O cachorro de Bruna Lombardi tem pêlos amarelados e olhos azuis. Ela mesma tem olhos verdes - apesar de algumas fotos dizerem que são azuis. Seu marido, o ator Carlos Alberto Riccelli, já ficou grisalho, mas continua com o corpo sarado. O único filho do casal tem pinta de galã e mandou bem na estréia como ator e diretor-assistente no recém-lançado filme dos pais, O Signo da Cidade. A família mora entre São Paulo e Los Angeles. E Bruna continua linda com mais de 50 anos e nenhuma plástica. Ela recebeu a reportagem da Tpm disposta e sorridente. Durante as fotos, seu celular não tocou, ela não falou sobre outros compromissos e quis saber sobre toda a equipe. A exigência da leonina era apenas por naturalidade.Para garantir isso, fez questão de mostrar ao cabeleireiro como enrolar seus cachos. Só que nem tudo é perfeito e, no primeiro click, o clima pesou. Bruna não deixava ninguém encostar em seu cabelo e o sorriso já não convencia.Até que bateram os cinco minutos e a atriz molhou os fios loiros, que demoraram quase uma hora a tomar forma."Eu não estava me vendo naquele penteado. Não faço nada só pela imagem, tem que ser de verdade", diz, sentada no chão.
Pessoa de não-númerosFotos prontas, voltamos ao papo. A atriz não liga para números. Não sabe dizer há quantos anos é casada com Riccelli (seu filho tem 25 anos) nem quanto pesa. Não usa relógio nem lembra que livros leu. "Não contabilizo a vida. Gosto de viver o momento", explica. Talvez por isso, se confundiu ao confirmar à reportagem da Tpmque tem 50 anos, quando todas as fontes pesquisadas atestam 55 (ela teria nascido em 1º de agosto de 1952). O fato é que Bruna está ainda mais bonita do que já era na época de modelo, ou quando posou nua, há 16 anos.Mas, desde que Bruna Lombardi virou nome auto-explicativo, outras pessoas ordenaram os anos de sua vida. Aos 15, a garota que ganhava concursos de poesia e andava com os meninos na escola virou modelo. Em 1977, estreou como atriz em Sem Lenço, Sem Documento, da Globo. No total, foram oito novelas, quatro minisséries e seis filmes. Além disso, comandou durante dez anos o programa Gente de Expressão na TV Manchete e, depois, na TV Bandeirantes. Foi quando entrevistou figuras como os atores Dustin Hoffman e Kevin Costner e Harrison Ford. Bruna escreveu três livros de poesia, dois romances e, agora, lança O Signo da Cidade, segundo longa em que assina o roteiro (o primeiro foi Stress, Orgasms and Salvation). Bruna nunca foi habituée de revistas de fofoca. Sabe-se que ela é linda, simpática, inteligente e tem uma "família feliz". Mas a mulher que não demonstra insegurança, adora plantar árvores, protege os animais e busca o autoconhecimento não é uma personagem, nem sua vida um conto de fadas. Não existe milagre. Tudo é uma questão de coerência. Ou de incoerência.
