adoçar o paraíso celestial, a casa de Deus.

E nunca mais voltou.

______________________


Conversinha Boa com Inácio Lôbo

- Eu já prantei o argudão, num prantei?

Eu já panhei, num panhei?

Eu já discarocei, num discarocei?

Eu já cardei, num cardei?

Eu já fiei, num fiei?

Eu já meiei, num meiei?

Eu já tingi, num tingi?

Eu já nuvelei, num nuvelei?

- Então, agora eu vô “pu tiá!”

_____________________


Tabela de Saliença de D. Antonia Bacada

Toda a minha geração de meninos

“perdeu a virgindade”

na casa de D. Antonia Bacada,

bem ali, ao lado do Cemitério.

(espero que me perdoe por usar aqui o apelido que odiava).

A gente entrava, sorrateiramente, pé-anti-pé, pelos fundos,

morrendo de medo de ser visto

e dava logo de cara com um cartaz na parede da cozinha,

que dizia, com uma letra feia e muitos erros:

TABELA DE SALIENÇA

Isso.........10 cruzêro.

Aquilo.....5.

Aquilo Outro...7,50.

Serviço Completo....15.

Etc. Etc. Etc.

Era o que ela cobrava pra brincar

com as suas meninas.

Cada um de nós tinha a sua preferida.

Eu, por exemplo, gostava muito da Luzia Fogoió,

porque além de loura, ela era fofinha,

gorda, repolhuda e muito farturenta.

Assim, as coisas ficavam muito mais fáceis

e eu, coitado, me gabando de bam-bam-bam.

Outros ficavam loucos pela Alzirona, desconfio,

até, que pelos mesmos motivos.

Tinha gente que eu nem posso dizer o nome

que adorava a Dercília e ficava horas na fila

esperando a moça terminar o serviço,

tomar o seu banho tcheco e se refazer

para a nova jornada que ia pela noite a dentro.

O que nos obrigava a fazer contas e mais contas

pois todo o mundo queria o tal “serviço completo”...

E o dinheiro era curto para tanta despesa.

À noite era melhor, pois a gente soprava a lamparina,

entregava o dinheiro – bem abaixo do combinado –

e saia correndo pela rua a fora.

Este era o enigma, porque nós, os homens,

tínhamos tanta facilidade para entender a matemática nas aulas.

A gente tirava notão e passava tranqüilo.

É, D. Antonia Bacada deveria ser homenageada como educadora

e o seu nome ser colocado em alguma escola da cidade.

Ensinava matemática com teoria e prática.

Bem melhor do que muita professora formada

e a gente aprendia que era uma beleza.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

FOI-SE MAIS UM ANO...

Foi-se mais um ano...
E com ele, uma quantidade incalculável de amores.
Cores, idades, alguns amigos,
não sei quantos neurônios.

Memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas.
Várias certezas
(se não me engano, treze).
Algumas verdades indiscutíveis.
Umas calças que não fecham mais.
E aquele vestido que eu gostava tanto.
Foi-se o meu gosto por espiar vitrines e achar graça.
Foi-se quase todo meu vidro de perfume.
Foi-se meu costume de imaginar asneiras à noite.
Foi-se meu forte instinto de acreditar no que me dizem
e de pensar que são realmente verdades
o que as pessoas que pondero, boas, me ensinam.
Ledo engano...
Foi-se meu açucareiro de porcelana. Que pena.
Foi-se o tempo em que uma simples farra não significava,
necessariamente, uma condenação
sumária a três dias em perfeito estado de coma.
Foi-se a poupança. O troquinho da gaveta.
Foi-se aquele antigo projeto
e com ele os sonhos de ser, de alguma forma, útil.
Foram-se exatamente nove vírgula seis por cento
de todas as minhas esperanças, e, bem mais que isto,
das minhas vontades de fazer coisas,
de gargalhar, de fazer felicidades.
Será que você não se cansa tempo?
Não pensa em tirar férias, dar uma pausa,
respirar um pouco?
Não lhe agrada a ideia de mudar
o andamento, diminuir o ritmo?
Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida
para compasso, mantra, ícone, diagrama?
Já vi passar bem mais da metade
da minha vida que, me parece,
começou ontem. Por isso, olho pra
trás e não vejo quase nada.
Me diz sinceramente: para que tanta pressa?
Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.
Ainda mais agora que meus gestos são lentos,
minhas mãos mais pesadas, minha vista, turva e,
quase sempre, sinto dores
depois de qualquer caminhada.
Mas já é dezembro.
Foi-se mais um ano.
E com ele, quem sabe, mais uma doce fatia da vida.
Quem sabe, a última?...

___________________

(Texto de Adriana Falcão, in O doido da garrafa.
Com complementações minhas que não sou bobo nem nada...)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

NECESSIDADE URGENTÍSSIMA DE SE TRANSFORMAR OS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO


No meu livro: Paradigmas em educação no novo milênio (3ª edição, Ed. Kelps, 2011), apresento os quadros do que entendo pela necessária mudança dos paradigmas educacionais, que, atendendo a inúmeras solicitações, resolvi publicar aqui. Espero que possa contribuir com profissionais e estudantes de educação que estão em busca deste salto inadiável.

Transponho os quadros que envolve o Antigo Paradigma do Ensino - que, aliás é o atual e que entendo, devamos abandonar com a urgência possível. Apresento, em paralelo a proposta do Novo Paradigma da Educação, o que devemos adotar com a máxima urgência, se é que queremos resguardar a educação e a vida. Para ser didático, divido aqui o tema em partes que deverão ser analisadas como intercomplementares, e, em conjunto. E o faço desta forma, para facilitar o entendimento e a aprendizagem, conforme minhas sucessivas experiências sobre o assunto.

CONSTRUÇÃO PSICOSSOCIAL DO CONHECIMENTO –TRANSIÇÃO DO ANTIGO PARA O NOVO PARADIGMA DA EDUCAÇÃO

“O mundo começa na inteligência e na sensibilidade. E não, na estrutura, na legalização, na máquina”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

1 - Políticas e Diretrizes

Leis de ensino criadas nas instâncias do poder. Feitas por indivíduos alheios ao fazer educacional e impostas aos executores, de forma rígida e inflexível como formas de perpetuar o modelo existente.

Currículos, programas e métodos gerais de trabalho educativo definidos na própria lei e executados minimamente no sentido do seu exato cumprimento.

A lei é inflexível e imposta. Prevê punições restritivas à sua não-execução, a partir da autoridade “competente”, da ordem estabelecida e do disciplinamento linear e rígido dos princípios.

Leis deterministas e unificadas com exigências mesmas para todas as escolas e dimensões do País, sem considerar as especificidades, as condições e nem mesmo as necessidades de cada unidade escolar, grupo, pessoa.

Leis, normas e dogmas dificultadoras do exercício da boa educação e, inconscientemente, facilitadoras da manutenção do poder e do privilégio de quem as faz, com vínculo permanente com a neutralidade ideológica.

A função da lei é, na verdade, regular, controlar e fiscalizar a execução do ato educativo pelo Estado. Visando a garantia de seus privilégios e benefícios, educando as pessoas a partir deste princípio norteador.

A lei regula a administração da escola, garantindo a continuidade do seu funcionamento à revelia da sua qualidade e da motivação dos indivíduos para frequentá-la.

Tendo a compulsoriedade e a obrigatoriedade legal de estudar como seu ponto de sustentação, independente do como, o que e para que explorar por meio dos estudos que realiza. A educação formal deixa de ser um direito e passa a ser uma obrigação,

cujo descumprimento deve ser punido por sanções estabelecidas pela própria lei.

Leis da educação elaboradas em conjunto pelos representantes do poder e os agentes educacionais, inclusive alunos, como a parte mais interessada.

Sendo flexibilizadas de acordo com cada realidade específica, de onde, de quando e de como são implementadas em cada prática específica.

As leis apenas orientam a execução dos conteúdos, programas e métodos gerais de trabalho que são flexibilizados e adequados a cada caso.

