Apresentamos uma síntese da proposta de como deveria ser alguma atividade pedagógica, como uma aula, uma palestra, a exposição didática de um tema, etc. se quisermos, de fato, educar - e não, treinar, arregimentar - as pessoas. A realidade brasileira de hoje requer, ao nosso ver, esta modalidade de ação pedagógica.
(Leia e apresente seus comentários, críticas ou sugestões)
ESTAMOS AQUI NUMA
VERDADEIRA POSTURA DE APRENDIZAGEM....
...o que buscamos é a ampliação
da nossa mentalidade, da percepção e a mudança
de comportamento, esperando sair daqui seres melhores do que entramos: mais
abertos, mais cultos, flexíveis, modernos, contemporâneos, facilitadores de
processos de mudanças para as melhorias, para todos, enfim, líderes, atuantes,
transformadores das muitas realidades que nos cercam.
Para tanto, temos que ir muito
além do que os modelos convencionais de “educação” têm demonstrando ao longo da
história, do tempo, da pseudo-evolução da humanidade. Nossas escolas não
educam, não ensinam, elas, ao contrário, adestram, confinam, treinam em função
de interesses ideológicos outros e têm, para isto, razões políticas
inconfessas, que, muitas vezes, nem seus agentes conhecem em função da
ingenuidade política e crítica que lhes é imposta, estrategicamente, até por
meio da formação profissional pelas licenciaturas e a pedagogia
instrumentalista e burguesa.
Os professores, coitados, se dedicam a este
plano fatídico de reduzir, ao invés de ampliar a visão, a consciência, a
educação das pessoas e são – o que é pior – induzidos a acreditarem que fazem,
justamente, ao contrário. Nesta perspectiva, eles não ganham pouco – como
sempre dizem e reclamam – mas ao contrário, recebem muitíssimo, pois se
analisarmos no sentido amplo dos processos, o que fazem, de uma maneira geral,
é piorar as pessoas, tornando-as frágeis, secas e exploráveis. E explicamos
porquê:
01 – O verdadeiro aprendizado só
existe quando ocorrem: a) a indução e a
dedução simultâneas (do particular para o geral e do geral para o
particular, ao mesmo tempo); b) argumentação
(exposição de impressões, troca de ideias, discussão, etc.); c) sistematização, (ou seja, a
exteriorização das novas descobertas, dos novos “insigths”, ou formas diferentes e mais evoluídas de ver, pensar,
elaborar conceitos e fazer as coisas a
respeito do tema discutido); d) conclusões de aprendizagem – o que foi
que aprendi com isto? Que novos conhecimentos se agregaram ao meu saber a
respeito? E, finalmente, conclusões de
operacionalização – Ou seja, que eu
vou fazer com o apreendido? Para que serve, qual a sua aplicação? Quem se
favorece e quem se prejudica com isto?
Só assim, o ciclo de aprendizado estará completo e a pessoa “educada”
passará, então, a dominar, quase que inteiramente o assunto tratado; ainda que
provisoriamente, pois as coisas mudam, se transformam o que levará à
necessidade de aprender de novo e, assim, sempre. Fora isto, pode ter tudo,
menos aprendizado ou educação, o que é, infelizmente, o que as nossas escolas
fazem.
02 – Lembre-se que muito além do
saber monádico do: está dito e escrito, é assim e pronto, da ciência
medieval. Temos depois a dialética aristotélica que implica na
construção e desconstrução dos conceitos, do sim e do não, do afirmar ou negar,
etc. O saber hoje é tridimensional por todas as óticas: a) pela ciência:
teoria, prática, práxis; b) pela
filosofia: maiêutica, metafísica, sabedoria; c) pela comunicação: verbal,
não-verbal e factual; d) pela política: direita, centro, esquerda; e) pela
sociologia: estruturalista, materialista, conjuntural; f) pela administração:
eficiência, eficácia, efetividade; g) pela religiosidade: cristã, mística,
agnóstica; h) pela exteriorização: estética, arte, cultura. Entre o sim e o não
existe o talvez, entre o preto e o branco existe o cinza, entre o claro e o
escuro, existe a penumbra e todos devem ser igualmente considerados no aprender
real das coisas. Portanto, nada é completamente certo ou completamente errado.
Pois, além de objetivo, o saber é, ao mesmo tempo, subjetivo e intersubjetivo.
Portanto, antes de criticar alguém sobre os seus saberes ou considerá-lo
radical, parcial, certo ou errado, pense nesta complexidade, que apenas começa
aqui, rumo ao infinito. Muito dificilmente, algo estará, absolutamente, correto
nas três dimensões. E, ainda assim, entra em jogo a forma de ver, de pensar, o
histórico de vida e o momento histórico que cada um atravessa. O que leva a
pessoa a ver, a entender, a aceitar, negar e elaborar conceitos diferentemente,
o que precisa ser respeitado, assim como os critérios para se produzir
conhecimento, ciência, mística, ação política e demais projetos para a
construção de uma sociedade melhor.
