Antonio da Costa Neto
Não que eu mereça,
mas gosto de me sentir amigo
de Manoel de Barros.
E como dois moleques de cabelos brancos,
nós brincarmos de inventar palavras:
- colocá-las para voar;
- fazer cócegas na barriga delas;
- encher as mãos e as fazer derramar
como se fossem água fresca, limpa e aos borbotões.
Nós as bebemos e elas escorrem pelo queixo,
matando a sede de beleza, de sabedoria.
Depois, as arranjar em filas como formigas
que, em procissão, somem no meio da aboboreira
de flores amarelas e pesados frutos no chão.
Nós dois e as palavras brincamos com o barro
fazendo esculturas, passarinhos, borboletas
e outros seres iluminados de braços e asas abertas.
Prontos para invadirem o infinito das almas.
Aí, nós voamos com elas, no tapete mágico
que a gente tece dentro da mente.
Cruzando os fios dos pensamentos e dos sonhos,
alinhavando sílabas, pontuando versos.
E com tudo isso, faremos um manto imenso e brilhante.
Só de poesia, renda, brocados e fitas, repleto de muito
poder e glórias para vestir este mundo
nu, ao relento e morto de vergonha.
Meu amiguinho, muito melhor do que eu,
consegue com elas, tudo,
como o senhor, o mago,
a quem elas, prontamente, obedecem e atendem.
Enquanto isto, eu, aprendiz,
vou tentando correr atrás das palavras,
remendá-las em poesias
para tentar contar histórias
e, se possível, encantar a vida.
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(*) Do livro, ainda inédito: Poemas para os anjos da terra.
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