A lei deve nortear o ato educativo, incluindo a liberdade de ações dos seus agentes, o que já pressupõe o ato educativo em sua essência e operacionalidade: flexibilidade como teor fundamental.

A lei, em si, antevê as especificidades e condições de cada realidade e de cada escola. Possibilitando a gradualidade em sua execução.

Flexibilizando as exigências normativas para facilitar a existência e o acesso democrático a uma educação de real e boa qualidade para todos.

Leis que visem a facilitar a ação pedagógica de qualidade e com veiculação ideológica a serviço da população que se educa, em termos da sua conscientização real em vistas ao pleno exercício da sua cidadania (e não o contrário).

Legalizar a educação, não no sentido de controlar e punir, mas de facilitar e legitimar a sua ação rumo a processos qualitativos em busca das exigências culturais de cada época e cada realidade global onde se atua.

A lei deve versar sobre a qualidade da educação e do ensino, visando a orientar práticas pedagógicas consistentes, em função de motivar as pessoas para frequentarem uma escola que se preocupe em satisfazer as suas necessidades e, não, de compulsivamente, domesticá-las para o capitalismo.

“Não ensinar apenas o que já foi inventado. Mas, principalmente, ensinar e inventar”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

2 - Conteúdos e Programas

Prontos, acabados, estanques e desarticulados entre si e do processo evolutivo como um todo. Fragmentos da disciplina ensinada em nome da ciência e do conhecimento (fim da educação).

Distantes da realidade vivencial dos agentes da ação educativa, informações desconexas: “cultura inútil” em sua maior parte.

Impostos pela ótica de quem comanda o próprio processo (deliberação) e em função dos próprios interesses, da competição e da exploração fácil.

Articuladores da produção em série de bens, produtos, mercadorias e serviços (modelo de reprodução), adequados à sociedade capitalista em ascensão industrial/comercial/de negócios.

Instrução direcionada para o treinamento, desenvolvimento de habilidades básicas de interesse econômico-produtivo.

Aspectos parciais e superficiais da ciência e que interessem à formação pragmática e funcional da pessoa, para fins de produção, consumo e lucro.

Subsidiando, desta forma, a exploração do trabalho e do trabalhador pelos detentores do capital.

Elementos teóricos que visam a garantir a superficialidade sociopolítica dos indivíduos, tornando-os úteis ao processo de dominação ditado pelo capitalismo internacional e a globalização da economia dentro dos esquemas neoliberais e suas convenções.

O conteúdo ensinado é, em si, o fim da educação. É preciso que o indivíduo domine o conhecimento que se presta à perpetuação do poder: o saber é objetivo, determinado, inflexível e comprometido com o domínio do capital. Assim, os conhecimentos instituídos são apenas aos que servem à formação do trabalhador submisso e do consumidor em potencial. Educação para perpetuar o poder e a realidade que existe.

Flexíveis, abertos, em contínua evolução e integrados por uma axiomática comum, transdisciplinar e atual/futura. Sendo o pressuposto básico da educação das pessoas (meio de se educar).

Contextualizados às diferentes realidades vivenciais individuais/sociais. Personalizados ao momento, ao interesse, à cultura e à sociedade, considerando suas especificidades.

Negociados a partir dos interesses de todos os agentes. Adaptáveis, mutantes e de conformidade com a evolução histórica e as necessidades do momento.

Articuladores do desenvolvimento integral do ser (perspectiva de transformação) para a vivência individual e coletiva, com vistas ao favorecimento de avanços, conquistas e melhorias concretas para todos os indivíduos.

Elementos para o desenvolvimento global e integrado do indivíduo/equipe/sociedade de forma plena, integral, crítica, política e contextualizada.

Fundamentação sistematizada da ciência transdisciplinar por uma abordagem dinâmica, flexível, evolutiva e contínua para a formação integral da pessoa e a concretização das mudanças desejáveis e esperadas.