Conhecer, aprender, saber é,
portanto, estar pronto para esta ciranda mágica que leva o aprendiz para vários
pontos: ler, escrever, entender, questionar, criar e recriar o saber existente,
pois além de tudo, o saber é ontológico, nasce dentro de cada um e deve ser
exteriorizado para que a humanidade faça dele o devido uso. O ser “educado”
deve ser capaz de enxergar por várias óticas, tons e formas. E escolher entre o
que quer, o que gosta, enfim, o que for melhor para ele, sua história, seu
contexto, suas metas. Isto não se fecha
nunca, pois embarcamos no campo infinito do saber, do conhecimento, da
sabedoria, da filosofia, da epistemologia, e, assim, sempre...
03 – Devemos ter uma postura de
prontidão real para o verdadeiro aprendizado: querer aprender e nos
auto-autorizar para que tal fenômeno aconteça de fato. Pode parecer bobagem,
mas temos inúmeras barreiras e amarras inconscientes obstáculos psicológicos
para que não aprendamos, e, portanto, não mudarmos nossas formas de perceber,
de agir, não conquistando, desta forma, o que for melhor para nós. Por isso,
diga para você mesmo: “EU ME AUTORIZO A
APRENDER. EU QUERO APRENDER. OU VOU FIXAR O QUE FOR IMPORTANTE, TORNANDO-ME UMA
PESSOA MAIS LÚCIDA, MAIS ATIVA, MAIS CAPAZ. E VOU, FINALMENTE, MUDAR A MINHA
FORMA DE AGIR”. Além disso, devemos, igualmente, cumprir todas as fases e
etapas que completam o ciclo da
verdadeira aprendizagem, assim:
a) Responsabilizar-me-ei por
todas as tarefas, estudos, leituras, pesquisas, participações, reflexões, etc.
b) Atenderei a todas as
manifestações verbais, escritas ou corporais a mim solicitadas. Caso não
assuma, não valem quaisquer pedidos de desculpas, justificativas e outras
formas de legitimar a omissão e ficar por isso mesmo.
c) Assumirei os resultados da minha possível
não-participação de forma plena em qualquer fase, atividade ou tarefa aqui
proposta.
d) Vou participar integralmente,
com interesse, afinco e motivação de todos os momentos de aprendizagem
oferecidos, modificando-os quando necessário, para que a aprendizagem seja
rica, frutífera, prazerosa.
e) Não tomarei uma posição
auto-defensiva, entendendo que tudo o que se discute é de cunho impessoal, sem
culpas definidas e de responsabilidade de todos. A crítica deve ser repensada,
de teor dialético e de validade para todo o grupo.
04 – Vamos suprimir todas as
formas diversificadas de tratamento, títulos, grau de parentesco, etc. Todos
aqui se tratam educada e respeitosamente por você, o próprio nome ou outra
maneira negociada, como apelidos carinhosos ou outras maneiras como a pessoa
gosta de ser chamada. Pode parecer pouco importante, mas o tratamento de
senhor, senhora, doutor, doutora, tio, tia, professor, professora, etc –
tratamento vertical e hierárquico – dificulta as formas democráticas de
tratamento e distancia as pessoas. Dando a elas graus de importância maiores ou
menores, o que dificulta o real aprendizado, que é o que aqui buscamos. Vamos
usar o tratamento horizontal, igualando todos nesta relação formal ou informal
que engrandece as relações e aproxima as pessoas. Pois é isto que nos
interessa, ninguém é mais ou menos importante.
05 – Se não estivermos prontos e
abertos à aceitação da crítica, então teremos que mentir e blefar o tempo todo,
o que coloca por terra a metade do nosso trabalho. Podemos, contudo,
questionar, desconsiderar e rebater a crítica até nível de réplica ou tréplica,
não mais que isto. Pois, por mais absurda que possa parecer, toda crítica é bem-vinda
como fonte de reflexão/ação. Nada de bate-bocas infinitos, incabíveis que negam
e distanciam a busca da evolução. Não temos tempo para isto, precisamos
respeitar aos demais colegas, a quem pode não interessar tal assunto. E, de
mais a mais, ninguém precisa convencer ninguém de nada. De que está certo ou
errado. O que precisamos aqui é abrir processos e mostrar perspectivas de novas
realidades possíveis. Tenhamos bom-senso no uso do tempo e no aluguel do ouvido
alheio. Se sentirmos que o assunto não é do interesse de todos, daremos logo um
jeito de parar. Ao fugir do foco, qualquer pessoa deverá se expressar da
seguinte forma: “OLHA O FOCO!” Esta expressão terá autoridade máxima e será
cobrada uma prenda da pessoa que persistir no assunto ou tema, seja ele qual
for. Só deve ser discutido no grupo o que interessa ao grupo.
