
Descoberta e uso de novas técnicas, para a solução dos problemas organizacionais, educacionais, humanos, sociais e ecológicos (por meio de consultorias, pesquisas, workshops, cursos e afins) com vistas à busca da melhoria da qualidade da vida humana frente a crise histórica que as sociedades contemporâneas enfrentam com a chegada do terceiro milênio. Contatos: antoniocneto@terra.com.br
sábado, 29 de dezembro de 2007
BENAZIR

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Deus escolhe as mães

Erma Bombeck
WOOD ALLEN
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
PARA SARAH, RAQUEL, LIA...E TODAS AS CRIANÇAS

Eu queria uma escola que cultivasse a curiosidade
Deus que livre vocês de uma escola em que tenham que copiar pontos.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
BRUNA LOMBARDI

Pessoa de não-númerosFotos prontas, voltamos ao papo. A atriz não liga para números. Não sabe dizer há quantos anos é casada com Riccelli (seu filho tem 25 anos) nem quanto pesa. Não usa relógio nem lembra que livros leu. "Não contabilizo a vida. Gosto de viver o momento", explica. Talvez por isso, se confundiu ao confirmar à reportagem da Tpmque tem 50 anos, quando todas as fontes pesquisadas atestam 55 (ela teria nascido em 1º de agosto de 1952). O fato é que Bruna está ainda mais bonita do que já era na época de modelo, ou quando posou nua, há 16 anos.Mas, desde que Bruna Lombardi virou nome auto-explicativo, outras pessoas ordenaram os anos de sua vida. Aos 15, a garota que ganhava concursos de poesia e andava com os meninos na escola virou modelo. Em 1977, estreou como atriz em Sem Lenço, Sem Documento, da Globo. No total, foram oito novelas, quatro minisséries e seis filmes. Além disso, comandou durante dez anos o programa Gente de Expressão na TV Manchete e, depois, na TV Bandeirantes. Foi quando entrevistou figuras como os atores Dustin Hoffman e Kevin Costner e Harrison Ford. Bruna escreveu três livros de poesia, dois romances e, agora, lança O Signo da Cidade, segundo longa em que assina o roteiro (o primeiro foi Stress, Orgasms and Salvation). Bruna nunca foi habituée de revistas de fofoca. Sabe-se que ela é linda, simpática, inteligente e tem uma "família feliz". Mas a mulher que não demonstra insegurança, adora plantar árvores, protege os animais e busca o autoconhecimento não é uma personagem, nem sua vida um conto de fadas. Não existe milagre. Tudo é uma questão de coerência. Ou de incoerência.
Tpm. Há incoerência na vida de Bruna Lombardi? Bruna Lombardi. Meu temperamento. Se você estiver na minha casa enquanto trabalho, vai ver que sou superzen. Mas às vezes me dá uns cinco minutos, tem um lado meu que é descontrolado, meio italiana.Me sobe o sangue se alguém falar ríspido. Vou dar um exemplo: uma vez eu estava num posto de gasolina na estrada e vi um caminhoneiro jogando pedra num cachorro. Desci do carro... O Ri falou que só viu uma criatura pequena fazendo assim [apontando o dedo] para um gigantão.Talvez essas perdas de controle tenham te feito bem, afinal, você chegou aos 50 mais bonita que aos 30. Como construiu sua vida até aqui? Olha, qualidade de vida é fundamental. Eu entrevistei muitas mulheres no planeta inteiro e vi muitas lindas que tinham uma espécie de tensão. Quando a gente fica tensa, fica feia. Imagina a vida inteira assim. Se você não busca equilíbrio, é complicado.Você disse que não contabiliza a vida e se esquece do que passou. Como é isso? Não sou uma criatura de guardar memórias. Outro dia, o Ri me mostrou um livro e falou: "Você lembra desse livro?". Eu falei: "Não". Era O Livro dos Segredos, do Osho. Ele perguntou: "Você nunca leu?". Eu falei: "Não lembro". Ele falou: "Só que você fez o prefácio dele". Quando li o prefácio, achei tão maravilhoso. Tão certo com o que eu achava naquele momento. Uma amiga minha falou: "É muita coerência". Mas eu nunca me achei coerente. Você nunca fez plástica mesmo? Vou fazer em breve [risos]. Tô brincando, mas vou fazer, sem dúvida. Um lifting na hora certa. Quando você descobriu que era bonita? Descobri isso de tanto que me falavam. Mas nunca fui encanada. Quando era modelo, eu ia fazer foto de uniforme de escola, usava rabo-de-cavalo. Me arrumavam inteira, fazia a foto, pra mim era um personagem. Daí me desmoronava inteira e voltava de uniforme pra casa. Como começou a ser modelo? Eu fazia aula de dança, e um cara de uma agência foi numa apresentação e me convidou pra fazer umas fotos. Aí foi muito rápido, eu até queria meio que me esconder... Era tímida? Não, eu era moleque. Lacinho, bolsinha cor-de-rosa, não eram meu estilo. Eu andava com os meninos, ia para a rua. Como foi sua infância? Eu era curiosa, queria viver tudo, acelerada. Sou filha temporã, meu irmão é dez anos mais velho. Meu pai era cineasta. Minha mãe, atriz. [Bruna é filha do diretor de fotografia Ugo Lombardi e de Yvonne Sandner]. Tínhamos grandes conversas. Uma família italiana, em que todo mundo sempre falou junto. Foi na primeira vez que assisti a um filme americano que vi que uma pessoa falava e a outra ouvia. Aí dava uma pausa, a outra respondia. Falei: "Que engraçado! Eles param e ouvem". Por que seu pai veio para o Brasil? Veio com minha mãe e com meu irmão nos anos 50, quando vários técnicos de cinema da Inglaterra e da Itália foram convidados para montar a Vera Cruz aqui. Ele era um aventureiro que saiu de Roma para isso. Trabalhou com Fellini, Rossellini, Vittorio de Sica. Veio para o Rio, onde nasci. Com uns 8 anos nos mudamos para São Paulo.
Aos 25 anos, Kim estréia como ator em O Signo da Cidade, dirigido pelo pai e com roteiro da mãe; Bruna atesta o talento no papel de Diadorim, uma mulher que se passa por homem na adaptação de Grande Sertão: Veredas para a TV, em 1985.