Concepções teórico-práticas cada vez mais profundas, buscando o domínio epistemológico sobre os vários saberes, seus sentidos, desenvolvimento, desdobramentos e resultados para o indivíduo e as realidades globais que o cercam, em sua plenitude. Saberes necessários a uma vida melhor qualitativa e quantitativamente.

O conteúdo que se ensina é um dos caminhos para se educar. Educação para facilitar a multiplicidade de escolha e de formas de aplicação do saber: o conhecimento é intersubjetivo, volátil, e, fundamentalmente, plural intersubjetivo e comprometido com as pessoas.

“Não há nada mais fatal para o pensamento do que o ensino das respostas prontas. E é para isso que as escolas existem”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

3 - Métodos e Técnicas de Trabalho

Centrados na figura do professor e facilitadores dos privilégios de quem ensina e comanda: (ensino/aprendizagem).

Fundamentados exclusivamente na indução psicológica para a reprodução instrucional dos conhecimentos necessários à perpetuação dos fatos sociais/interesses capitalistas.

Linearizados e massificantes, permeando uma ingenuidade ideológica não-perceptível de quem os utiliza. (instrumentos inconscientes de alienação das massas).

Exclusividade da racionalidade lógica (fechada, dura) para o domínio cognitivo e o máximo teor de reprodução do saber ensinado.

Massificados, mecanismos de treinamento ou adestramento eficiente do "aprendiz" que os recebe passivamente, para facilitar a reprodução do "ensinado" na prática cotidiana.

Prioridade quantitativa tendo como fim o cumprimento dos programas previamente estabelecidos por lei, não interessando o contexto ou a reação das pessoas.

Aplicação de normas e tática prontas, com o uso de manuais de ensino e recursos instrucionais clássicos, mecânicos e fragmentados. Facilitando, assim, a manipulação das pessoas.

Condução imperceptível do poder (do professor) sobre o aluno, aniquilando o seu teor pessoal de sustentação política e de criatividade.

Instrução do controle, da ordem, da disciplina, construindo os "pacientes sociais do futuro" e "marionetes teleguiadas" pelos poderes constituídos: do branco, do macho, do capital.

Favorecedores de benesses funcionais (espaço, tempo, etc.) à elite simbólica do processo de aprender (o professor) reforçando o modelo opressor/oprimido vigente na sociedade.

Facilitadores da aprendizagem, como prioridade: uma autêntica "ensinagem", voltados para o aluno: (aprendizagem/ensino).

Fundamentados na indução e dedução simultâneas, possibilitando a argumentação, criação e conclusão, numa abordagem de construção psicossocial de novos conhecimentos úteis e aplicáveis.

Atendem à complexibilidade das tipologias de raciocínios, personalizados e facilitando a consciência crítica para a participação transformadora do próprio saber, e, por consequência, da realidade.

Prioridade na racionalidade (lúdica e criativa) pela fusão e confluência dos processos cerebrais: razão, intuição, prática (pensar / sentir / fazer).

Personalizados a partir do conhecimento
das especificidades, ritmos, estilos, processos, desejos, motivações e necessidades dos indivíduos, grupos, turmas e da comunidade assistida.

Prioridade qualitativa do teor de aprendizagem, considerando as condições, a motivação e o contexto humano/social e suas complexidades.

Construção adequada de métodos, técnicas e recursos educacionais, considerando as diversidades históricas, tipologias e especificidades de cada caso.

Conjunto dos elementos, recursos e técnicas que favoreçam à captação e a construção histórico-crítica de saberes diversificados de forma criativa e autônoma.

Formas humanizadas de interagir na construção política do saber, construindo os "agentes sociais históricos do presente e do futuro" buscando a evolução, o crescimento, a educação de boa qualidade.

Redistribuidores de benefícios entre educadores e educandos e não criando vínculos ideológicos e simbólicos de dominação e poder: aniquilando consciências por meio da alienação das pessoas, mas favorecendo o seu desenvolvimento em múltiplas dimensões.