06 – Principalmente, nada de
julgamentos pessoais e histórias particulares infinitas e fora do contexto que
são inimigos mortais de toda a discussão, explanação ou aprendizados plenos e
inteligentes. Tudo o que for discutido aqui será em nome da ciência, da
política, da filosofia, da dinâmica social mais ampla, sem rosto definitivo e,
portanto, sem evidências claras para este tipo de questionamento. Vamos
discutir por meio de parâmetros mais amplos e evolutivos e não, por demandas
pessoais competitivas, vaidades feridas ou posicionamentos coercitivos, pobres,
difusos, tacanhos ou infundados. Aqui vale tudo em termos de ideias, concepções
e princípios, desde que, lógico, respeitemos a dignidade pessoal e a
integridade física, moral, ética e psicológica (das pessoas, do grupo, da
cidade, da realidade macro que nos cerca) em todos os seus aspectos.
07 – No nosso caso, o senso de
humor é absolutamente fundamental. Vamos, sempre que possível, trocar a ira
pela risada. Nada mais sublime do que saber rir de si mesmo e de suas próprias
mazelas, dificuldades, ingenuidades, ignorâncias. Saber rir das coisas certas,
ter o princípio de não perder a piada. Ao invés do questionamento repulsivo,
vamos levar a coisa para o campo da alegria, da desconcentração, da ludicidade,
da brincadeira. Para quem quer evoluir o senso de humor é, absolutamente,
essencial.
08 – Será cobrado de todos, a
cada término de unidade o comprometimento de alguma medida, alguma ação, etc.
que terá caráter definitivo e permanente, com compromisso assumido verbalmente,
perante o grupo, tanto para o evento, como para depois dele. Pois a discussão
infinita sem a efetiva mudança de comportamento e de ação é algo inútil e,
definitivamente, não para o que estamos aqui.
O cumprimento ou não, será de foro íntimo, mas
entendemos que, frente ao conjunto de objetivos que aqui propomos, espera-se
que ninguém irá e nem precisará assumir o que não irá cumprir. Pois tudo faz
parte do processo real de aprendizado que aqui buscamos, sem o quê, tudo isto
não passa de uma autêntica perda de tempo. Pois nossa meta maior aqui é nos aprofundar e nos mudar naquilo que for necessário para
assim, fazer a diferença, mudar as coisas que nos incomodam.
09 – Aqui ninguém é obrigado a
fazer nada. Devemos negociar tudo, assumir de frente nossos erros e omissões,
se for o caso. No final, você tem o direito de negar, desde que apresente uma
contraproposta. Estamos aqui formando lideranças e este é, sem dúvida, o
comportamento e a escolha que diferencia o verdadeiro líder dos demais. Não
fazer por não fazer, definitivamente, não faz parte do nosso plano de trabalho.
Devemos contextualizar nossas ações aos nossos desejos, optando, desde agora,
para a construção daquilo que for, de fato, melhor para todos. Ou pelo menos,
melhor para a maioria, dentro de um plano de trocas e de negociações múltiplas,
claras, explícitas.
10 – Todas as normas aqui
expostas deverão ser, o tempo todo, transformadas, adaptadas, e, finalmente,
suprimidas, quando o grupo se sentir pronto e autônomo para caminhar sozinho e
não mais precisar delas. Quanto mais normas deixarem de existir e de serem
úteis, melhor. Para efeito de aprendizagem os atrasados, faltosos; “pedidores
de desculpas” por omissão ou erro; quem
usar quaisquer títulos de tratamento,
pagarão prendas em tempo oportuno e horário definido pelo grupo em sua
maioria. Este pagamento não deverá, sob nenhuma hipótese, ser encarado como
forma de castigo, mas um recurso psicológico para se ter acesso e manter o
aprendizado. Deverão ser, preferencialmente, fundamentadas na brincadeira, no
aspecto lúdico, levando o grupo a se divertir, descontrair, se alegrar. Pois, a
alegria, o riso contagiante e conjunto, é, sem dúvida, a melhor de todas as
estratégias e técnicas para o aprendizado. Pois, aprendendo feliz se aprende
melhor e se torna, sem dúvida, um ser melhor nas mesmas proporções.
Técnica de Trabalho Laboratorial
Estamos aqui em postura de
aprendizagem. E por isso mesmo, o nosso evento deverá chegar o mais próximo possível da realidade
do nosso cotidiano, o que chamamos de Técnica Laboratorial.