E como você era na adolescência? Muito atirada para as coisas. Tenho um lado de me jogar e, ao mesmo tempo,uma coisa para dentro, para coisas que me interessam de verdade. E eu já era assim pequena. No pré, ainda não conhecia livraria, mas já ia para a biblioteca da escola. As colegas já pediam para eu escrever ensaios para elas. Fui reconhecida rápido. Era a única Bruna da escola, praticamente do país. Quando você decidiu ser atriz? Cedo. Fiz jornalismo e propaganda e marketing, mas ser atriz era um caminho natural por causa dos meus pais. Talvez por eu ter começado a trabalhar como modelo também. Um te maquia, outro te veste, você é personagem das pessoas. Eu nunca fui aquela menina que sonha em ser modelo, atriz. Tudo na minha vida veio antes de eu querer. Até o marido [risos]? Sempre fui de namoros longos, mas o Ri mudou tudo [Bruna conheceu o marido durante as gravações da novela Aritana, em 1978].Sua relação com o Riccelli passa uma imagem de ser perfeita. Vocês são lindos, inteligentes, trabalham juntos... E é assim mesmo, a gente não está mentindo. Para você ter uma idéia, na minha casa quase não tem parede. Estou ficando cada vez mais transparente. E o que o Ri e eu somos juntos é de verdade. É difícil você encontrar uma pessoa e acertar o passo. O Ri e eu crescemos juntos. É uma sorte, um pequeno milagre. Não sei como se constrói uma relação. Sei é que tem trabalho, não vem pronto. E até hoje fico perplexa com o olhar dele para mim. É legal ter alguém que te olha apaixonadamente.Você planejou isso? Nunca. Nem nos meus sonhos mais selvagens [risos]. Não fui criada para casar numa igreja de branco, tanto que não casei. Aliás, nunca me casei. Meu sonho era viajar, conhecer lugares remotos, ser a primeira a pisar em territórios. Imaginava que talvez fosse uma grande repórter. E nunca pensei que teria alguém para compartilhar minha vida. Imagina o quanto me surpreende a vida que tenho! Você teve só um filho por opção? Porque eu quis. Minha vida era complexa e eu achei que ia dar conta de criar muito bem um.A gravidez foi planejada? Não, foi surpresa. E me dei ao luxo de parar de trabalhar. Fazia umas fotos, umas campanhas, ganhava uma graninha, mas trabalhar mesmo não trabalhei. Depois de três meses que o Kim nasceu, precisei voltar à ativa porque tinha contrato. Aí me joguei na vida de novo e fui criando o Kim.Como é a relação de vocês? Nunca fui em busca dos papéis sociais que uma família tem ou parece que tem. Nunca falei: "Agora o papel de mãe, eu preciso agir dessa maneira", ou o papel de esposa. Não achava que eu tinha que preencher essas lacunas sociais. Então, minha relação com meu filho sempre foi quase de amigos. Em nenhum momento essa relação atrapalhou sua autoridade como mãe? Se você tem uma autoridade, ou ela é liberal demais, daí vem a idéia do limite, ou ela é limitada demais, daí vem a rebeldia. Se você coloca como: "Vamos ver, é a primeira vez para nós dois", não precisa impor limites. Sempre teve muita conversa, troca.
Estamos falando de papéis. Hoje os papéis estão confusos nas relações. Por exemplo: quantas vezes nos ofendemos se o cara quer pagar a conta e, ao mesmo tempo, cobramos uma postura de cavalheiro em outra situação? Acho lindo isso nas mulheres, essa coisa confusa que a gente é. O homem que tem humor para olhar para isso é bacana.De onde veio a idéia para o filme O Signo da Cidade? Queria contar várias histórias, com muita gente e muitos temas. Entre outras coisas, queria falar sobre como a vida da gente é conectada. Não adianta eu ser feliz sozinha, nenhum homem é uma ilha. Como você encara as possíveis críticas negativas ao filme? Sabe que nunca penso nisso? Na estréia na Mostra do Rio, muitos homens choraram [o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo, confessou, no blog do Estadão, que chorou no filme de Bruna]. Isso mostrou que o filme derruba defesas. O Fernando Meirelles disse que, se um personagem não te pega, vem outro e,"pim", pega. Minhas coisas têm sido acima do que espero. Imagina, fiz a letra de "Sozinho na Cidade", o Ri fez a música e o Caetano gravou. Também fiz a letra de "Sorte", que a Maria Bethânia gravou. É difícil acreditar nos dois interpretando letras minhas no filme.Quando você atua, tem alguma vaidade na escolha de seus personagens? Não. Já fiz vários trabalhos, como Diadorim [personagem de uma mulher que se passa por homem, na minissérie adaptada do clássicoGrande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa], em que precisava estar medonha. Mas teve momentos em que muita gente falava: "Você precisa se enfeiar pra ser levada a sério". Meus editores falavam que eu não podia misturar meu lado bonito, glamoroso como lado escritora. Mas não me prendi a essas jaulas para ser aceita.E, na vida, você é vaidosa? Ah,todo mundo é. Mas meu sonho é ser mais vaidosa. Porque sou muito trabalhadora, então sou vaidosa "espelhinho do carro", sabe? Meu cabeleireiro me liga e fala: "Você precisa vir, você é louca! Quer que eu vá aí?".Você gosta de esportes? Nunca fui de esportes. O Ri é superesporte, eu sempre fui voltada pra expressão. Mas faço ioga há mais de dez anos.E a sua alimentação? Nunca faço dieta. Não acredito em fazer coisas contra sua vontade. Claro, de vez em quando você fala:"Exagerei, deixa eu dar uma maneirada". Mas tem alguns pecados que eu adoro: vinho, mandioca frita, pizza. E não me peso! Sou uma pessoa de não-números. Não sei há quanto tempo casei, por exemplo. Sempre fui assim. Uma vez fui levar o almoço pro meu filho na escola - ele havia esquecido no carro - e não sabia a série em que ele estava [risos], não tinha a menor idéia. Você tem medo de envelhecer? Isso é inevitável, mas tem coisas que me preocupam muito mais do que isso. O que está acontecendo com o planeta, por exemplo. Se envelhecer fosse problema, que alegria. Uma hora você vai ser escalada tipo Conduzindo Miss Daisy [filme norte-americano de 1989, que tem como personagem principal uma senhora de idade]. Mas deve ser legal viver esse momento porque senão sua vida acaba antes.Tem gente que me encontra e fala: "Ai, a época da faculdade". Adorei a faculdade, mas não queria estar nela agora, porque eu estou onde estou. Não tenho isso de olhar pra trás.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
MEUS PAIS FORAM UNS MONSTROS

domingo, 18 de novembro de 2007
AVISO

Quando eu envelhecer
vou usar púrpura
com chapéu vermelho,
que não combina
nem fica bem em mim.
Vou gastar a pensão com uísque
e luvas de verão,
sandálias de cetim - e dizer
que não temos dinheiro para a manteiga.