“A avaliação deve ser um instrumento rumo à melhoria e, não, à estagnação”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

4 - Instrumentos de Avaliação

Fiscalizadores da capacidade e das habilidades reprodutivas do aluno. Instrumentos de punição, segregação e domínio. A busca do erro para manipular a pessoa.

Mecanismos de controle ideológico e
centralização do comando (num autêntico poder de polícia): domesticação do raciocínio.

Norteadores dos princípios punitivos, reproduzindo o poder do dominador (professor) sobre os dominados (alunos) perpetuando a sociedade opressora.

Consideram apenas os resultados, os processos não são valorizados e os acertos são analisados como fatores quantitativos e estáticos (acertar é obrigação).

Provas, sabatinas, arguições e resolução de exercícios estruturais e complementares, de forma estanque, inflexível e exclusiva para a reprodução, o controle, a nota, a aprovação (se não for possível a reprovação).

Avaliação do professor sobre o aluno a partir do julgamento dos acertos e punição dos erros de cognição sendo só o que interessa: adestrar pelo conhecimento, mecanizar o pensamento.

Aceitação apenas da capacidade quantitativa de reprodução simples do conhecimento ensinado. Capacidade epistemológica não é considerada.

Avaliação para o contexto quantitativo e burocrático do resultado e da menção a ser auferida (meio de policiar) e o controle realizado, comprometido ideologicamente.

Classificam e segregam os que conseguem aprender dos que apresentam dificuldades, nominando-os de fortes ou fracos; aptos ou inaptados, sem considerar os fatores individuais e sociais. Negando oportunidades iguais para todos.

Instrumentos que comprovam apenas a linearização dos resultados mecânicos da aprendizagem ou a internalização do conhecimento:

registro/policiamento/punição/segregação das pessoas.

Facilitadores da aprendizagem e articuladores dos processos de ensino. Instrumentos de promoção humana centrados no aluno. Busca o certo para valorizar o seu agente.

Recursos de retrofeedback do trabalho dos educadores e educandos (análise da capacidade de educar) indicando falhas e defasagens de ambas as partes (“Ensinoaprendizagem” como processo único).

Norteadores dos princípios da promoção humana e valorização dos fazeres educativos globais para a interação na qualidade de vida.

Priorizam os resultados, incluindo os processos, valorizando as tentativas e entendendo o erro como fonte da construção do conhecimento (o erro é pedagógico).

Uso diversificado dos vários recursos disponíveis, de formas múltiplas, complementares e integrativas, considerando os teores e as condições individuais/sociais/contextuais/outras.

Avaliação do professor, dos colegas e auto-avaliação, valorizando todas as performances, tentativas e o processo em si.

Priorização da aprendizagem, valorizando a evolução genérica do agente educacional enquanto ser individual e social em desenvolvimento.

Avaliação para a reestruturação adequada dos processos gerais de ensinar e de aprender vendo a educação em permanente estado dinâmico.

Identificam falhas e defasagens quando estas acontecem buscando conhecer e considerar as diferenças individuais, ritmos, estilos e motivações.


Reconduzindo, assim, os procedimentos
pedagógicos possibilitando oportunidades iguais para todos. Não só provas, mas, com vários instrumentos de avaliar o ensino e o aprendizado das pessoas.

Orientam os passos gerais que possibilitam a melhoria dos processos e dos resultados educativos: crescimento/desenvolvimento/evolução.

“Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado. Eu aprendi com corpo e esqueci com a cabeça”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

5 - Performance Esperada do Aluno

Ordem, disciplina e subserviência aos controles impostos e às obrigações estabelecidas previamente pelo comando a que se subordina.

Respostas imediatas como resultado da aprendizagem (reprodução do ensinado) sem, necessariamente, contextualizá-las, refletir ou transformá-las.

Passividade e adequação por consenso aos esquemas impostos pelos comandos, mesmo não sendo os mais desejados: ajuste, subordinação ao domínio.

Raciocínio linear e cumprimento dos deveres, obrigações e normas determinadas de forma rígida, inflexível. Obediência, e aceitação, sem questionar nada, de preferência.