Normalmente, a aprendizagem é feita de forma passiva, ou seja, você se senta, escuta,
copia, reproduz e assimila pela repetição, muitas vezes, mecânica e não,
reflexiva. E a pessoa que ensina tem uma atitude ativa: anda, fala, se
gesticula, pensa, cria, inventa e coloca pra fora aquilo que quer, como quer e
na hora que desejar fazer isto. E tudo é normal e aceito passivamente, aí é que
mora o maior de todos os problemas no que diz respeito à educação. Quem ensina,
no geral, impõe de cima para baixo o conhecimento, o saber, de forma dogmática
– leia-se autoritária, embora simbolize,
psicologicamente, o contrário – o que faz parte do jogo inconsciente do
poder para formar indivíduos passivos, manipuláveis, servis e, facilmente,
explorados, perpetuando, assim a tônica da exploração.
E o que é pior, o professor é uma única pessoa
que detém o conhecimento, as técnicas, o poder de comandar (representa psicologicamente a elite) e
faz isto sobre uma turma de muitos alunos (que,
logicamente, representam a massa). Já não estaria implícito aí um jogo de
poder que reflete os enigmas da sociedade de classes onde poucos mandam em
muitos? Poucos exploram muitos e ficam com todo o resultado da produção? Não é,
justamente, neste ponto que o ensinar passa a ser um dos mais fortes
instrumentos para se manter a exploração clássica do ser humano pelo ser
humano?
O
consciente das pessoas é, podemos assim
dizer, “inteligente”, sabe das coisas, e, aparentemente, escolhe, define,
separa o que é bom do que não é, o que constitui, na verdade, uma farsa. Define
o que quer, deseja e escolhe. Mas o inconsciente “não”, nele ficam as marcas
simbólicas, confusas, legitimando as aparências. É aí que os processos de poder
deitam e rolam, pois fazem perpassar algo que parecem ensinar, cujo
conhecimento dignifica as pessoas, levando-as a se tornarem conscientes, mas,
na verdade, é justamente o contrário. Da forma como a pessoa é, “ensinada ou educada” todo o processo da
imposição dos meios da escola, suas exigências, seus métodos se confundem em
sua mente, restando, apenas, uma visão estereotipada da realidade e do mundo
onde ela irá viver. Assim, ela agirá sempre a serviço do poder isolado da
indução que lhe é feita e que encabeça sempre os processos educativos que
temos.
Primeiro
é dada a ordem, estabelecida a disciplina, imposta a norma, definidos os
processos, e, claro, o cérebro vai
absorver as coisas nesta ordem. A indução é que vale, a imposição é que conta,
e, desta forma, o poder se constitui, mantendo-se a opressão, a exploração, a
violência, o caos no mundo. Por exemplo, de tanto ouvir que o jogador Neymar é
bonito, nós absorvemos isto como realidade (mesmo que, na verdade, não seja); a
copa do mundo é boa para o Brasil, nós acreditamos; o governo é bom, nós
acreditamos, os machos mandam, nos acreditamos, os negros não prestam, nós
acreditamos, e assim, sempre. O seu salário só vale isto, o moço branco de
olhos azuis é o herói da novela, e, portanto, é também o herói da vida. E assim
sempre. Sendo, exatamente na educação que se produzem estas bases sociais e
políticas e contra elas é que lutamos de forma veemente.
É neste processo que se conduz a percepção das
pessoas, e, é nele que se impregnam os
elementos que constituem a consciência política, a sua forma de viver,
trabalhar, acreditar, e, na maioria das vezes, sofrer e ser explorado pelo
sistema maior e sem nunca se dar conta disso. Pois a educação alienante meio
que nos anestesia, torna-nos cegos e apáticos a respeito de todo o contexto
conflitante da vida e seus aspectos gerais em nossa volta. E o que é mais
grave, os educadores em geral e os professores em particular estão muito longe
de saber disto, talvez nunca o descobriram, pois os sistemas de poder criam uma
barreira instransponível, justamente, para isto, que é, em síntese, a forma
como os educadores são formados e a estrutura do sistema educacional onde eles
trabalham que a isto favorece ininterruptamente.
Para evitar este massacre mental,
nós precisamos estar atentos a alguns pequenos detalhes que vamos combinar aqui
para o nosso encontro: a) todos se tratam por Você e pelo próprio
nome (nada de senhor, senhora, professor, tio, tia, etc.); b) não devemos nos justificar ou explicar; c)
não temos a obrigação de acertar, vamos apenas tentar para aprender. Pois não buscamos resultados, mas processos de
aprendizagem. Assim:
01 – Ninguém é obrigado a
concordar ou a discordar. Dê a sua opinião, de forma sincera, autêntica e a
qualquer hora. Levante a mão quando tiver vontade – o que será uma ação
soberana. Você terá o imediato direito de falar naquele justo momento
(indução e dedução simultâneas). Aproveite o ímpeto, o “insight”, é
nesta hora que você deve expor suas ideias, sentimentos, o que lhe agrada ou
incomoda. Ponha pra fora. Não engula nunca. Não queira morrer de câncer mais
tarde. Se você esperar o outro terminar de falar, a sua vontade já passou, você
já engoliu o desejo e já aprendeu inconscientemente a ser passivo, a aceitar as
imposições, e, de certa forma, a ser manipulado, explorado. É assim que se
montam os esquemas de poder e exploração que tão bem se disfarçam ao longo da
história humana.