Vou sentar na calçada quando me cansar,
devorar as ofertas do supermercado,
tocar as campainhas,
e passar a bengala nas grades das praças
e compensar toda a sobriedade da minha juventude.
Vou andar na chuva de chinelos,
apanhar flores no jardim dos outros
e aprender a cuspir...
A gente pode usar camisas
horríveis e engordar à vontade
comer um quilo de salsicha de uma vez
ou só pão com picles a semana inteira
juntar canetas, lápis, bolachas de cerveja
e coisas inúteis em caixinhas.
Mas por enquanto, temos de
usar roupas que nos deixem secos,
pagar aluguél, não dizer palavrão na rua
e ser um bom exemplo para as crianças.
Temos de ler jornal e convidar amigos para jantar.
Mas quem sabe eu deveria treinar um pouco agora?
Assim os outros não vão ficar chocados demais
quando, de repente,
eu for velha e usar vestido púrpura, me sentar no chão,
dar boas gargalhadas, não cumprir horários,
falar com desconhecidos,
entrar sem pedir licença,
me divertir na rua, e...
começar tardiamente a fazer tudo
o que eu tinha que ter feito a vida toda.
(Jenny Joseph)
sábado, 17 de novembro de 2007
ECOLOGIA PROFUNDA: UM NOVO RENASCIMENTO

Só uma mudança radical na percepção dos males planetários, acima de diferenças sociais, culturais e raciais, pode garantir a vida das gerações futuras em um mundo sustentável.
(*)Fritjof Capra
Hoje, a maioria das pessoas concorda que os anos 90 constituem uma década crítica. A sobrevivência da humanidade e do planeta está em risco. Os anos 90 e os primeiros 50, dos anos 2000 – no mínimo – representam décadas do meio ambiente, não porque nós decidimos assim, mas por causa de acontecimentos que quase fogem ao nosso controle. A preocupação com o meio ambiente não é mais uma entre muitas questões; ela é o contexto de tudo mais: nossas vidas, nosso trabalho, nossa política.
Estamos hoje diante de uma série de problemas globais que prejudicam a biosfera e a vida humana de maneiras tão alarmantes que logo podem se tornar irreversíveis. Temos vasta documentação sobre a extensão e significado desses problemas. Uma das melhores fontes é a série de relatórios anuais State of the World (Situação do Mundo), publicada pelo Worldwatch Institute (Instituto de Vigilância Mundial).
Na avaliação da “saúde ambiental” do planeta estes relatórios observaram as mesmas tendências alarmantes ano após ano. As florestas do mundo estão desaparecendo, enquanto os desertos se expandem. A camada superior das terras cultiváveis está diminuindo, enquanto a camada de ozônio, que nos protege dos raios nocivos ultraviletas, é destruída. A concentração de gases retentores de calor está aumentando enquanto o número de espécies de plantas e animais diminui. A população mundial continua crescendo. E a diferença entre ricos e pobres, também.
Quanto mais observamos os grandes problemas do nosso tempo, mais percebemos que não podem ser resolvidos isoladamente. São problemas sistêmicos – inter-relacionados e interdependentes. Estabilizar a população do mundo só será possível quando a pobreza for mundialmente reduzida. A extinção de espécies animais e vegetais continuará em escala maciça enquanto o Terceiro Mundo estiver sobrecarregado de dívidas. Somente interrompendo a escalada armamentista teremos recursos para evitar os numerosos impactos destrutivos sobre a biosfera e a vida humana.
Se observarmos atentamente a situação perceberemos que, em última instância, tais problemas são apenas diferentes facetas de uma única grande crise, que é, em essência, uma crise de percepção. Ela resulta do fato de a maioria de nós, especialmente nossas grandes instituições sociais, adotarmos conceitos de uma visão de mundo ultrapassada: uma percepção da realidade inadequada para lidar com o nosso mundo atual, superpovoado e globalmente inter-relacionado.
Ao mesmo tempo, pesquisadores da ciência mais avançada, vários movimentos sociais e numerosas redes alternativas estão desenvolvendo uma nova visão da realidade, que constituirá a base de tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais futuros.
De maneira que estamos no começo de uma transformação fundamental de visão de mundo na ciência e na sociedade; uma mudança de paradigmas tão radical quanto a revolução de Copérnico.
O paradigma que vai chegando ao fim dominou nossa cultura por vários séculos, durante os quais configurou a sociedade moderna ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma consiste em uma série de idéias e valores, entre eles a visão do universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento econômico e tecnológico e – por último, mas não menos importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda parte subordinada ao homem segue uma lei básica da natureza. Todas estas suposições têm sido categoricamente desafiadas por acontecimentos recentes. E, na verdade, elas estão passando por uma revisão radical.
Um Fio na Teia da Vida – O novo paradigma, que pode ser chamado visão holística do mundo, vê o mundo como um todo integrado e não, como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo “ecológico” for usado em sentido muito mais amplo e profundo que o habitual.
Este sentido mais amplo e profundo do “ecológico” está associado a uma escola filosófica específica e, além do mais, a um movimento global radical conhecido como “ecologia profunda”, que vai rapidamente ganhando destaque. A escola filosófica, fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess no início dos anos setenta, distingue ambientalismo superficial de ecologia profunda. Esta distinção hoje é largamente aceita como terminologia útil para referir-se à grande divisão dentro do pensamento ecológico contemporâneo.
O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza apenas um valor instrumental ou de uso. A ecologia profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Não vê o mundo como um aglomerado de objetos isolados, e sim, uma teia de fenômenos essencialmente inter-relacionados e interdependentes. A ecologia profunda reconhece os valores intrínsecos de todos os seres vivos e vê os seres humanos como apenas um fio particular na teia da vida. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza, e, em última instância, somos dependentes deles.
Finalmente, a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. Não surpreende portanto, que a nova visão emergente da realidade, baseada na consciência ecológica profunda, seja coerente com a chamada “filosofia perene” das tradições espirituais – quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou à filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos.
A teoria científica dos sistemas vivos, que se originou da cibernética de quarenta mas que emergiu por completo apenas nos últimos vinte anos mais ou menos, fornece a formulação científica mais apropriada de ecologia profunda, ou paradigma ecológico. Esta teoria vê o mundo em termos de relações e integração. Sistemas vivos são conjuntos integrados, cujas propriedades não podem ser reduzidas as das unidades menores. Exemplos de sistemas abundam na natureza. Cada organismo – da menor bactéria, passando pela vasta série de plantas e animais, até os seres humanos – é um todo integrado e, conseqüentemente, um sistema vivo. Células são sistemas vivos, como também o são os vários tecidos e órgãos do corpo: o cérebro humano é o mais complexo. Mas os sistemas não se restringem a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos pelos sistemas sociais – como a família ou a comunidade – e por ecossistemas que consistem de uma variedade de organismos e matérias inanimadas em mútua interação.