Rigor na capacidade de assimilação e reprodução dos conteúdos ensinados de forma mecânica e repetitiva, sem alterar os contextos.

Quietude, pontualidade, cumprimento dos deveres e obrigações de maneira subserviente, pacífica de acordo com a ordem definida pela escola (de sujeito para objeto).

Atendimento das exigências funcionais da instituição e dos moldes técnicos e burocráticos do funcionamento, da regra, da norma pronta, estática, imposta.

Cumprimento dos modelos de modo que não altere os aspectos gerais estabelecidos pela instituição escolar, favorecendo à mentalidade conservadora.

Adequação, obediência plena e postura de admiração aos superiores e à hierarquia do mecanismo institucional e tradicional, sejam eles quais forem.

Postura de aceitação e de respostas imediatas (se possível) aos comandos estabelecidos, regulamentando a execução inflexível do que for determinado (formação inconsciente do eterno oprimido).

Senso de justiça, participatividade, questionamento, visão crítica, evolução permanente e em todos os sentidos. Um ser criativo em mudança.

Crescimento em nível de processos e resultados de aprendizagem e educação (transformação pelo conhecimento): exteriorizando a nova cultura pessoal.

Articulador consciente de análises dos fatos sistematizados quando necessário, de acordo com os
próprios desejos (anseios/necessidades).


Raciocínio divergente, pensamento complexo, cumprimento negociado dos deveres e reivindicações dos seus direitos. Sendo sujeito ator da própria história. E não, um paciente do processo.

Capacidade de sistematização do saber e do conhecimento por uma abordagem epistemológica autônoma e própria, substituindo o escutar pelo produzir.

Cumprimento articulado dos deveres a partir da consciência crítica de sua práxis enquanto sujeito em evolução e, não mais, de forma ingênua, acrítica e parcial.

Iniciativas válidas na construção permanente do universo educativo como um todo integrado à vida e seus processos, resultados e esperanças de melhoras.

Postura de transformação se o modelo não estiver satisfazendo plenamente a todos os integrantes do sistema. Afinal, a educação é para o aluno e a escola, também.

Autonomia, liberdade, ação e participatividade na reestruturação dos processos e resultados educativos e vivenciais fazendo a frente às circunstâncias novas.

Postura de desenvolvimento integral. Nova performance para além da eficiência no pleno exercício da cidadania no presente e no futuro, buscando as melhorias possíveis do contexto e da plena cidadania (formação do ser político, crítico e contextualizado).

“A tarefa fundamental do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

6 - Papel do Educador

Autoridade central e responsável pela reprodução do conhecimento e da condução do saber e seus resultados. Detentor do poder de julgar, punir e decidir pelo aluno e seu futuro educacional.

Condutor absoluto das decisões, dos meios, normas e princípios (dono da verdade) de acordo com critérios pessoais inquestionáveis.

Representante autêntico dos poderes hegemônicos, avalizando, em sua prática, as benesses tradicionalmente constituídas no plano social e que são simbolicamente transferidas para o plano educativo.

Executor das funções instrucionais estanques, em nome do processo educacional. Indutor de regras, princípios, normas e conhecimentos disciplinados, conduzidos e cobrados por ele.

Cumpridor do seu papel dentro dos regimes contratuais e profissionais determinados pelo empregador, sem questioná-los.

Atender e cumprir programas, currículos e núcleos funcionais e burocráticos inerentes à sua função de profissional da "educação".

Deve atender aos regimes da eficiência instituída para o seu trabalho e o cumprimento de suas tarefas e normas que são estabelecidas pelo comando.

Satisfazer a organização acerca dos princípios funcionais visíveis, adequando-se aos esquemas impostos pelos regimes pelo mesmo poder institucional.

Instrutor, indutor de normas e conhecimentos que apenas interessam aos detentores do poder de decidir (gerente, técnico, pragmático). A função educacional é absolutamente complementar e acessória, sob a função técnica, administrativa e burocrática.

Transcende à função de facilitador da aprendizagem, promovendo as múltiplas dissensões do processo educacional numa autêntica parceria cooperativa e de trocas simultâneas entre todos, indistintamente.