02 – Na vida, nós disputamos os
meios de sobrevivência, os bens, o dinheiro, etc. Aqui, enquanto aprendemos,
nós temos o tempo, as palavras e as ideias.
É preciso, portanto, que sejamos conscientes e racionais no uso destas coisas,
senão só dará confusão e aborrecimentos. Tudo deve ser harmonicamente
distribuído, usando, para isto uma estratégia política, de forma que todos se
beneficiem, se sintam satisfeito, tenham chances de falar, de ouvir, de concluir,
de discordar, de questionar, etc. Teremos então um(a) COORDENADOR(a) DO
TEMPO, escolhido(a) pelo grupo, que definirá quantos minutos cada um tem o
direito de usar naquela intervenção, dependendo da dinâmica do trabalho, do
tamanho do grupo e da importância do assunto.
Claro que contamos com o bom-senso de cada um,
pois todos querem falar, precisam ouvir, intervir, dar opinião, expor suas
ideias. Vamos, então, procurar ser o mais rápidos possível – ligue “o próprio desconfiômetro”. Esta proposta deverá ser, prontamente, respeitada até que o grupo
cresça, e, mais tarde isto possa acontecer de forma
natural, espontânea e sem problemas, quando não mais precisaremos dela, com um
grupo mais coeso, maduro e consistente, que é o que esperamos.
03 – No final da EXPOSIÇÃO DE
CADA TEMA, teremos um momento de ARGUMENTAÇÃO LIVRE que
poderá ser um cochicho entre os pequenos grupos; um rodízio de opiniões ou
depoimentos, levando as pessoas a expressarem suas ideias, sentimentos,
dúvidas, concordâncias, discordâncias sobre o que foi tratado.
04
– Terminado este momento faremos uma CONCLUSÃO GRUPAL, para a qual
escolheremos um(a) SECRETÁRIO(a) CONCLUSOR(a) que irá facilitar o trabalho. De pé ele(a)
irá indagar às pessoas sobre o que elas concluem. Escreverá a síntese no quadro
e todos poderão sugerir correções, complementações, emendas, até o grupo ficar
plenamente satisfeito. Feito isto, o(a) Secretário(a) irá escolher uma pessoa
para defender, explicitamente, a conclusão, pedindo ao grupo que vote nela. Em
seguida, escolherá outra pessoa para atacar a conclusão, pedindo ao grupo que a
rejeite, o que faz parte do laboratório de aprendizagem. Pois na vida,
encontraremos sempre ideias múltiplas e até antagônicas e deveremos saber lidar
com isto, por esta razão é que exercitamos esta prática aqui. Após a defesa e o
ataque o(a) Secretário(a) irá pedir os votos a favor da conclusão, contá-los e
registrar o total no quadro e fazer o mesmo com os votos contrários. Se a
conclusão não for aceita, começa-se tudo de novo, a partir da conclusão, é
claro.
05 – Escolhida a conclusão chegou
a hora de planejar a sua execução. Será então escolhido pelo(a) Secretário(a)
Conclusor(a) um(a) PLANEJADOR(a) que irá ao quadro e colocará as
perguntas básicas:
·
O que fazer?
·
Quem vai se responsabilizar por este fazer?
·
Quando fazer?
·
Com o que fazer? Quanto irá custar?
·
Alguém poderá ser prejudicado? Quem?
·
Que processos e que resultados esperamos?
·
Como otimizar as soluções? É possível?
Agindo desta
forma nós estaremos realizando o verdadeiro aprendizado, constituindo o que
poderíamos chamar de “educação”. Formando, assim, autênticas lideranças o que
envolve: indução e dedução simultâneas.
Argumentação, sistematização e conclusão de aprendizagem e
de aplicação. Este pode ser o grande segredo do método educativo que as escolas
convencionais insistem em não usar, justamente, porque a sua ação não é
educativa, mas alienante. Que treina, massifica, confina o ser humano. O
sistema maior quer gente passiva, explorável e manipulável, e, claro, para
isto, cria e mantém a escola, obrigando as pessoas, pelos regimes legais a frequenta-las,
obedecê-las e ter êxito em suas atividades, propostas e tarefas.