Tpm. Há incoerência na vida de Bruna Lombardi? Bruna Lombardi. Meu temperamento. Se você estiver na minha casa enquanto trabalho, vai ver que sou superzen. Mas às vezes me dá uns cinco minutos, tem um lado meu que é descontrolado, meio italiana.Me sobe o sangue se alguém falar ríspido. Vou dar um exemplo: uma vez eu estava num posto de gasolina na estrada e vi um caminhoneiro jogando pedra num cachorro. Desci do carro... O Ri falou que só viu uma criatura pequena fazendo assim [apontando o dedo] para um gigantão.Talvez essas perdas de controle tenham te feito bem, afinal, você chegou aos 50 mais bonita que aos 30. Como construiu sua vida até aqui? Olha, qualidade de vida é fundamental. Eu entrevistei muitas mulheres no planeta inteiro e vi muitas lindas que tinham uma espécie de tensão. Quando a gente fica tensa, fica feia. Imagina a vida inteira assim. Se você não busca equilíbrio, é complicado.Você disse que não contabiliza a vida e se esquece do que passou. Como é isso? Não sou uma criatura de guardar memórias. Outro dia, o Ri me mostrou um livro e falou: "Você lembra desse livro?". Eu falei: "Não". Era O Livro dos Segredos, do Osho. Ele perguntou: "Você nunca leu?". Eu falei: "Não lembro". Ele falou: "Só que você fez o prefácio dele". Quando li o prefácio, achei tão maravilhoso. Tão certo com o que eu achava naquele momento. Uma amiga minha falou: "É muita coerência". Mas eu nunca me achei coerente. Você nunca fez plástica mesmo? Vou fazer em breve [risos]. Tô brincando, mas vou fazer, sem dúvida. Um lifting na hora certa. Quando você descobriu que era bonita? Descobri isso de tanto que me falavam. Mas nunca fui encanada. Quando era modelo, eu ia fazer foto de uniforme de escola, usava rabo-de-cavalo. Me arrumavam inteira, fazia a foto, pra mim era um personagem. Daí me desmoronava inteira e voltava de uniforme pra casa. Como começou a ser modelo? Eu fazia aula de dança, e um cara de uma agência foi numa apresentação e me convidou pra fazer umas fotos. Aí foi muito rápido, eu até queria meio que me esconder... Era tímida? Não, eu era moleque. Lacinho, bolsinha cor-de-rosa, não eram meu estilo. Eu andava com os meninos, ia para a rua. Como foi sua infância? Eu era curiosa, queria viver tudo, acelerada. Sou filha temporã, meu irmão é dez anos mais velho. Meu pai era cineasta. Minha mãe, atriz. [Bruna é filha do diretor de fotografia Ugo Lombardi e de Yvonne Sandner]. Tínhamos grandes conversas. Uma família italiana, em que todo mundo sempre falou junto. Foi na primeira vez que assisti a um filme americano que vi que uma pessoa falava e a outra ouvia. Aí dava uma pausa, a outra respondia. Falei: "Que engraçado! Eles param e ouvem". Por que seu pai veio para o Brasil? Veio com minha mãe e com meu irmão nos anos 50, quando vários técnicos de cinema da Inglaterra e da Itália foram convidados para montar a Vera Cruz aqui. Ele era um aventureiro que saiu de Roma para isso. Trabalhou com Fellini, Rossellini, Vittorio de Sica. Veio para o Rio, onde nasci. Com uns 8 anos nos mudamos para São Paulo.
Aos 25 anos, Kim estréia como ator em O Signo da Cidade, dirigido pelo pai e com roteiro da mãe; Bruna atesta o talento no papel de Diadorim, uma mulher que se passa por homem na adaptação de Grande Sertão: Veredas para a TV, em 1985.
E como você era na adolescência? Muito atirada para as coisas. Tenho um lado de me jogar e, ao mesmo tempo,uma coisa para dentro, para coisas que me interessam de verdade. E eu já era assim pequena. No pré, ainda não conhecia livraria, mas já ia para a biblioteca da escola. As colegas já pediam para eu escrever ensaios para elas. Fui reconhecida rápido. Era a única Bruna da escola, praticamente do país. Quando você decidiu ser atriz? Cedo. Fiz jornalismo e propaganda e marketing, mas ser atriz era um caminho natural por causa dos meus pais. Talvez por eu ter começado a trabalhar como modelo também. Um te maquia, outro te veste, você é personagem das pessoas. Eu nunca fui aquela menina que sonha em ser modelo, atriz. Tudo na minha vida veio antes de eu querer. Até o marido [risos]? Sempre fui de namoros longos, mas o Ri mudou tudo [Bruna conheceu o marido durante as gravações da novela Aritana, em 1978].Sua relação com o Riccelli passa uma imagem de ser perfeita. Vocês são lindos, inteligentes, trabalham juntos... E é assim mesmo, a gente não está mentindo. Para você ter uma idéia, na minha casa quase não tem parede. Estou ficando cada vez mais transparente. E o que o Ri e eu somos juntos é de verdade. É difícil você encontrar uma pessoa e acertar o passo. O Ri e eu crescemos juntos. É uma sorte, um pequeno milagre. Não sei como se constrói uma relação. Sei é que tem trabalho, não vem pronto. E até hoje fico perplexa com o olhar dele para mim. É legal ter alguém que te olha apaixonadamente.Você planejou isso? Nunca. Nem nos meus sonhos mais selvagens [risos]. Não fui criada para casar numa igreja de branco, tanto que não casei. Aliás, nunca me casei. Meu sonho era viajar, conhecer lugares remotos, ser a primeira a pisar em territórios. Imaginava que talvez fosse uma grande repórter. E nunca pensei que teria alguém para compartilhar minha vida. Imagina o quanto me surpreende a vida que tenho! Você teve só um filho por opção? Porque eu quis. Minha vida era complexa e eu achei que ia dar conta de criar muito bem um.A gravidez foi planejada? Não, foi surpresa. E me dei ao luxo de parar de trabalhar. Fazia umas fotos, umas campanhas, ganhava uma graninha, mas trabalhar mesmo não trabalhei. Depois de três meses que o Kim nasceu, precisei voltar à ativa porque tinha contrato. Aí me joguei na vida de novo e fui criando o Kim.Como é a relação de vocês? Nunca fui em busca dos papéis sociais que uma família tem ou parece que tem. Nunca falei: "Agora o papel de mãe, eu preciso agir dessa maneira", ou o papel de esposa. Não achava que eu tinha que preencher essas lacunas sociais. Então, minha relação com meu filho sempre foi quase de amigos. Em nenhum momento essa relação atrapalhou sua autoridade como mãe? Se você tem uma autoridade, ou ela é liberal demais, daí vem a idéia do limite, ou ela é limitada demais, daí vem a rebeldia. Se você coloca como: "Vamos ver, é a primeira vez para nós dois", não precisa impor limites. Sempre teve muita conversa, troca.
Estamos falando de papéis. Hoje os papéis estão confusos nas relações. Por exemplo: quantas vezes nos ofendemos se o cara quer pagar a conta e, ao mesmo tempo, cobramos uma postura de cavalheiro em outra situação? Acho lindo isso nas mulheres, essa coisa confusa que a gente é. O homem que tem humor para olhar para isso é bacana.De onde veio a idéia para o filme O Signo da Cidade? Queria contar várias histórias, com muita gente e muitos temas. Entre outras coisas, queria falar sobre como a vida da gente é conectada. Não adianta eu ser feliz sozinha, nenhum homem é uma ilha. Como você encara as possíveis críticas negativas ao filme? Sabe que nunca penso nisso? Na estréia na Mostra do Rio, muitos homens choraram [o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo, confessou, no blog do Estadão, que chorou no filme de Bruna]. Isso mostrou que o filme derruba defesas. O Fernando Meirelles disse que, se um personagem não te pega, vem outro e,"pim", pega. Minhas coisas têm sido acima do que espero. Imagina, fiz a letra de "Sozinho na Cidade", o Ri fez a música e o Caetano gravou. Também fiz a letra de "Sorte", que a Maria Bethânia gravou. É difícil acreditar nos dois interpretando letras minhas no filme.Quando você atua, tem alguma vaidade na escolha de seus personagens? Não. Já fiz vários trabalhos, como Diadorim [personagem de uma mulher que se passa por homem, na minissérie adaptada do clássicoGrande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa], em que precisava estar medonha. Mas teve momentos em que muita gente falava: "Você precisa se enfeiar pra ser levada a sério". Meus editores falavam que eu não podia misturar meu lado bonito, glamoroso como lado escritora. Mas não me prendi a essas jaulas para ser aceita.E, na vida, você é vaidosa? Ah,todo mundo é. Mas meu sonho é ser mais vaidosa. Porque sou muito trabalhadora, então sou vaidosa "espelhinho do carro", sabe? Meu cabeleireiro me liga e fala: "Você precisa vir, você é louca! Quer que eu vá aí?".Você gosta de esportes? Nunca fui de esportes. O Ri é superesporte, eu sempre fui voltada pra expressão. Mas faço ioga há mais de dez anos.E a sua alimentação? Nunca faço dieta. Não acredito em fazer coisas contra sua vontade. Claro, de vez em quando você fala:"Exagerei, deixa eu dar uma maneirada". Mas tem alguns pecados que eu adoro: vinho, mandioca frita, pizza. E não me peso! Sou uma pessoa de não-números. Não sei há quanto tempo casei, por exemplo. Sempre fui assim. Uma vez fui levar o almoço pro meu filho na escola - ele havia esquecido no carro - e não sabia a série em que ele estava [risos], não tinha a menor idéia. Você tem medo de envelhecer? Isso é inevitável, mas tem coisas que me preocupam muito mais do que isso. O que está acontecendo com o planeta, por exemplo. Se envelhecer fosse problema, que alegria. Uma hora você vai ser escalada tipo Conduzindo Miss Daisy [filme norte-americano de 1989, que tem como personagem principal uma senhora de idade]. Mas deve ser legal viver esse momento porque senão sua vida acaba antes.Tem gente que me encontra e fala: "Ai, a época da faculdade". Adorei a faculdade, mas não queria estar nela agora, porque eu estou onde estou. Não tenho isso de olhar pra trás.
Pessoa de não-númerosFotos prontas, voltamos ao papo. A atriz não liga para números. Não sabe dizer há quantos anos é casada com Riccelli (seu filho tem 25 anos) nem quanto pesa. Não usa relógio nem lembra que livros leu. "Não contabilizo a vida. Gosto de viver o momento", explica. Talvez por isso, se confundiu ao confirmar à reportagem da Tpmque tem 50 anos, quando todas as fontes pesquisadas atestam 55 (ela teria nascido em 1º de agosto de 1952). O fato é que Bruna está ainda mais bonita do que já era na época de modelo, ou quando posou nua, há 16 anos.Mas, desde que Bruna Lombardi virou nome auto-explicativo, outras pessoas ordenaram os anos de sua vida. Aos 15, a garota que ganhava concursos de poesia e andava com os meninos na escola virou modelo. Em 1977, estreou como atriz em Sem Lenço, Sem Documento, da Globo. No total, foram oito novelas, quatro minisséries e seis filmes. Além disso, comandou durante dez anos o programa Gente de Expressão na TV Manchete e, depois, na TV Bandeirantes. Foi quando entrevistou figuras como os atores Dustin Hoffman e Kevin Costner e Harrison Ford. Bruna escreveu três livros de poesia, dois romances e, agora, lança O Signo da Cidade, segundo longa em que assina o roteiro (o primeiro foi Stress, Orgasms and Salvation). Bruna nunca foi habituée de revistas de fofoca. Sabe-se que ela é linda, simpática, inteligente e tem uma "família feliz". Mas a mulher que não demonstra insegurança, adora plantar árvores, protege os animais e busca o autoconhecimento não é uma personagem, nem sua vida um conto de fadas. Não existe milagre. Tudo é uma questão de coerência. Ou de incoerência.
Tpm. Há incoerência na vida de Bruna Lombardi? Bruna Lombardi. Meu temperamento. Se você estiver na minha casa enquanto trabalho, vai ver que sou superzen. Mas às vezes me dá uns cinco minutos, tem um lado meu que é descontrolado, meio italiana.Me sobe o sangue se alguém falar ríspido. Vou dar um exemplo: uma vez eu estava num posto de gasolina na estrada e vi um caminhoneiro jogando pedra num cachorro. Desci do carro... O Ri falou que só viu uma criatura pequena fazendo assim [apontando o dedo] para um gigantão.Talvez essas perdas de controle tenham te feito bem, afinal, você chegou aos 50 mais bonita que aos 30. Como construiu sua vida até aqui? Olha, qualidade de vida é fundamental. Eu entrevistei muitas mulheres no planeta inteiro e vi muitas lindas que tinham uma espécie de tensão. Quando a gente fica tensa, fica feia. Imagina a vida inteira assim. Se você não busca equilíbrio, é complicado.Você disse que não contabiliza a vida e se esquece do que passou. Como é isso? Não sou uma criatura de guardar memórias. Outro dia, o Ri me mostrou um livro e falou: "Você lembra desse livro?". Eu falei: "Não". Era O Livro dos Segredos, do Osho. Ele perguntou: "Você nunca leu?". Eu falei: "Não lembro". Ele falou: "Só que você fez o prefácio dele". Quando li o prefácio, achei tão maravilhoso. Tão certo com o que eu achava naquele momento. Uma amiga minha falou: "É muita coerência". Mas eu nunca me achei coerente. Você nunca fez plástica mesmo? Vou fazer em breve [risos]. Tô brincando, mas vou fazer, sem dúvida. Um lifting na hora certa. Quando você descobriu que era bonita? Descobri isso de tanto que me falavam. Mas nunca fui encanada. Quando era modelo, eu ia fazer foto de uniforme de escola, usava rabo-de-cavalo. Me arrumavam inteira, fazia a foto, pra mim era um personagem. Daí me desmoronava inteira e voltava de uniforme pra casa. Como começou a ser modelo? Eu fazia aula de dança, e um cara de uma agência foi numa apresentação e me convidou pra fazer umas fotos. Aí foi muito rápido, eu até queria meio que me esconder... Era tímida? Não, eu era moleque. Lacinho, bolsinha cor-de-rosa, não eram meu estilo. Eu andava com os meninos, ia para a rua. Como foi sua infância? Eu era curiosa, queria viver tudo, acelerada. Sou filha temporã, meu irmão é dez anos mais velho. Meu pai era cineasta. Minha mãe, atriz. [Bruna é filha do diretor de fotografia Ugo Lombardi e de Yvonne Sandner]. Tínhamos grandes conversas. Uma família italiana, em que todo mundo sempre falou junto. Foi na primeira vez que assisti a um filme americano que vi que uma pessoa falava e a outra ouvia. Aí dava uma pausa, a outra respondia. Falei: "Que engraçado! Eles param e ouvem". Por que seu pai veio para o Brasil? Veio com minha mãe e com meu irmão nos anos 50, quando vários técnicos de cinema da Inglaterra e da Itália foram convidados para montar a Vera Cruz aqui. Ele era um aventureiro que saiu de Roma para isso. Trabalhou com Fellini, Rossellini, Vittorio de Sica. Veio para o Rio, onde nasci. Com uns 8 anos nos mudamos para São Paulo.
Aos 25 anos, Kim estréia como ator em O Signo da Cidade, dirigido pelo pai e com roteiro da mãe; Bruna atesta o talento no papel de Diadorim, uma mulher que se passa por homem na adaptação de Grande Sertão: Veredas para a TV, em 1985.
E como você era na adolescência? Muito atirada para as coisas. Tenho um lado de me jogar e, ao mesmo tempo,uma coisa para dentro, para coisas que me interessam de verdade. E eu já era assim pequena. No pré, ainda não conhecia livraria, mas já ia para a biblioteca da escola. As colegas já pediam para eu escrever ensaios para elas. Fui reconhecida rápido. Era a única Bruna da escola, praticamente do país. Quando você decidiu ser atriz? Cedo. Fiz jornalismo e propaganda e marketing, mas ser atriz era um caminho natural por causa dos meus pais. Talvez por eu ter começado a trabalhar como modelo também. Um te maquia, outro te veste, você é personagem das pessoas. Eu nunca fui aquela menina que sonha em ser modelo, atriz. Tudo na minha vida veio antes de eu querer. Até o marido [risos]? Sempre fui de namoros longos, mas o Ri mudou tudo [Bruna conheceu o marido durante as gravações da novela Aritana, em 1978].Sua relação com o Riccelli passa uma imagem de ser perfeita. Vocês são lindos, inteligentes, trabalham juntos... E é assim mesmo, a gente não está mentindo. Para você ter uma idéia, na minha casa quase não tem parede. Estou ficando cada vez mais transparente. E o que o Ri e eu somos juntos é de verdade. É difícil você encontrar uma pessoa e acertar o passo. O Ri e eu crescemos juntos. É uma sorte, um pequeno milagre. Não sei como se constrói uma relação. Sei é que tem trabalho, não vem pronto. E até hoje fico perplexa com o olhar dele para mim. É legal ter alguém que te olha apaixonadamente.Você planejou isso? Nunca. Nem nos meus sonhos mais selvagens [risos]. Não fui criada para casar numa igreja de branco, tanto que não casei. Aliás, nunca me casei. Meu sonho era viajar, conhecer lugares remotos, ser a primeira a pisar em territórios. Imaginava que talvez fosse uma grande repórter. E nunca pensei que teria alguém para compartilhar minha vida. Imagina o quanto me surpreende a vida que tenho! Você teve só um filho por opção? Porque eu quis. Minha vida era complexa e eu achei que ia dar conta de criar muito bem um.A gravidez foi planejada? Não, foi surpresa. E me dei ao luxo de parar de trabalhar. Fazia umas fotos, umas campanhas, ganhava uma graninha, mas trabalhar mesmo não trabalhei. Depois de três meses que o Kim nasceu, precisei voltar à ativa porque tinha contrato. Aí me joguei na vida de novo e fui criando o Kim.Como é a relação de vocês? Nunca fui em busca dos papéis sociais que uma família tem ou parece que tem. Nunca falei: "Agora o papel de mãe, eu preciso agir dessa maneira", ou o papel de esposa. Não achava que eu tinha que preencher essas lacunas sociais. Então, minha relação com meu filho sempre foi quase de amigos. Em nenhum momento essa relação atrapalhou sua autoridade como mãe? Se você tem uma autoridade, ou ela é liberal demais, daí vem a idéia do limite, ou ela é limitada demais, daí vem a rebeldia. Se você coloca como: "Vamos ver, é a primeira vez para nós dois", não precisa impor limites. Sempre teve muita conversa, troca.
Estamos falando de papéis. Hoje os papéis estão confusos nas relações. Por exemplo: quantas vezes nos ofendemos se o cara quer pagar a conta e, ao mesmo tempo, cobramos uma postura de cavalheiro em outra situação? Acho lindo isso nas mulheres, essa coisa confusa que a gente é. O homem que tem humor para olhar para isso é bacana.De onde veio a idéia para o filme O Signo da Cidade? Queria contar várias histórias, com muita gente e muitos temas. Entre outras coisas, queria falar sobre como a vida da gente é conectada. Não adianta eu ser feliz sozinha, nenhum homem é uma ilha. Como você encara as possíveis críticas negativas ao filme? Sabe que nunca penso nisso? Na estréia na Mostra do Rio, muitos homens choraram [o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo, confessou, no blog do Estadão, que chorou no filme de Bruna]. Isso mostrou que o filme derruba defesas. O Fernando Meirelles disse que, se um personagem não te pega, vem outro e,"pim", pega. Minhas coisas têm sido acima do que espero. Imagina, fiz a letra de "Sozinho na Cidade", o Ri fez a música e o Caetano gravou. Também fiz a letra de "Sorte", que a Maria Bethânia gravou. É difícil acreditar nos dois interpretando letras minhas no filme.Quando você atua, tem alguma vaidade na escolha de seus personagens? Não. Já fiz vários trabalhos, como Diadorim [personagem de uma mulher que se passa por homem, na minissérie adaptada do clássicoGrande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa], em que precisava estar medonha. Mas teve momentos em que muita gente falava: "Você precisa se enfeiar pra ser levada a sério". Meus editores falavam que eu não podia misturar meu lado bonito, glamoroso como lado escritora. Mas não me prendi a essas jaulas para ser aceita.E, na vida, você é vaidosa? Ah,todo mundo é. Mas meu sonho é ser mais vaidosa. Porque sou muito trabalhadora, então sou vaidosa "espelhinho do carro", sabe? Meu cabeleireiro me liga e fala: "Você precisa vir, você é louca! Quer que eu vá aí?".Você gosta de esportes? Nunca fui de esportes. O Ri é superesporte, eu sempre fui voltada pra expressão. Mas faço ioga há mais de dez anos.E a sua alimentação? Nunca faço dieta. Não acredito em fazer coisas contra sua vontade. Claro, de vez em quando você fala:"Exagerei, deixa eu dar uma maneirada". Mas tem alguns pecados que eu adoro: vinho, mandioca frita, pizza. E não me peso! Sou uma pessoa de não-números. Não sei há quanto tempo casei, por exemplo. Sempre fui assim. Uma vez fui levar o almoço pro meu filho na escola - ele havia esquecido no carro - e não sabia a série em que ele estava [risos], não tinha a menor idéia. Você tem medo de envelhecer? Isso é inevitável, mas tem coisas que me preocupam muito mais do que isso. O que está acontecendo com o planeta, por exemplo. Se envelhecer fosse problema, que alegria. Uma hora você vai ser escalada tipo Conduzindo Miss Daisy [filme norte-americano de 1989, que tem como personagem principal uma senhora de idade]. Mas deve ser legal viver esse momento porque senão sua vida acaba antes.Tem gente que me encontra e fala: "Ai, a época da faculdade". Adorei a faculdade, mas não queria estar nela agora, porque eu estou onde estou. Não tenho isso de olhar pra trás.
2 comentários:
A Bruna é uma linda mulher um exemplo de não deixar se controlar pelas armadilhas da vida.
e ai bruna eu gosto tanto de voce que ate coloquei o teu nome na minha filha voce e teu marido sao como vinho
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