Já fiz cosquinha na sola do pé da minha irmã só pra ela parar de chorar. Machuquei-me feio, aprendendo a andar de bicicleta. Escutei conversas dos moleques, descobri coisas, e achava que eu era bobo. E era. Mas bem menos do que sou agora. Fui passar minha camisa e queimei o dedo. Escrevi poesia em guardanapo e quase morri afogado no mar, por mais de uma vez. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, e depois, pra tirar aquilo pregado das mãos e dos dedos, foi fogo.
Já falei com Deus, com o espelho, conversei e converso sozinho. E até já brinquei de ser bruxo, padre, homem, mulher. Brinquei de ser quase tudo. Quis ser astronauta, médico, violonista, bailarino, mágico, caçador, palhaço e trapezista. Sempre tive uma vocação artística, meio inexplicável. Fiquei atrás da cortina e esqueci os pés pra fora, como o gato que se esconde e deixa o rabo à mostra. Tentei fumar maconha, passei mal à beça e só queria que o efeito passasse. Nunca mais faço isso.
Experimentei todas as formas de fazer sexo e não me encaixei em nenhuma. Hoje prefiro a sublimação: fazer pesquisas, pescar, ir pra roça, escrever livros, pintar quadros, ler e fazer poesia, cuidar de cachorro, de gatos, criar galinhas, falar palavrões. Passei trote por telefone. Menti, muito só pra dar risada depois. Tomei banho de chuva e acabei me viciando. Roubei beijo, bolacha em supermercado, já cometi pequenos furtos, sim. Fiz xixi na cama várias vezes e cocô nas calças, algumas.
Confundi sentimentos e mandei a pessoa certa ir embora, para sempre... Fiquei com depressão, tomei remédio controlado, fiz terapia e abandonei sem receber alta. Peguei atalho errado, carona no rabo do trem-de-ferro e continuo andando pelo desconhecido, pelo mundo. Já raspei o fundo da panela de galinhada e enfiei o dedo no arroz doce escondido, na cozinha. Cortei-me fazendo a barba apressado. Chorei ouvindo música no ônibus e por ver criança pobre pedindo esmola para comer. Tentei esquecer algumas - muitas - pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. E decepcionei-me muito com todo o tipo de gente. Inclusive, e, principalmente, comigo mesmo.
Subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, e em árvores, pra roubar fruta. Caí da escada de bunda. Vi a calcinha da minha professora e fiquei excitado. Mas na época eu não sabia o que era isso e daí, não rolou nada. Fiz muitas juras eternas. Escrevi no muro da escola, da igreja, da quitanda da esquina. Chorei sentado no chão do banheiro. Fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Arrebentei o pé de chuchu do meu avô e ele ficou cuspindo faísca.
Já corri pra não deixar alguém chorando. Fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Vi pôr-do-sol cor-de-rosa-e-alaranjado, me joguei na piscina sem vontade de voltar. Bebi tanto uísque até sentir dormentes os meus lábios. Olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Senti medo do escuro. Tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar, depois, de manhã, fiquei com preguiça. Apostei sozinho em correr descalço na rua e perdi de mim mesmo. Gritei de felicidade. Apanhei rosas num enorme jardim na casa de uma vizinha que era uma fera. Colei muito na escola e dei cola pros amigos. Sempre fui bom nas humanas e péssimo nas exatas. Passei em conursos, vestibulares e nunca assumi. Mas aprendi a ser feliz com a vida que tenho. E isto é muito bom. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.
Deitei na grama de madrugada e vi a lua virar sol. Fui andando até me cansar atrás do arco-iris. Enxergo o mundo pela ótica da poesia, do belo e minha vida é esperar uma festa que nunca chega. Mas felizmente já sei como me enganar e renovar a minha esperança, minha utopia a cada novo amanhecer. Ainda bem. Chorei por ver amigos partindo - sou um verdadeiro chorão - mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem limites. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes mais íntimas e guardados num baú chamado coração.
E agora, que os cabelos ficaram brancos e não tenho mais o mesmo vigor de quando fiz todas estas coisas e muitas outras de que nem me lembro, interrogam-me, encostam-me na parede e gritam: "Qual sua experiência?" Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência?... experiência?... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para os que formulam esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova? E se aquele que passou por todas elas já não é mais a mesma pessoa, justamente por causa das experiências que o transforma a cada momento, a cada dia?
Realmente, estamos diante de um paradóxo. Experiênica, não é nada e o melhor mesmo, seria tirar esta palavra do dicionário. Ou trocá-la por uma outra que tenha um significado bem mais infinito, intersubjetivo, volátil, maleável. Enfim, algo que não existe. Sejamos inteligentes, espertos, vivos e acompanhemos os ritmos da natureza. Vamos deixar a experiência de lado. Ela não existe, pois tudo transcende, muda, sendo esta a verdadeira dinâmica da vida.
Antonio da Costa Neto
Um comentário:
olha meu camarada vc não existe ...Parabéns pelo seu conhecimento ,está vou levar de referência aos meus colegas da faculdade e depois te conto o que eles falaram sobre estás experiências ok....que vc mesmo dotou para o mundo..sou Guadalupe moro JF/MG e meu padrasto era o Estacio Rodrigues Coelho (In memorian)de Virginopolis..famoso Tarcim.
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