06 – Finalmente, podemos escalar
uma ou mais atividades de entretenimento, lazer, música, dança, massagem,
relaxamento, descontração o que será previamente combinado com o Coordenador e
negociado um limite flexível de tempo, para que não se prejudique o andamento
dos trabalhos, atendendo, assim, seus objetivos. É sempre muito bem-vindo um
encerramento fraterno, lúdico e recreativo de cada um destes momentos,
aproveitando a oportunidade para que as pessoas se toquem, troquem abraços,
reflexões, levando o grupo a se sustentar de forma melhor, afetiva, integrada,
confiável e mais coesa.
07 – Após um breve intervalo reiniciam-se
os trabalhos.
VERDADEIRA POSTURA DE APRENDIZAGEM....
...o que buscamos é a ampliação
da nossa mentalidade, da percepção e a mudança
de comportamento, esperando sair daqui seres melhores do que entramos: mais
abertos, mais cultos, flexíveis, modernos, contemporâneos, facilitadores de
processos de mudanças para as melhorias, para todos, enfim, líderes, atuantes,
transformadores das muitas realidades que nos cercam.
Para tanto, temos que ir muito
além do que os modelos convencionais de “educação” têm demonstrando ao longo da
história, do tempo, da pseudo-evolução da humanidade. Nossas escolas não
educam, não ensinam, elas, ao contrário, adestram, confinam, treinam em função
de interesses ideológicos outros e têm, para isto, razões políticas
inconfessas, que, muitas vezes, nem seus agentes conhecem em função da
ingenuidade política e crítica que lhes é imposta, estrategicamente, até por
meio da formação profissional pelas licenciaturas e a pedagogia
instrumentalista e burguesa.
Os professores, coitados, se dedicam a este
plano fatídico de reduzir, ao invés de ampliar a visão, a consciência, a
educação das pessoas e são – o que é pior – induzidos a acreditarem que fazem,
justamente, ao contrário. Nesta perspectiva, eles não ganham pouco – como
sempre dizem e reclamam – mas ao contrário, recebem muitíssimo, pois se
analisarmos no sentido amplo dos processos, o que fazem, de uma maneira geral,
é piorar as pessoas, tornando-as frágeis, secas e exploráveis. E explicamos
porquê:
01 – O verdadeiro aprendizado só
existe quando ocorrem: a) a indução e a
dedução simultâneas (do particular para o geral e do geral para o
particular, ao mesmo tempo); b) argumentação
(exposição de impressões, troca de ideias, discussão, etc.); c) sistematização, (ou seja, a
exteriorização das novas descobertas, dos novos “insigths”, ou formas diferentes e mais evoluídas de ver, pensar,
elaborar conceitos e fazer as coisas a
respeito do tema discutido); d) conclusões de aprendizagem – o que foi
que aprendi com isto? Que novos conhecimentos se agregaram ao meu saber a
respeito? E, finalmente, conclusões de
operacionalização – Ou seja, que eu
vou fazer com o apreendido? Para que serve, qual a sua aplicação? Quem se
favorece e quem se prejudica com isto?
Só assim, o ciclo de aprendizado estará completo e a pessoa “educada”
passará, então, a dominar, quase que inteiramente o assunto tratado; ainda que
provisoriamente, pois as coisas mudam, se transformam o que levará à
necessidade de aprender de novo e, assim, sempre. Fora isto, pode ter tudo,
menos aprendizado ou educação, o que é, infelizmente, o que as nossas escolas
fazem.
02 – Lembre-se que muito além do
saber monádico do: está dito e escrito, é assim e pronto, da ciência
medieval. Temos depois a dialética aristotélica que implica na
construção e desconstrução dos conceitos, do sim e do não, do afirmar ou negar,
etc. O saber hoje é tridimensional por todas as óticas: a) pela ciência:
teoria, prática, práxis; b) pela
filosofia: maiêutica, metafísica, sabedoria; c) pela comunicação: verbal,
não-verbal e factual; d) pela política: direita, centro, esquerda; e) pela
sociologia: estruturalista, materialista, conjuntural; f) pela administração:
eficiência, eficácia, efetividade; g) pela religiosidade: cristã, mística,
agnóstica; h) pela exteriorização: estética, arte, cultura. Entre o sim e o não
existe o talvez, entre o preto e o branco existe o cinza, entre o claro e o
escuro, existe a penumbra e todos devem ser igualmente considerados no aprender
real das coisas. Portanto, nada é completamente certo ou completamente errado.
Pois, além de objetivo, o saber é, ao mesmo tempo, subjetivo e intersubjetivo.
