De quem é este desenho?
Pablo Picasso. Matador Luis Miguel Dominguin (1897). Lápis sobre papel.
Dez anos antes de "Les Demoiselles d'Avignon" (1907), Picasso já se destacava com um trabalho realista e acadêmico de alta qualidade, que em nada se parecia, porém, com o que veio a desenvolver posteriormente, o estilo que o consagrou. Sendo um dos artistas mais versáteis da História, traduzia em suas obras o seu espírito inquieto, sem jamais - mesmo no fim da vida - acomodar-se e ceder à tentação de repetir as fórmulas que já dominava. Por isso, não é de imediato que se reconhece esta e outras tantas obras do gênio.
Sim, é atraente para designers, artistas e afins, terem seus trabalhos identificados facilmente por um estilo bem marcado. É tentador fazer algo que seus colegas e clientes percebam como obra sua sem necessidade de conferir a assinatura. Destacar-se em meio à multidão é um alento para os inseguros egos dos criadores. Talvez também comercialmente, esta seja uma característica desejável, já que o cliente sabe exatamente o que esperar e, por isso, também se sinta mais seguro e confiante em contratar o trabalho.
Por esses e outros motivos, muitos de nós buscamos encontrar o tal "estilo" como quem busca a fonte da juventude. Esperamos ansiosos para um dia fazer algo único e diferente, que desperte um grande e sonoro "oh" da platéia e que nos eleve ao Olimpo dos profissionais reconhecidos.
E eis que, quando chega este momento, sentimos o alívio merecido após tanto sofrimento, e recostamos nossas cabeças cansadas na zona de conforto, sabendo que todos os trabalhos que virão já têm estilo definido e não precisamos nos preocupar mais.
O perigo mora tanto na busca do "estilo próprio" como na sua conquista. Buscando encontrar uma marca, corremos o risco de perder o foco do trabalho, muitas vezes deixando de lado a adequação da proposta e o briefing. Em sua ânsia por definir seu trabalho, o artista pode abrir mão de soluções diferentes e por vezes mais adequadas. Pode também parar de evoluir e estacionar, abafando seu impulso criativo e tornando-se um executor apenas. Isso não é bom nem para o artista, nem para o mercado, nem para a Arte, como representação de um período, cultura e local. A evolução depende da experiência.
Admiro artistas que experimentam e que nos surpreendem com trabalhos que não parecem ser seus. Artistas que arriscam estilos que não dominam tanto e soluções estéticas diferentes do que estão acostumados a aplicar, mesmo que o resultado não receba tantas críticas positivas de seu séquito de admiradores.
Acho que os artistas do nosso tempo, que têm acesso a um volume tão grande de informações, referências e estímulos, devem ser flexíveis e deixar seus trabalhos fluírem com liberdade.
Ficar preso um estilo ou mesmo à sua busca é tentador, mas escraviza e torna o trabalho estagnado. Como exemplo, cito o popular Romero Britto, que encontrou um estilo bem marcado e faz tudo com sua inconfundível assinatura. É comercialmente interessante, pois ele criou um "produto" confiável e certeiro. Se eu encomendar a ele um quadro de um sofá, sei que este sofá será feito por áreas contornadas de preto e preenchidas por padrões coloridos. É vibrante, atraente e fácil de digerir. Mas, artisticamente, não contribui em nada. Será que o artista mudou algo, ou a si mesmo, depois desse trabalho? Ou simplesmente executou aquilo que já sabe fazer até dormindo?
Experimentar é, sobretudo, divertido. Se você está acostumado a fazer ilustrações realistas, repletas de detalhes, faça experiências com um pincel e nankin. Se só faz traços minimalistas a lápis, pinte uma natureza morta com tinta a óleo cheia de detalhes. Se costuma fazer grafismos geométricos, arrisque traços orgânicos na aquarela. O resultado pode ser ruim, mas certamente já o fez evoluir como artista, e mesmo que você volte a produzir dentro do estilo ao qual está habituado, seus trabalhos certamente traduzirão uma maior maturidade.
Além de aprisionar, a busca por um estilo é também muito frustrante, pois hoje é praticamente impossível ser o único a fazer um trabalho de uma determinada forma.
Ter um estilo não significa, necessariamente, usar a mesma solução estética para tudo o que se faz. O estilo de um profissional se traduz também no capricho com que realiza seus trabalhos, na adequação às propostas, na ousadia e na flexibilidade.
Com empenho, sem descansar nunca e sem levar os elogios tão a sério, O estilo estético virá, aos poucos, permeando sorrateiro cada trabalho, amadurecendo e deixando sua marca.
Veja o que o mundo perderia se Pablo Picasso tivesse se conformado em repetir um estilo que já havia dominado.
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