O Brasil está, de norte a sul, repleto de manifestações. As pessoas estão nas ruas e o grito por melhores condições de vida, educação, saúde, transporte, saneamento ecoa num coro forte, uníssono e antes nunca ouvido nos contornos de nossa história. Mas, enquanto isto o que temos são as copas de futebol, os gols que nos causam as alegrias efêmeras e passageiras, mas que são supra valorizados pela nossa cultura, nossa economia e nosso governo. Mas isto não se dá por causa do gol, mas da extrema força psicológica no sentido de amortecer as consciências e neutralizar a dor dos conflitos reais por que passa a sociedade brasileira, estes sim, deveriam ser superados. Mas o governo dos trabalhadores prefere investir nesta ilusão passageira e o faz da forma mais dissimulada possível, por meio de suas ações burocráticas incoerentes e profundamente elitistas. E nós, o povo, precisamos, mais do que nunca, compreender isto (Veja neste blog o texto Criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista, de V. Bracht e, certamente, você entenderá melhor esta questão).
Claro que é justa a presença do futebol, da diversão e do prazer para o povo. Mais tais aspectos não podem ser mais importantes e valorizados do que critérios de vida, saúde, educação, cidadania. Quanto ganha um jogador que dribla, encanta e faz gols que não levam a nada? Quanto ganha um professor, um médico por melhor profissional que seja, um pedreiro, uma cozinheira? Ou seja, quem trabalha pela e para a solução dos problemas reais do povo nada vale, não é mito, celebridade, nada. Pois é preciso, simbolicamente, que o torcedor se veja na pessoa do ídolo, do atleta, que, na sua cabeça, o representa. E se meu ídolo não tem problemas financeiros, habitacionais ou de saúde, é claro, que todos eles doem menos na minha pela. É a força da mente, o fator psicológico que nossas elites fascistas sabem usar como ninguém. Daí a fome, a miséria, a opressão, a corrupção, o desmprego serem aceitos e tolerados muito mais facilmente. Por isso, nossos governantes exercem bem as suas funções de canalhas e investem tanto no futebol, na construção de estádios e no pagamento de seus mitos.
Mas, voltemos às manifestações, que, segundo nossa mídia e autoridades, são compostas de manifestantes, badeneiros e vândalos. Mas será que manifestações prontamente pacíficas e bonitinhas levariam a alguma forma de mudança, de transformação na ordem das coisas? Creio que não. Manifestantes pacíficos serveriam só de palhaços, de bobões servindo de espetáculos dantescos como que atirados às covas dos leões famintos da antiga história da humanidade. Assim, todos são manifestantes, que o fazem de diferentes formas. Pois vândalos, baderneiros e vagabundos não participam de nenhuma forma de manifestação ou de protesto. Eles trabalham em palácios, moram bem, comem melhor ainda e estão em pleno gozo dos privilégios, pelos quais, os outros brigam. Tudo, portanto, são formas de se protestar e que não nascem de formas gratuitas, tudo tem suas causas.
Se tivéssemos educação, descência, cidadania, não estaríamos nas ruas, prontos e misturados ao quebra-quebra, dos gases lacrimogênios, das balas de borracha e da truculência de uma polícia barata, mal preparada e, por isso mesmo, vendida.
Claro que não devemos estimular as formas mais agressivas de manifestações, mas entender as razões do porque elas acontecem. Elas não são causas de nada, são apenas o reflexo das ações dos irresponsáveis que governam, que orientam, que mandam. Baderneiros, vagabundos e vândalos são os responsáveis por tais acontecimentos e que estão, pela própria estrutura que criaram, protegidos de seus efeitos no cotidiano. São pessoas que dizem nos representar mas que estão em outros status: ganham aos tubos, tornam-se ricos, elitistas, poderosos, e, como tal, só fazem o que interessam à manutenção de suas próprias zonas de conforto.
E nisto que precisamos nos concentrar, entender e mudar. Mesmo que, para isto, tenhamos que dar boas vindas a toda a diversidade de manifestações.O que buscamos são condições de vida e dignidade. Entendamos o raciocínio, a conduta e a história. Desçamos, portanto, do muro. Pois, só assim é que poderemos fazer alguma coisa por nós, pelos nossos. Congregando, assim, as mudanças com as quais tanto sonhamos.
(Antonio da Costa Neto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário