Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro:
- contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.
************
A de muito que na corruptela onde a gente vivia
Não passava ninguém
Nem mascate muleiro
Nem anta batizada
Nem cachorro de bugre.
O dia demorava de uma lesma.
Até uma lacraia ondeante atravessa o dia
Por primeiro do que o sol.
E essa lacraia ainda fazia estação de recreio no circo das crianças
a fim de pular corda.
Lembrava a tartaruga de Creonte
Que quando chegava na outra margem do rio
as águas já tinham criado cabelo.
E como não se tinha nunca nada para fazer
o povo do lugar ficava parado
na porta da Venda
De Seo Mané Quinhentos Réis
que tinha esse nome porque todas as coisas que vendia
custavam o seu preço e mais quinhentos réis.
Seria qualquer coisa como o Caixa Dois dos Prefeitos.
O mato era atrás da Venda e servia também para a gente desocupar
Nem as emas solteiras que despejavam correndo.
No arruado havia nove ranchos.
Araras cruzavam por cima dos ranchos
conversando em ararês.
Ninguém de nós sabia conversar em ararês.
Os maridos que não ficavam de prosa na porta
da Venda
Iam plantar mandioca
Ou fazer filhos nas patroas
A vida era bem largada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário