CRIATURAS DE DEUS
Eu sempre falava
com as galinhas de D. Nina
( e, por isso mesmo, pensavam que eu era louco).
Conversava por cima do muro
e elas me davam todas as notícias
entre mandacarus, coqueiros e mangueiras
tão velhas quanto grandiosas:
árvores vividas, mestras profundas.
Elas me diziam ainda que a
Cachoeira do Vicente era conhecida
como uma das mais lindas, que regava energias
e que eu deveria ir me banhar nela,
pra não perder a juventude.
Tinham segredos em tons místicos
guardados a sete chaves.
Falavam das rezas, dos evangelhos,
misturando tudo com diretrizes políticas,
princípios antropológicos e tudo mais.
Eram cheias das teorias mais complexas
sabiam muito, principalmente, de todas as éticas
e seus fundamentos profundos e límpidos.
Eram togadas e algumas tinham
até predileções metafísicas.
Quando eu falava das ciências dos homens,
suas universidades, os sofisticados laboratórios
de pesquisas, os requintes dos eventos intelectuais,
olhavam umas para as outras
desdenhando e dando de ombros.
Cochichavam entre si
que eu tratava de coisas ridículas
e ínfimas frente à grandiosidade
que jamais atingiriam.
As galinhas de D. Nina eram coloridas,
sábias e só falavam do que
conheciam profundamente.
Poderiam discutir com
os mais célebres sábios do mundo
quanto mais comigo...
É, elas frequentavam
as melhores cátedras, academias. discursavam em púlpitos
e estraçalhavam no bico todos os conhecimentos insanos,
quaisquer culturas que considerassem inúteis.
Dialogavam em línguas, tocavam instrumentos,
compunham, criavam, encantando o mundo inteiro.
Entediam de ópera, liam partituras em grego clássico,
faziam traduções preciosíssimas
de todas as artes conhecidas e por conhecer.
Ciscavam entre bananeiras, matos, pedras estudando filosofia,
ciências requintadas, tratados, doutoramentos.
As galinhas de D. Nina não eram como as outras, mortais e comuns.
Sábias e milagreiras, escondiam seus papirus sagrados,
escritos em sânscrito, nos subterrâneo do paiol de madeira,
debaixo de onde dormiam, sonhavam e tinham visões
e verdadeiros devaneios inexplicáveis que
registravam depois para a perenidade.
Só elas, eu e mais ninguém conhecia este tesouro
e de um valor inimaginável.
Pra mim, não existia companhia melhor.
E, claro, eu não entendia nada.
Apenas subia o morro assobiando,
jogando pedras e remoendo na cabeça
as coisas que eu ouvia delas
todas as tardes em que
eu ia me banhar no rio.
Mas só assim minha vida se fez possível
e eu não me cansava de derramar graças
andando por entre flores e capins
seus companheiros de conhecimentos.
Eu cresci assim
guardando estes segredos irrefutáveis
que só eu dividia com elas e não podia contar pra ninguém,
o que fazia parte do acordo tácito
entre mim, as galinhas
e as sabedorias que ardiam fundo dentro da alma.
E foi desta maneira que eu me fiz um eterno menino.
Felizmente, meio endoidecido.
Com forças para carregar
este mundo maluco.
Eu sempre falava
com as galinhas de D. Nina
( e, por isso mesmo, pensavam que eu era louco).
Conversava por cima do muro
e elas me davam todas as notícias
entre mandacarus, coqueiros e mangueiras
tão velhas quanto grandiosas:
árvores vividas, mestras profundas.
Elas me diziam ainda que a
Cachoeira do Vicente era conhecida
como uma das mais lindas, que regava energias
e que eu deveria ir me banhar nela,
pra não perder a juventude.
Tinham segredos em tons místicos
guardados a sete chaves.
Falavam das rezas, dos evangelhos,
misturando tudo com diretrizes políticas,
princípios antropológicos e tudo mais.
Eram cheias das teorias mais complexas
sabiam muito, principalmente, de todas as éticas
e seus fundamentos profundos e límpidos.
Eram togadas e algumas tinham
até predileções metafísicas.
Quando eu falava das ciências dos homens,
suas universidades, os sofisticados laboratórios
de pesquisas, os requintes dos eventos intelectuais,
olhavam umas para as outras
desdenhando e dando de ombros.
Cochichavam entre si
que eu tratava de coisas ridículas
e ínfimas frente à grandiosidade
que jamais atingiriam.
As galinhas de D. Nina eram coloridas,
sábias e só falavam do que
conheciam profundamente.
Poderiam discutir com
os mais célebres sábios do mundo
quanto mais comigo...
É, elas frequentavam
as melhores cátedras, academias. discursavam em púlpitos
e estraçalhavam no bico todos os conhecimentos insanos,
quaisquer culturas que considerassem inúteis.
Dialogavam em línguas, tocavam instrumentos,
compunham, criavam, encantando o mundo inteiro.
Entediam de ópera, liam partituras em grego clássico,
faziam traduções preciosíssimas
de todas as artes conhecidas e por conhecer.
Ciscavam entre bananeiras, matos, pedras estudando filosofia,
ciências requintadas, tratados, doutoramentos.
As galinhas de D. Nina não eram como as outras, mortais e comuns.
Sábias e milagreiras, escondiam seus papirus sagrados,
escritos em sânscrito, nos subterrâneo do paiol de madeira,
debaixo de onde dormiam, sonhavam e tinham visões
e verdadeiros devaneios inexplicáveis que
registravam depois para a perenidade.
Só elas, eu e mais ninguém conhecia este tesouro
e de um valor inimaginável.
Pra mim, não existia companhia melhor.
E, claro, eu não entendia nada.
Apenas subia o morro assobiando,
jogando pedras e remoendo na cabeça
as coisas que eu ouvia delas
todas as tardes em que
eu ia me banhar no rio.
Mas só assim minha vida se fez possível
e eu não me cansava de derramar graças
andando por entre flores e capins
seus companheiros de conhecimentos.
Eu cresci assim
guardando estes segredos irrefutáveis
que só eu dividia com elas e não podia contar pra ninguém,
o que fazia parte do acordo tácito
entre mim, as galinhas
e as sabedorias que ardiam fundo dentro da alma.
E foi desta maneira que eu me fiz um eterno menino.
Felizmente, meio endoidecido.
Com forças para carregar
este mundo maluco.
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