Eu, que do alto do meu mais de meio século de vida pensei que não mais passaria por surpresas tão negativas e acreditava ainda mais, que no campo da educação, já teria visto todos os atrasos e ações retrógradas possíveis, mas ainda coonsigo me surpreender. Eis que, de súbito ocorre na minha frente esta história de separar os alunos de algumas escolas de Goiânia em turmas dos bem-sucedidos, os exemplares convictos, os pontuais, assíduos; os que tiram as melhores notas. Segregando, de forma brutal os que não se encaixam em nenhum desses grupos. Como se as escolas fossem a melhor coisa do mundo e ensinassem o mais sublime dos conhecimentos. Conduzissem um saber inquestionável. Coitadas, como permanecem ingênuas e cegas.
Pior ainda, vi educadores que deveriam entender e ser sensíveis às questões humanas, perceber a dinâmica psicológica; defenderem a competição exacerbada entre alunos, uma vez que o mundo que aí está é igualmente competitivo e - segundo esta falácia mais que violenta - nenhum lugar deveria ser melhor do que a escola para ensinar o aluno a competir, para assim vencer na vida, ganhar dinheiro, ser um futuro empreendedor. Não estaria a verdadeira saída justamente em sentido contrário? Já não temos empreendedores competitivos demais e cidadãos éticos e felizes de menos? Mas os educadores, coitados não conseguem entender isso. Talvez até propositalmente...
E quem disse que o que a escola ensina é o conhecimento que de fato interessa para a realização plena das pessoas, a melhoria da sua qualidade de vida e a construção de um mundo melhor? Acho até que muito pelo contrário, os alunos que hoje, muito bem aprendem o que as escolas frias, desumanas e descontextualizadas ensinam, talvez sejam os mais fadados à infelicidade, à destruição do ecossistema, à perpetuação de todas as crises e da infelicidade que a cada dia se faz mais presente e mais próxima de todos nós e das formas mais distintas e prosaicas.
Isto me lembra um amigo meu que sempre presenteava com uma bela bicicleta, um vídeo game ou mesmo uma boa viagem de férias os seus filhos que eram reprovados. E dizia: - menino que é bom na escola não presta para a vida. E hoje, que são adultos, vivos e felizes, fica então, pela lógica de tais fatos, constatada a sua razão plena.
Como educador, acredito mesmo que já passou muito da hora da educação e da escola buscarem soluções para os problemas complexos que enfrentam, não mais de forma simplista, linear e isolada. Mas enfrentando as suas dificuldades com a visão complexa e multidimensional que elas requerem. Havemos de encarar com muito mais seriedade estas facetas e tendo a exata noção das nossas responsabilidades e suas duras conseqüências pela longa história da humanidade.
Separar os mais, do não-aptos para este aprendizado pequeno e medíocre, é, no mínimo, uma ação segregadora, violenta, discriminatória e que pode até dar bons resultados para alguns do ponto de vista da retenção, do domínio e, mais ainda, da reprodução de um conhecimento, restando saber para que e para quem ele serve, ele se presta. Quanto aos demais, que se sentirão humilhados, rejeitados e perdedores, certamente se arranjarão como puderem, surgindo no seu inconsciente formas de medo, sarcasmo, dor, sofrimento e mais um sem número de malefícios que se espalharão por todos os meios em que estas pessoas vierem a atuar tanto no presente como nos futuros próximos e longínquos de suas certamente pobres e infelizes vidas.
Assim, nossa educação estará sujeita a dois méritos que são só dela: primeiro o de ensinar bem a um grupo de "inteligentes privilegiados", saberes infertéis, sem nenhuma utilidade para a preservação da vida e a conquista de sua melhoria em sentido amplo - a desprezível cultura inútil. Enfim, ensinando bem para perpetuar o mal. E depois, segregando e humilhando os que certamente poderiam aprender um tanto melhor se ela se propusesse a ensinar o que de fato as pessoas precisam aprender para viver com, dignidade e perpetuar o bem no mundo.
Antes de segregar a escola tinha que repensar profundamente a filosofia que compõe seus métodos, suas formas de trabalho, sua ideologia e seus fins não-confessos de manter a exploração entre os humanos, garantindo assim a riqueza de poucos pela socialização da miséria eentre muitos, o que ela sabe fazer com a maior competência, inclusive, camuflando o seu cotidiano, dissimulando suas táticas e revestindo de cordeiro o lobo faminto e violento que nela atua pelos interesses da pequena burguesia, das grandes fortunas e de um capitalismo caduco, explorador, violento e desusado.
Ainda insistimos na subida íngrime do morro, quando a bem da verdade o que temos de percorrer é o caminho de volta. Ao invés de investir na competição, precisamos ensinar a cooperar, associar a competência à ação amorosa, a eficácia profissional ao respeito às diferenças, aos ritmos, aos estilos, às formas de aprender, fazer, sonhar, construir utopias e alcançar, quem sabe, ideais mais inteiros, mais plenos e mais lúcidos, construindo, por fim, uma sociedade melhor e mais justa.
E, de novo, nosso Goiás se presta ao escárneo, à humilhação, aos métodos draconianos na antiga grécia espartana do Séc. XVIII, à exposição ao ridículo num tempo em que a tecnologia já muito avançada e as descobertas da ciência e da psicologia modernas deixam sobrar espaços para o entendimento mais que profundo destas relações, seus processos e a sua interferência na mente das pessoas. É a prova mais que evidente da necessidade de se revolucionar a educação e a escola, de se educar pelo e para o amor. Mas ela infelizmente continuam sendo administradas pelos representantes autênticos da pequena burguesia. Por pedagogogos escolhidos a dedo, pois são capazes de manipular este espaço, e, cinicamente, nele tudo fazerem para perpetuarem seus privilégios sociais, sem refletir nos desgastes e nas misérias que perpetuam com seus atos e omissões.
Não deveríamos há muito, educar e instruir as criançãs, os jovens para o progresso material simplista, mecânico e destrutivo, mas para mais vida. E para que ela seja vivida com abundância de sonhos realizados.
Para todos, indistitamente, e não só para os que têm a reconhecida paciência para aprender e reproduzir aquele conhecimento grandioso que é como aqueles nabos gigantescos que os agricultores norte-americanos costumam cultivar para ganhar os prêmios nas exposições que lá realizam. São belos, robustos, coloridos e enchem os olhos. Mas são secos, duros, insípidos e mastigá-los é como comer isopor. Portanto, são completamente desnecessários. Não servem para coisa nenhuma.
Antonio da Costa Neto
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