Articulador de negociações para processos de decisões, normas e princípios de ação construídos contínua e coletivamente no ato educativo.

Agente de transformação e construção do fazer educativo, desencadeando a visão complexa do aluno, seus fins e estratégias nos sentido teórico e prático, de forma afetiva, lúdica, prazerosa.

Agente por excelência, exercendo as múltiplas funções em coerência com as dimensões paradigmáticas escolhidas e adotadas para o real benefício de todos os envolvidos direta ou indiretamente.

Consciente e cumpridor de sua missão por princípio, conduta ética profissional e compromisso político, associados. Não só técnico, instrutor ou professor, mas, educador.

Analisa, desdobra e orienta a transformação do processo com vistas à qualidade educacional devidamente contextualizada ao lado pedagógico.

Procura articular a eficiência, a eficácia e afetividade historicamente articuladas no que faz, contribuindo para construir a real educação, em todos os aspectos, associando competência à vontade política.

Exerce a sua conduta cumprindo dialeticamente os princípios organizacionais e políticos da sua função de educar/desenvolver verdadeiramente as pessoas.

Catalisador das múltiplas formas do conhecimento, facilitando aos processos de pensar, de desaprender, aprender e reaprender continuamente. A função de educar é fundamental e básica em todos os momentos da atividade humana e feita com bases críticas, contextuais e transformadoras.

“Seguindo-se ao tempo em que se ensina o que se sabe deve chegar o tempo quando se ensina o que não se sabe”.

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

7 - Gestão da Escola

Administração linear e descontínua com base na unidade de comando, na estrutura hierárquica e no padrão burocrático exigido por leis e normas impostas (a escola é uma empresa).

Desconexão entre as atividades-meio (burocráticas) e as atividades-fim (acadêmicas), gerando o eterno antagonismo (faz-e-desmancha) entre o administrativo e o pedagógico/acadêmico.

Ênfase nas exigências administrativas e técnicas, dando à gestão uma tipologia empresarial e com vistas a resultados desarticulados do contexto macro.

Centralização do poder, exclusão da autonomia dos agentes na definição geral e específica de políticas, diretrizes e normas de funcionamento e ação reproduzindo, assim o modelo da sociedade repressora vigente.

Rigidez das normas e dos métodos de ação cotidiana com base nos princípios norteados pelos níveis “superiores”, sem exceção.

Preocupação com a estrutura, as regras de funcionamento e a exteriorização burocrática de "possíveis" resultados e em consonância com os regimes constitucionais e econômicos de cada época.

A norma prescinde ao bem-estar das pessoas, sendo, que essas é que precisam adaptarem-se ao esquema técnico estabelecido (a pessoa deve satisfazer a norma) Tratamento mecanicista e framentário dos fatos.

Planejamento como função regimental apenas para atender aos pressupostos das que dizem do que é feito ou que se devia fazer. “Política das aparências” para garantir o funcionamento da escola dando respostas estatísticas a respeito das possibilidades da educação e do ensino.

Gestão cíclica, contínua e participativa com base na construção coletiva, na flexibilização hierárquica e na minimização da burocracia, com fins educacionais (a escola é uma escola).

Integração permanente entre as atividades meio-e-fim, sendo ambas interrelacionadas, recíprocas e mutuamente facilitadoras, em processo de evolução permanente.

Ênfase nas características acadêmicas e educativas, dando à gestão uma tipologia didático-pedagógica visando a priorização dos processos aos resultados finais de evolução e crescimento.

Poder altamente descentralizado a partir da autonomia real de todos os agentes (principalmente o aluno) na definição, até em nível de detalhes, das política diretrizes e normas de ação e conduta.

Flexibilidade/elasticidade de normas, métodos e ação. Adaptando, se necessário, os princípios norteadores em todos os níveis hierárquicos.

A preocupação com a conjuntura e as normas deve facilitar o funcionamento acadêmico para que processos e resultados independam da formalização burocrática, de sua apresentação ou aparência.