Todos estes sistemas naturais constituem totalidades cujas estruturas específicas surgem das interações e interdependência de suas partes. As propriedades do sistema são destruídas quando ele é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir as partes individuais em cada sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Por isso, a abordagem dos sistemas não se concentra em blocos isolados, mas sobretudo, nos princípios básicos de organização.
Mudando Para a Integração – Como os sistemas vivos cobrem uma ampla série de fenômenos – organismos individuais, sistemas sociais e ecossistemas – a teoria fornece uma estrutura e uma linguagem comuns para a biologia, a psicologia, a medicina, a economia e muitas outras ciências; uma estrutura na qual a tão urgente perspectiva e ecológica está explicitamente manifesta.
Uma propriedade dos sistemas vivos é a de formar estruturas de múltiplos níveis dentro dos sistemas. Cada uma delas forma um todo com relação às suas partes e, ao mesmo tempo, é parte de um todo maior. Assim, células combinam para virar tecidos, tecidos para formar órgãos e órgãos para formar organismos. Estes, por sua vez, existem dentro de sistemas sociais e ecossistemas. Por todo o mundo vivo, encontramos sistemas vivos residindo dentro de outros sistemas vivos. Uma das vantagens da abordagem dos sistemas é o fato de os mesmos conceitos poderem ser aplicados em diferentes níveis de sistemas, o que, com freqüência, leva a diferentes insights.
Até aqui enfatizei as percepções e o pensamento. Mas a ecologia profunda requer não apenas uma mudança de nossas percepções e maneiras de pensar. Ela também pede uma mudança correspondente em nossos valores e ações.
E aqui é importante notar a impressionante relação entre mudança de pensamento e de valores. Ambas podem ser vistas como a passagem da auto-afirmação para a integração. Estas duas tendências – a de auto-afirmação e a de integração – constituem aspectos essenciais de todos os sistemas vivos. Nenhuma das duas é intrinsecamente boa ou má. O que é bom ou saudável, é um equilíbrio dinâmico entre as duas; o que é mau ou não-saudável, é o desequilíbrio, a ênfase exagerada em uma tendência e a negligência da outra. No antigo paradigma, enfatizamos exageradamente os valores e modos de pensar auto-afirmativos e negligenciamos seus correspondentes integrativos. Existem diferenças de cultura para cultura; contudo, o que estou sugerindo não é a substituição de um modo por outro, e sim, o estabelecimento de um melhor equilíbrio entre os dois.
O pior, é que boa parte de nossas instituições estão conseguindo disfarçar com base no discurso, ou na implantação de medidas isoladas do pensamento integrativo – que na verdade, se anulam no seu cotidiano – e assim, empresas, instituições e pessoas já pensam e se dizem estar no caminho certo, tendo com isto, um álibi perfeito para continuarem a solapar muito mais a economia, explorar as pessoas, devastar a natureza e assim por diante, estando, portanto, muito mais a serviço da degradação e do caos. Claro que precisamos de muito, mas muito mais do que isto mesmo.
Tendo isso em mente, vamos analisar as várias manifestações da passagem da auto-afirmação para a integração. No que concerne ao pensamento estamos nos referindo à passagem do pensamento racional para o intuitivo, da análise para a síntese, do reducionismo para o holismo, do pensamento linear para o não-linear e complexo, da tendência materialista para a espiritual, do comprometimento elitista para uma visão global de sociedade, buscando beneficiar a todos e não a segmentos estanques.
No que concerne aos valores, estamos observando a uma transição correspondente da competição para a cooperação, da expansão para a conservação, da quantidade para a qualidade, da dominação para a parceria. E claro, relativisando tudo isto para a prática, o cotidiano, as ações concretas de cada um e do todo o potencial humano atuante num mesmo, ou em múltiplos processos.
Pode-se notar que os valores auto-afirmativos – competição, expansão, dominação, etc. – estão, em geral, relacionados com os homens. De fato, na sociedade patriarcal, eles não são apenas privilegiados, mas têm também recompensas econômicas e poder político. E esta é uma razão pela qual a mudança para um sistema de valores mais equilibrados é tão difícil para a maioria das pessoas, e, sobretudo, para a maioria dos homens. Este é também um forte motivo de uma aproximação natural entre a ecologia profunda e o feminismo, conforme expresso no ecofeminismo.
Oikos, Nosso Lar Terreno – Toda a questão dos valores é crucial para a ecologia profunda, ela é, de fato; a característica central que a define. Enquanto todo o velho paradigma, incluindo o ambientalismo superficial, está baseado em valores antropocêntricos (isto é, centrados no homem), a ecologia profunda se baseia em valores ecocêntricos (ou seja, centrados na terra). É uma visão de mundo que reconhece o valore inerente da vida não-humana. Todos os seres humanos são membros de Oikos, o Lar Terreno; a comunidade mundial que se une por uma rede de interdependências. Quando essa profunda percepção ecológica tornar parte de nossa consciência cotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá.
Tal ética ecológica profunda faz-se urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida, mas destruí-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do planeta, químicos contaminando o meio ambiente, os mananciais de água e de recursos naturais renováveis ou não, criando o efeito estufa, o aquecimento global do planeta; biólogos criando novos e desconhecidos tipos de microorganismos que se transformam em vírus nocivos sem saberem ou se responsabilizarem pelas conseqüências; psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso científico. Com todas estas atividades em andamento, revela-se importantíssimo introduzir novas posturas éticas na ciência moderna, num tempo em que já é quase tarde demais.
Em geral, na nossa cultura, não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua base ou força propulsora. Durante a revolução científica do século XVII, os valores eram separados dos fatos e desde esta época tendemos a acreditar que os fatos científicos são independentes do que fazemos, e, portanto, independentes de nossos valores. Na realidade, os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, ações e valores humanos – em uma palavra, de um paradigma – dos quais não podem ser separados. Embora boa parte da pesquisa científica possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma maior, dentro do qual a pesquisa é realizada jamais será isento de valores. Os cientistas, portanto, são responsáveis por suas pesquisas, não apenas do ponto de vista intelectual, mas também moral.