Portanto, antes de criticar alguém sobre os seus saberes ou considerá-lo
radical, parcial, certo ou errado, pense nesta complexidade, que apenas começa
aqui, rumo ao infinito. Muito dificilmente, algo estará, absolutamente, correto
nas três dimensões. E, ainda assim, entra em jogo a forma de ver, de pensar, o
histórico de vida e o momento histórico que cada um atravessa. O que leva a
pessoa a ver, a entender, a aceitar, negar e elaborar conceitos diferentemente,
o que precisa ser respeitado, assim como os critérios para se produzir
conhecimento, ciência, mística, ação política e demais projetos para a
construção de uma sociedade melhor.
Conhecer, aprender, saber é,
portanto, estar pronto para esta ciranda mágica que leva o aprendiz para vários
pontos: ler, escrever, entender, questionar, criar e recriar o saber existente,
pois além de tudo, o saber é ontológico, nasce dentro de cada um e deve ser
exteriorizado para que a humanidade faça dele o devido uso. O ser “educado”
deve ser capaz de enxergar por várias óticas, tons e formas. E escolher entre o
que quer, o que gosta, enfim, o que for melhor para ele, sua história, seu
contexto, suas metas. Isto não se fecha
nunca, pois embarcamos no campo infinito do saber, do conhecimento, da
sabedoria, da filosofia, da epistemologia, e, assim, sempre...
03 – Devemos ter uma postura de
prontidão real para o verdadeiro aprendizado: querer aprender e nos
auto-autorizar para que tal fenômeno aconteça de fato. Pode parecer bobagem,
mas temos inúmeras barreiras e amarras inconscientes obstáculos psicológicos
para que não aprendamos, e, portanto, não mudarmos nossas formas de perceber,
de agir, não conquistando, desta forma, o que for melhor para nós. Por isso,
diga para você mesmo: “EU ME AUTORIZO A
APRENDER. EU QUERO APRENDER. OU VOU FIXAR O QUE FOR IMPORTANTE, TORNANDO-ME UMA
PESSOA MAIS LÚCIDA, MAIS ATIVA, MAIS CAPAZ. E VOU, FINALMENTE, MUDAR A MINHA
FORMA DE AGIR”. Além disso, devemos, igualmente, cumprir todas as fases e
etapas que completam o ciclo da
verdadeira aprendizagem, assim:
a) Responsabilizar-me-ei por
todas as tarefas, estudos, leituras, pesquisas, participações, reflexões, etc.
b) Atenderei a todas as
manifestações verbais, escritas ou corporais a mim solicitadas. Caso não
assuma, não valem quaisquer pedidos de desculpas, justificativas e outras
formas de legitimar a omissão e ficar por isso mesmo.
c) Assumirei os resultados da minha possível
não-participação de forma plena em qualquer fase, atividade ou tarefa aqui
proposta.
d) Vou participar integralmente,
com interesse, afinco e motivação de todos os momentos de aprendizagem
oferecidos, modificando-os quando necessário, para que a aprendizagem seja
rica, frutífera, prazerosa.
e) Não tomarei uma posição
auto-defensiva, entendendo que tudo o que se discute é de cunho impessoal, sem
culpas definidas e de responsabilidade de todos. A crítica deve ser repensada,
de teor dialético e de validade para todo o grupo.
04 – Vamos suprimir todas as
formas diversificadas de tratamento, títulos, grau de parentesco, etc. Todos
aqui se tratam educada e respeitosamente por você, o próprio nome ou outra
maneira negociada, como apelidos carinhosos ou outras maneiras como a pessoa
gosta de ser chamada. Pode parecer pouco importante, mas o tratamento de
senhor, senhora, doutor, doutora, tio, tia, professor, professora, etc –
tratamento vertical e hierárquico – dificulta as formas democráticas de
tratamento e distancia as pessoas. Dando a elas graus de importância maiores ou
menores, o que dificulta o real aprendizado, que é o que aqui buscamos. Vamos
usar o tratamento horizontal, igualando todos nesta relação formal ou informal
que engrandece as relações e aproxima as pessoas. Pois é isto que nos
interessa, ninguém é mais ou menos importante.
05 – Se não estivermos prontos e
abertos à aceitação da crítica, então teremos que mentir e blefar o tempo todo,
o que coloca por terra a metade do nosso trabalho. Podemos, contudo,
questionar, desconsiderar e rebater a crítica até nível de réplica ou tréplica,
não mais que isto. Pois, por mais absurda que possa parecer, toda crítica é bem-vinda
como fonte de reflexão/ação. Nada de bate-bocas infinitos, incabíveis que negam
e distanciam a busca da evolução. Não temos tempo para isto, precisamos
respeitar aos demais colegas, a quem pode não interessar tal assunto. E, de
mais a mais, ninguém precisa convencer ninguém de nada. De que está certo ou
errado. O que precisamos aqui é abrir processos e mostrar perspectivas de novas
realidades possíveis. Tenhamos bom-senso no uso do tempo e no aluguel do ouvido
alheio. Se sentirmos que o assunto não é do interesse de todos, daremos logo um
jeito de parar. Ao fugir do foco, qualquer pessoa deverá se expressar da
seguinte forma: “OLHA O FOCO!” Esta expressão terá autoridade máxima e será
cobrada uma prenda da pessoa que persistir no assunto ou tema, seja ele qual
for. Só deve ser discutido no grupo o que interessa ao grupo.
06 – Principalmente, nada de
julgamentos pessoais e histórias particulares infinitas e fora do contexto que
são inimigos mortais de toda a discussão, explanação ou aprendizados plenos e
inteligentes. Tudo o que for discutido aqui será em nome da ciência, da
política, da filosofia, da dinâmica social mais ampla, sem rosto definitivo e,
portanto, sem evidências claras para este tipo de questinonamento. Vamos
discutir por meio de parâmetros mais amplos e evolutivos e não, por demandas
pessoais competitivas, vaidades feridas ou posicionamentos coercitivos, pobres,
difusos, tacanhos ou infundados. Aqui vale tudo em termos de ideias, concepções
e princípios, desde que, lógico, respeitemos a dignidade pessoal e a
integridade física, moral, ética e psicológica (das pessoas, do grupo, da
cidade, da realidade macro que nos cerca) em todos os seus aspectos.
07 – No nosso caso, o senso de
humor é absolutamente fundamental. Vamos, sempre que possível, trocar a ira
pela risada. Nada mais sublime do que saber rir de si mesmo e de suas próprias
mazelas, dificuldades, ingenuidades, ignorâncias. Saber rir das coisas certas,
ter o princípio de não perder a piada. Ao invés do questionamento repulsivo,
vamos levar a coisa para o campo da alegria, da desconcentração, da ludicidade,
da brincadeira. Para quem quer evoluir o senso de humor é, absolutamente,
essencial.
08 – Será cobrado de todos, a
cada término de unidade o comprometimento de alguma medida, alguma ação, etc.
que terá caráter definitivo e permanente, com compromisso assumido verbalmente,
perante o grupo, tanto para o evento, como para depois dele. Pois a discussão
infinita sem a efetiva mudança de comportamento e de ação é algo inútil e,
definitivamente, não para o que estamos aqui.
O cumprimento ou não, será de foro íntimo, mas
entendemos que, frente ao conjunto de objetivos que aqui propomos, espera-se
que ninguém irá e nem precisará assumir o que não irá cumprir. Pois tudo faz
parte do processo real de aprendizado que aqui buscamos, sem o quê, tudo isto
não passa de uma autêntica perda de tempo. Pois nossa meta maior aqui é nos aprofundar e nos mudar naquilo que for necessário para
assim, fazer a diferença, mudar as coisas que nos incomodam.
09 – Aqui ninguém é obrigado a
fazer nada. Devemos negociar tudo, assumir de frente nossos erros e omissões,
se for o caso. No final, você tem o direito de negar, desde que apresente uma
contraproposta. Estamos aqui formando lideranças e este é, sem dúvida, o
comportamento e a escolha que diferencia o verdadeiro líder dos demais. Não
fazer por não fazer, definitivamente, não faz parte do nosso plano de trabalho.
Devemos contextualizar nossas ações aos nossos desejos, optando, desde agora,
para a construção daquilo que for, de fato, melhor para todos. Ou pelo menos,
melhor para a maioria, dentro de um plano de trocas e de negociações múltiplas,
claras, explícitas.
10 – Todas as normas aqui
expostas deverão ser, o tempo todo, transformadas, adaptadas, e, finalmente,
suprimidas, quando o grupo se sentir pronto e autônomo para caminhar sozinho e
não mais precisar delas. Quanto mais normas deixarem de existir e de serem
úteis, melhor. Para efeito de aprendizagem os atrasados, faltosos; “pedidores
de desculpas” por omissão ou erro; quem
usar quaisquer títulos de tratamento,
pagarão prendas em tempo oportuno e horário definido pelo grupo em sua
maioria. Este pagamento não deverá, sob nenhuma hipótese, ser encarado como
forma de castigo, mas um recurso psicológico para se ter acesso e manter o
aprendizado. Deverão ser, preferencialmente, fundamentadas na brincadeira, no
aspecto lúdico, levando o grupo a se divertir, descontrair, se alegrar. Pois, a
alegria, o riso contagiante e conjunto, é, sem dúvida, a melhor de todas as
estratégias e técnicas para o aprendizado. Pois, aprendendo feliz se aprende
melhor e se torna, sem dúvida, um ser melhor nas mesmas proporções.
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