O bem-estar das pessoas que é o princípio definidor das normas e do esquema técnico Sendo, a flexibilidade, o embasamento fundamental de todo o processo (a norma é para satisfazer a pessoa). Tratamento harmonioso e humanístico dos fatos.

Planejamento utilizado como instrumento realmente facilitador da ação e do projeto pedagógico a ele inerentes e concretizados na prática cotidiana da escola. “Política da essência”, conduzindo processos educativos reais no tocante à qualidade (e a quantidade) de bons serviços prestados à educação, às pessoas e à sociedade. Educação real vista e realizada como processo facilitador do desenvolvimento das pessoas, da criatividade, da liberdade de opinião e de escolhas.

"Libertar o pensamento para que eleve sobre o desconhecido, construindo as idéias. É com elas que o mundo é feito".

Saída do Antigo Paradigma

(do Ensino)

Entrada no Novo Paradigma

(da Educação)

8 - Fins de Educação

Alcance da instrução e dos conhecimentos mínimos necessários à adequação aos esquemas impostos pela sociedade e as exigências feitas por cada sistema especificamente (para nós, o capitalista).

Padrão aceitável de reprodução do saber de forma pronta, acabada, definitiva e não alterada. Numa autêntica visão de consumo de produto e de resultado.

Obter os requisitos necessários à aprovação final, de conformidade com os regimes institucionais impostos pela estrutura educacional e social, com respaldo do desenvolvimento tecnológico: industrial/econômico/produtivo.

Ordenar o indivíduo segundo as disciplinas e normas clássicas tradicionalmente estabelecidas pelos valores morais e culturais e, obviamente, a serviço do poder constituído.

Conduzir princípios e conhecimentos induzidos por um regime centralizador dos processos educativos visando reproduzir valores impostos pela elite dominante em todos os sentidos.

Sedimentar as bases conceituais e estáticas de conhecimentos e comportamentos durante um certo período de vida, adequando a pessoa aos interesses da estrutura vigente, sejam eles benéficos, ou não.

Processo contínuo de evolução permanente para o posicionamento, a crítica, a reconstrução dos processos individuais e coletivos de aprender e de viver com a melhor qualidade possível.

Crescimento interno, percepção de novos valores e condutas favorecendo ao desenvolvimento social e cultural direcionados à vida como um todo (e não, apenas, ao mercado de trabalho).

Acesso às diversas formas do conhecimento, descobrindo e explorando recursos e meios de melhorias da qualidade da vida humana em sociedade da qual faz parte.

Possibilitar a visão crítica para a reordenação e transformação do meio, do ambiente, das normas, dos princípios e da cultura, com vistas aos ajustes necessários para se viver melhor e mais plenamente.

Abrir espaços e perspectivas para a produção conjunta e por todos os agentes, dos elementos e conhecimentos necessários ao atendimento das necessidades individuais e sociais.

Dinamizar o desenvolvimento global e contínuo da pessoa durante toda a vida, de forma dinâmica, aberta, flexível, em perene evolução e mudança.

Qualificar a pessoa para a conquista da autonomia, da liberdade intelectual, da capacidade crítica de enxergar o mundo e suas relações, constituindo-se um ator consciente da sua história individual e social.

Em Síntese

Políticas, diretrizes, conteúdos, professores e gestão para adequarem as massas sociais aos critérios da exploração capitalista.

Favorecendo aos interesses burgueses e institucionais historicamente estabelecidos e aceitos como certos naturais e legítimos.

Harmonizar os sistemas didáticos e pedagógicos para favorecer ao desenvolvimento integral das pessoas. Capacitando-as para a busca de melhorias concretas em sua qualidade de vida, transformando-as em agentes de mudanças, quando necessárias e da conquista de seus desejos, metas e ideais.

Fonte: Paradigmas em educação no novo milênio, de Antonio da Costa Neto (UDF – Centro Universitário do Distrito Federal – Brasília/2011). Publicado pela

Editora Kelps – Goiânia – Goiás / 3ª Edição