Por fim, a visão de que os valores são inerentes a toda natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só. Esta expansão do eu até chegar à identificação com a natureza é o fundamento da ecologia profunda, conforme reconheceu claramente Arne Naess: “O cuidado decorre naturalmente se o eu se expandir e aprofundar de maneira que a proteção da Natureza seja sentida e concebida como a proteção a nós mesmos...Da mesma forma que não precisamos de nenhuma moral para respirar(...), se o seu eu, no sentido amplo, abraçar outro ser humano, você não precisará de nenhuma exortação moral para demonstrar cuidado...Você o fará por você mesmo, sem sentir qualquer pressão moral para faze-lo...Se a realidade for como é experienciada pelo eu ecológico; nosso comportamento surgirá de maneira natural e graciosa às normas estritas da ética ecológica”.
O que isso implica é que a conexão entre a percepção ecológica do mundo e o correspondente comportamento não é uma conexão lógica, mas psicológica. A lógica não nos conduz do fato de sermos parte integrante da teia da vida até certas normas de como deveríamos viver. Entretanto, se tivermos uma consciência ecológica profunda, ou experiência de sermos parte da teia da vida então seremos (em vez de deveríamos ser) propensos a cuidar de toda a natureza viva, e, especialmente, de todos os nossos irmãos humanos, independente de nacionalidade, raça, cor, condição humana, credo, condição econômica, social, ou sexual. Na verdade, nunca podemos deixar de responder desta maneira.
Surge o Novo Paradigma – Vou agora falar de outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a ecologia profunda. “A essência da ecologia profunda”, diz ele: “é colocar sempre questões mais profundas. Esta também é a essência da mudança de paradigma. Chegamos a um tempo que é preciso questionar todos os aspectos do antigo paradigma. A ordem é duvidar de absolutamente tudo. Provavelmente não será necessário descartar-se de tudo, mas, antes é preciso saber que se deve estar disposto a questionar tudo.
Um outro aspecto importante é o de analisar o aspecto dual das coisas, dos fatos e fenômenos. Nada é absolutamente bom ou mau para tudo e para todos. O que é bom para o homem pode não ser bom para a mulher, o que agrada o rico pode prejudicar profundamente o pobre e assim por diante. Então devemos nos perguntar sempre ao fazer alguma coisa: - A quem beneficiamos e a quem prejudicamos ao fazermos isto? E o mais ponderado e viável deverá ser escolher uma estratégia, um método, uma forma que seja a menos prejudicial para todos os direta e indiretamente envolvidos no processo.
Portanto, a ecologia profunda coloca questões modulares a respeito dos próprios fundamentos de nossa visão de mundo e nosso modo de vida – modernos, científicos, industriais, voltados para o progresso e materialistas. Ela questiona todo este paradigma de uma perspectiva ecológica; da perspectiva de nossas relações com os outros, com as relações futuras e com a teia da vida da qual fazemos parte.”
Uma das áreas mais importantes para ilustrar esta questão é a dos negócios e da economia. Hoje, o contexto ecológico está se tornando cada vez mais fundamental para os negócios, a economia e a administração. Uma das mais importantes tarefas é a de abandonar a busca cega do crescimento material irrestrito. O crescimento é a principal força propulsora das atuais políticas econômicas e atividades empresariais, e, é, também, o principal elo da destruição ambiental, da crise de valores, da violência, da miséria, enfim, de todos os males do mundo civilizado.
O crescimento, é óbvio, é próprio da vida. Entretanto, no mundo vivo ele não tem significado quantitativo, mas qualitativo. Para o ser humano, por exemplo, crescer significa desenvolver-se em direção à maturidade, não apenas aumentando de tamanho, mas também qualitativamente, pelo crescimento interior. O mesmo vale para todos os sistemas vivos. O conceito de crescimento desses sistemas é qualitativo e multidimensional.
Dar qualidade ao crescimento econômico significa estabelecer critérios de desenvolvimento aceitável ou inaceitável. Nos últimos anos, o desenvolvimento sustentável surgiu como um critério central. Lester Brown, do Worldwaltch Institute, que há anos vem sendo um dos principais defensores do desenvolvimento sustentável, define como sociedade sustentável aquela capaz de satisfazer suas necessidades sem reduzir as chances das futuras gerações e nem prejudicar outros núcleos de vida, bem como as pessoas menos favorecidas.
Este, para mim é o principal desafio da sociedade contemporânea: criar ambientes sociais e culturais nos quais possamos satisfazer nossas necessidades sem reduzir as chances das gerações futuras e dos outros segmentos sociais do nosso tempo; dar qualidade ao crescimento econômico, introduzindo o desenvolvimento sustentável como critério chave de todas as nossas atividades.
No Elmwood Institute, estamos empenhados em pesquisas deste tipo junto com um pequeno número de empresas pioneiras em termos ecológicos. Desenvolvemos discussões em mesas redondas, seminários e publicações dentro do que denominamos Ecomanagement Program (Programa de Administração Ecológica).
Também aplicamos a abordagem da ecologia profunda na educação em nosso Ecoliteracy Program (Programa de Alfabetização Ecológica), que compreende a elaboração de um currículo escolar orientado para a ecologia, o K-12 e do desenvolvimento de cooperativas comunitárias de educação.
Fazemos isto porque acreditamos que para conseguir a radical mudança de percepção necessária para a sobrevivência da humanidade, numa época já absolutamente tardia, necessitamos de uma ampla campanha pública de educação, discussão e diálogo. Esta é uma iniciativa que transcende todas as nossas diferenças raciais, culturais, sociais, políticas, econômicas, ideológicas, enfim, todas.
“Ecologia” é a palavra grega para designar “Lar da Terra”. A Terra é nosso lar comum e criar um lar comum para os nossos filhos – que são todos os filhos da Terra – bem como para as gerações do futuro é a nossa tarefa mais importante. É para isso que estamos aqui.
PENSE NISSO!...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007
TAO

TAO
O Tao (lê-se "dao"), palavra chinesa que significa caminho, de acordo com a religião taoísta, é uma força que está em todos os processos de transformação que percorrem o mundo e não existem palavras que possam descrevê-la. Relaxe, você já está em casa - Princípios do Tao para enriquecer a vida diária quem entra em contato com ela, sente-se muito melhor, mais saudável e feliz. Porém, é muito mais fácil encontrá-la quando estamos em contato com o mundo natural. Para isso, bastam algumas atitudes feitas, pelo menos, uma vez por semana:
- Caminhe ou corra no parque prestando atenção às arvores e plantas.
- Almoce ao ar livre e sinta a brisa tocar seu rosto enquanto aprecia a comida.
- Se puder, visite uma região que tenha lagos ou mesmo o mar, entre na água e sinta a natureza.
- Ande de bicicleta no campo, pare para fazer um piquenique e colha algumas flores.
- Tenha seu próprio jardim, mesmo que viva em apartamento. Cuide você mesmo dele.
"TRANSFORME SUAS ATITUDES E PENSAMENTOS E VOCÊ TRANSFORMARÁ SUA QUALIDADE DE VIDA. TRANSFORME SEUS PENSAMENTOS NEGATIVOS EM POSITIVOS E TUDO SE TRANSFORMARÁ EM PAZ INTERIOR E SAÚDE"
LIVRO: POSITIVE THOUGHTS AS A MEDICINE, THE WORLD RENEWAL
BANHO DE QUENTÃO
O quentão é uma bebida típica das festas juninas. Entretanto, suas propriedades estão sendo aproveitadas nos banhos de ofurô. Que tal tomar um bom banho de quentão?
o O gengibre alivia as dores musculares, aquece o corpo e atua na prevenção de resfriados.o A canela é diurética e atrai bons fluídos.o O cravo é anti-séptico, melhora as picadas de insetos e a descamação da pele.o A laranja é um antidepressivo natural e diminui a ansiedade.
FONTE: DAY SPA KAN TUI: WWW.DAYSPA.COM.BR
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
OS SETE SAPATOS DE MIA COUTO


Primeiro Sapato – A idéia de que os culpados são sempre os outros;
Segundo Sapato – A idéia de que o sucesso não nasce do trabalho;
Terceiro Sapato – O preconceito de que quem critica é um inimigo;
Quarto Sapato – A idéia de que mudar as palavras muda a realidade;
Quinto Sapato – A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
Sexto Sapato – A passividade perante a injustiça;
Sétimo Sapato – A idéia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."
PLASTIFICAR A CIDADE?

As palmeiras reais vieram e fizeram um vistaço. Os Maputenses passeavam-se, com acrescida vaidade, pela larga avenida. Mas as palmeiras têm um enorme inconveniente: são seres vivos. E pedem rega. Apenas depois de terem sido plantadas é que se iniciaram obras estranhíssimas de abre-e-fecha buraco, põe-e-tira tubagem. As palmeiras, pacientes, ainda esperaram. Mas estavam condenadas à morte. Uma a uma, começaram a secar.
Durante meses (e até hoje) ficaram os seus cadáveres de pé como monumentos à nossa incapacidade. Não houve sequer pudor de lhes dar destino. Elas sobraram ali, como provas de um criminoso desleixo. O cidadão que, antes fora iluminado por súbita vaidade, agora se interrogava: ali mesmo nas barbas da Presidência da República ?
A morte destas palmeiras interessa, sobretudo, como sintoma de um relaxamento que atingiu Moçambique. A folhagem seca dessas palmeiras é uma espécie de bandeira hasteada desse abandalhamento. Não se trata, afinal, de uma simples morte de umas tantas árvores. Não tarda a que Maputo receba um outro evento internacional. Compraremos outros adereços para a cidade. Uns para embelezar de raiz, outros para maquilhar as olheiras de Maputo. Dessa vez, porém, compremos palmeiras de plástico. Ou plastifiquemos estas, já falecidas, depois de lhe passarmos uma demão de tinta verde. Ou, se calhar, nem disso precisaremos: à velocidade com que espaços que deviam ser verdes estão sendo ocupados por placards e anúncios publicitários não necessitaremos de mais nada. Aliás, qualquer dia, Maputo nem precisa de vista para o mar. Esta cidade que sempre foi uma varanda virada para o Indico está prescindindo dessa beleza. Locais cuja beleza advinha da paisagem estão sendo sistematicamente sendo ocupados por publicidade de tabaco, bebidas alcoólicas e bugigangas diversas. Um dia destes, nem necessitaremos de ter mais cidade. Trocamos a urbe por propaganda de mercadorias.
Depois, queixamo-nos da globalização.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
POR UMA PEDAGOGIA PARA O TERCEIRO MILÊNIO I

Em primeiro lugar é indispensável um certo olhar dialético sobre a educação, a escola e ações pedagógicas, colocando definitivamente por terra esta visão ingênua de que só existe o lado bom, o dos serviços prestados às sociedades do mundo desde tempos imemoriais.
Nada disso. Escola e educação prestam serviços e desserviços num tempo em que impõem regras e normas. Ditam espaços e obrigam a determinados comportamentos e posturas. Enquanto ensina um conhecimento historicamente acumulado e que pode ser algo muito bom para quem aprende, as escolas e seus métodos forçam todo um estigma psicossocial nocivo à construção de uma sociedade de iguais, melhor que a nossa, justa e fraterna, com o que, certamente, quase todos sonhamos.
Acontece, porém, que estes são os instrumentos invisíveis que garantem o funcionamento de uma sociedade em que poucos exploram muitos e tudo parece natural ao longo dos séculos. E, assim, são incutidos nos educadores por meio do processo de sua formação profissional e os inibe de, na maioria das vezes, enxergarem na prática esta dicotomia, este atraso que envolve historicamente o fazer educacional, chegando hoje a um limite insustentável.
A partir desta visão entendemos que a escola deve personalizar ao invés de massificar seus métodos e tratamentos. Daí a importância da pesquisa e do diagnóstico das verdades intrínsecas de cada pessoa para atender sonhos, desejos, dificuldades, facilidades e metas específicas. Cada pessoa, cada aluno é um ser em especial, um universo a parte e que deve ser considerado como tal. Caso contrário, estaremos prejudicando uns mais que outros e ajudando a manter as desigualdades e injustiças que se corporificam no mundo, constituindo o grande caos em que nos achamos imersos.
Ao mesmo tempo as escolas deveriam ensinar o que as pessoas precisam aprender para viver com mais qualidade, ao invés de instruí-las para que melhor se adeqüem à exploração que as consome. Assim, os currículos escolares, os conteúdos e programas de ensino deveriam ser constituídos de outros saberes, de como, por exemplo, resolver os próprios problemas, entender melhor a política, a economia, o funcionamento da máquina social, a tomar as decisões acertadas e oportunas.
O mesmo acontece com os métodos de fazer aprender. Estes devem respeitar diferenças, modos, ritmos, estilos, desejos. Uns aprendem melhor lendo, outros ouvindo, falando, sentindo, brincando, rindo. Outros ainda, de formas mais diferenciadas. As escolas, linearizando seus métodos e técnicas, mais uma vez avalizam as desigualdades sociais, ajudando a manter a crise endêmica na qual o planeta se mergulha, talvez, sem quaisquer esperanças de salvação.
Entremear a sala de aula com atividades diversificadas, com encontros sociais distintos, proporcionar ao aluno a vivência em realidades diferentes e iguais a sua. Dar chances ao exercício da solidariedade, da troca, do respeito, da multiplicidade cultural, da arte, do esporte, da produção, dos serviços e do humor que dignifica a vida. Avaliar durante o processo, promover quem ensina e quem aprende. Favorecer relações mais saudáveis, duradouras e a construção de uma realidade amena, bela e feita de seres humanos mais inteiros e sensíveis à própria condição da vida.
A nova comunidade escolar deve ser aberta, volátil, reflexiva. Todos decidem juntos. Os alunos se dirigem aos professores por seus primeiros nomes, tratando-se mutuamente por você e os encaram como amigos, como parceiros e não mais como figuras autoritárias, como algozes.
O novo currículo deve ser rico e sutil, flexibilizar os assuntos difíceis, numa perspectiva lúdica, atrativa e interessante. Proporcionar conhecimento além do convencional, integrar artes, humanidades e demais ações, elaborando alunos e professores seus próprios programas. Os alunos aprendem biologia cuidando de animais e botânica, plantando e cuidando de pomares, hortas e jardins. Eles discutem, participam, fracassam, têm êxito. Aprendem a acertar e a errar.
Os estudantes passam a conhecer seus próprios comportamentos. Concentração, relaxamento e fantasia são utilizados para que se mantenham abertos os caminhos intuitivos. Eles refletem sobre paradoxos, filosofias conflitantes e suas implicações com os complexos problemas do mundo.
Queremos colocar um fim na era da escola que se esconde atrás de subterfúgios funcionalistas e que acabam por arregimentar massas dóceis e ingênuas. Uma escola que trabalha à luz da indução burguesa e para a manutenção de um capitalismo perverso, mesquinho e em desuso, que tolhe a liberdade e a coragem de agir pela transformação requerida no nascente milênio de evolução da humanidade.
Precisamos da escola que flexibilize os horários, o uso do uniforme e que use a boa qualidade das aulas e atividades, o prazer, o lúdico, o desejo de estar e permanecer nela como instrumento de garantia de sua freqüência e do seu sucesso, independente das chamadas e de outras imposições. Uma escola que ame e respeite seus alunos e não que os transforme em vitimas indefesas. Que personalize suas ações, priorize o processo ao resultado e que apenas ensine o que tenha significado e importância. Que avalie permanentemente e ensine a todos a pensar, a sentir e a agir de forma harmônica e integrada, formando seres críticos, sensíveis e conscientes.
É preciso, finalmente, que a educação e a escola sejam canais da grande verdade que o “amai-vos uns aos outros” não é mais apenas uma mensagem bíblica. É a única saída.
Antonio da Costa Neto
Projeto Pedagogia da Complexidade
antoniocneto@terra.com.br
POR UMA PEDAGOGIA PARA O TERCEIRO MILÊNIO II

A grande maioria de nossas escolas continua na contra-mão da história, e, a primeira coisa a fazer é convencer os educadores desta dura e mesquinha realidade. Surgida no bojo das contradições históricas e para a manutenção de um capitalismo centralizador, periférico e desusado a escola convencional continua prestando muito mais desserviços do que propriamente ajudando a humanidade a crescer. Já é mais que tempo de alterarmos todos os seus padrões de funcionamento, sua ordem de valores e sua práxis cotidiana.
O que propomos é a formação do homem político, do cidadão inteiro, configurado na essência humana. Valorizar o ser superior em detrimento da aprendizagem apenas técnica dos ofícios, realizando a educação como exercício pleno e conscientizador, um ato político em toda a sua instância.
A complexidade do mundo atual cobra outros aprendizados muito mais densos, profundos. E a escola, muito preocupada em dar respostas aos argumentos ditados pela perversidade das exigências capitalistas, negligencia quaisquer outros saberes buscando formar apenas o ser que trabalha e consome em potencial: ou seja, a escola prepara para uma vida minimamente vegetativa e não se dá conta do brutal atraso que tal fenômeno representa.
Raciocinemos pedagogicamente: Ao chegar à escola uma criança em especial – ou qualquer outro estudante – recebe pronto um pacote de imposições que incluem desde o estabelecimento rígido do horário, quem é a professora, os assuntos a serem tratados em uma ordem estabelecida, a roupa que deve vestir, o lanche e até o local onde satisfazer suas necessidades pessoais. Em nome da ordem e da disciplina, diga-se de passagem - a qualquer custo - comete-se contra o aluno uma imensa violência simbólica, que, logicamente, se constituirá em múltiplas formas de violência concreta no bojo da vida social deles enquanto pessoas. Advindo daí principalmente, a grande escalada da crise no mundo. Quem aprende em bases violentas, será violento, o que se consubstancia na relação ideológica como as coisas se dão, as decisões são tomadas, as políticas e diretrizes viram fatos concretos o que está intimamente ligado à forma como as pessoas são educadas.
Entendemos que é chegado o momento em que o aluno não só deve como precisa começar a decidir, a ser escutado, a dizer sim ou não, a optar, a exercer na prática a sua criticidade, a sua autonomia. Queremos uma juventude ciente do seu poder de transformação; que no vestibular saiba optar por uma carreira; que tenha espírito de cidadania; que ajude a transformar a sociedade. Mas como, se ela aprendeu sendo passiva, objeto da vontade do outro o tempo todo, a dizer sempre sim, a negligenciar suas vontades e desejos, a sublimar o seu prazer? Vejo ser esta a grande problemática que emperra a qualidade da educação e da escola convencional, e, em nosso projeto: Pedagogia da Complexidade – uma proposta de educação para o terceiro milênio, estamos, em síntese, implementando alguma mudança de paradigma com vistas ao procedimento de atividades educativas que se traduzam na busca da tão sonhada melhoria da qualidade de vida, o grande objetivo de toda educação.
Em primeiro lugar, como já dissemos, faz-se necessário conscientizar o educador deste sério fato. Senão uma barreira intransponível, certamente uma das etapas mais complexas e difíceis que enfrentamos neste desafio. A formação dos educadores, de uma maneira geral, anacroniza, endurece a sua linha de raciocínio, redirecionando-a para os fins exclusivamente mercantilistas, o que faz parte da manutenção de um projeto educativo a serviço da hegemonia do poder e do favoritismo das elites de todo o mundo civilizado. Conscientizar o educador é um projeto infinito que nunca se conclui, mas de qualquer forma, precisa ser iniciado a partir de novas bases, levando-o a conhecer este conjunto de disfunções, este câncer pedagógico, este absoluto anacronismo secular do sistema educacional e que acaba por adentrar na vida de muitas das nossas escolas.
Em seguida, não podemos mais entender como eficiente a escola que massifica seus procedimentos como se os alunos fossem todos iguais, a começar pela própria ignorância. Assim, propomos um enfoque permanente de pesquisa, coleta de dados para que a escola passe a conhecer mais de perto “as verdades individuais” dos seus alunos, seus problemas e necessidades afetivas, emocionais, econômicas e de aprendizagem.
É preciso ter um diagnóstico permanente de quem é o meu aluno, quais seus sonhos, desejos, objetivos, metas, angústias, carências, dificuldades e facilidades para aprender e operar com os conhecimentos que adquire, de como utilizá-lo a serviço das conquistas esperadas. Daí trabalharmos com uma educação para a complexidade da vida, do mundo e das suas exigências contemporâneas e não, com a linearidade simplista para a instrução daquilo que apenas perpetua o caos em que todos, sem exceção, nos encontramos inseridos, neste mundo caótico que nos cerca.
antoniocneto@terra.com.br
domingo, 11 de novembro de 2007
A GRANDE INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA

Sempre defendi a tese de que a família é a grande responsável por tudo o que a pessoa é: caráter, personalidade, conduta, temperamento, tudo se agrega no meio social e cultural em que a criança é inserida da concepção aos primeiros cinco ou seis anos de vida. Os seres humanos são preparados genética, material, sexualmente para se casarem, se acasalarem, sei lá...ter filhos. Mas não o são psicologicamente, gerindo a partir daí o grande caos, os imensos conflitos que assolam a humanidade. A máxima "a culpa é da mãe..." não está longe de ter uma boa razão. Mas não é só da mãe, é do pai, dos irmãos, das babás, das empregadas, enfim, de todos os que constituem o ciclo familiar.
Para a criança incauta e inocente é muito difícil fazer a leitura do amor, do carinho ou da falta destes. Sendo, ao contrário, muito fácil, acumular mitos, transtornos, traumas, sofrimentos que serão conduzidos para o resto de sua vida, como resultantes das relações com papai, mamãe, irmãos e irmãs preferidos, preteridos, esquecidos, etc. etc.
Como ficam as relações dos filhos homens, com os pais que rejeitam os seus pais - masculinos - o pai mesmo? E se o filho é homem e o seu pai é aficionado pela figura da mãe? E neste mesmo caso, quando chega uma irmãzinha? Claro que este pai vai ter a sua preferência marcante por esta filha, que, de alguma forma, reproduz a figura da mãe, com quem ele se identifica mais. Enquanto o filho - homem - representa psicologicamente a figura do pai, com quem ele sempre competiu e compete, e agora, com meios e recursos superiores, como pai, o mandão, o dono do dinheiro, da experiência e o jogo da sobrevivência. E, quase sempre, irá oprimir, humilhar este filho, criando nesta criança sérias seqüelas, problemas e distorções emocionais, afetivas que poderão ser altamente prejudiciais. Um verdadeiro crime inconsciente que boa parte dos pais comete, daí os filhos que matam pais, se rebelam, fogem, se entregam às drogas à prostituição, às gangues competindo cegamente com os pais que não os compreenderam, não deram a devida atenção que, como filhos, julgam merecer.
Aí todas as recíprocas são verdadeiras em relação à figura da filha com a mãe, do filho com o pai; a posição do filho único, do caçula, do filho do meio, todas estas são circunstâncias a ser profundamente analisadas caso a caso. Não há uma receita mágica e única, cada caso é diferente e vai depender do universo afetivo dos pais com os avós, destes com os bisavós e assim, infinitamente.
Você pode pagar agora o preço por uma ação psicologicamente impensada da sua bisavó ou do seu tetravô que interferiu da mesma forma na sua avó, que passou para seu pai ou sua mãe, que chegou em você e que, certamente irá para os seus filhos, netos e assim por diante...É, é assim que a banda toca.
Daí o meu projeto que está que chamo de Orientação Familiar para a Qualidade de Vida, para o qual busco parcerias, pois poderá ajudar imensamente a humanidade a ser mais feliz. A diminuir os crimes por ciúmes, por competição, pelas agruras do amor, do sentimento e das paixões ao contrário. Está tudo vinculado à perspectiva dos sentimentos, do calor humano, que por sua vez, se ligam ao vínculo familiar, que, de acordo com alguns pensadores da antropologia é o túmulo da felicidade.
Descobri este texto com o qual ilustro esta matéria sobre a grande importância da interferência da família na formação da personalidade das pessoas, e, por conseguinte, da tipologia de relações humanas que concretizam a sociedade que temos.Trata-se das Meninas-Lobo, de B. Reimound em o Desenvolvimento social na infância e na adolescência. Diz ele:
Na Índia, onde o caso de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seus comportamentos e atitudes eram exatamente semelhantes àqueles de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro patas, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos, e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre; comiam e bebiam como animais, lançando a cabeça para frente e lambendo os líquidos.
Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; mas eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir, se esconder e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
Elas foram também submetidas dos mais simples aos mais sofisticados exames de ordem biológica e genética, constando-se que se tratavam de seres que não tinham quaisquer anomalias ou deficiências neste sentido, sendo, portanto, absolutamente normais, apenas foram profundamente transformadas psicologicamente pelo meio social - ou familiar - que as abrigou na primeira infância, ou seja, de 0 a 5 anos.
Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se muito lentamente. Ela necessitou de mais de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de mais ou menos cinqüenta palavras. As pequenas e raras atitudes afetivas foram aparecendo pouco a pouco, apesar dos intensos esforços terapêuticos dos profissionais que a cercavam.
Ela chorou pela primeira e única vez por ocasião da morte de Amala e se apegou às pessoas que cuidavam dela e com as demais crianças com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gest0s, inicialmente, e depois, por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar apenas ordens simples, mecânicas, lineares e repetitivas.
Vejam então o papel da mais absoluta importância que a família significa na formação das personalidades que conduzem as relações sociais. Veja como você trata seus filhos, como os repele, chama a atenção, estabelece limites. Lembre-se que você pode acertar ou errar profunda e definitivamente e de forma imperdoável. Então, por via das dúvidas, use e abuse do amor, do carinho, do afeto, do sorriso, do diálogo, do direito de voz e vez, de participação nas decisões. Passar a mão no rosto, nos cabelos, suspirar fundo e abraçar com profundidade é um santo remédio em todas e quaisquer circunstâncias. Lembre-se disso. Portanto, a mão que balança o berço é a mão que comanda o mundo...
Antonio da Costa Neto