A MUDANÇA DA MUDANÇA:
REFLEXÕES PARA AÇÕES INSPIRADAS NA NECESSIDADE DE CONTINUARMOS
VIVOS (*)
Antonio da Costa Neto (**)
“A indignação está sendo proferida, insistentemente, hoje em
dia, bem mais do que em qualquer outro momento da história. Nosso primeiro grande desafio é o de criar o
consenso de que uma mudança profunda, intensa e fundamental é, não só possível,
mas, também, necessária e inadiável: mudança para ontem. Cabendo, portanto, a cada um de nós buscar, de
forma incansável, a inspiração criativa,
as propostas de mudanças, opções a serem adaptadas pelos indivíduos. Este sim,
é o papel dos educadores, dos artistas, dos formadores de opinião, dos
estrategistas da comunicação e das tecnologias, dos políticos, sociólogos, dos
pais e mães, das pessoas comuns, dos homens e mulheres, do povo, enfim, de
todos os seres vivos. Sem esta mudança a
tragédia será total.
A humanidade sairá, definitivamente, de cena. Cairá o pano.”
A humanidade sairá, definitivamente, de cena. Cairá o pano.”
(Marilyn Ferguson)
___________`
(*) Artigo elaborado a
partir dos fragmentos relacionados às mudanças, transformações, métodos e
abordagens da obra A conspiração
aquariana – transformações pessoais e institucionais no Séc. XXI, da
jornalista norte-americana, recentemente falecida: Marilyn Ferguson (Editora
Record/Nova Era – São Paulo – 2010). Ressalta-se que o referido trabalho trata
de temas da mais complexa importância para a vida no planeta após o Séc. XX – a
denominada “era de aquarius”, tais
como educação, saúde, agricultura, política, psicologia, mudança e
transcendência. No presente estudo apresentamos os dados relativos aos
processos de transformação e mudança, considerando o enfoque metodológico e os
seus objetivos a partir, evidentemente, da visão e dos interesses do autor,
sendo utilizado como norteador de cursos, palestras, seminários, debates,
workshops e afins. Texto publicado no www.mudandoparadigmas.blogspot.com
(**) Administrador de
empresas, especialista em gestão de pessoas, sociologia do desenvolvimento,
planejamento e gestão. Mestre em políticas e administração da educação.
Professor universitário, pesquisador, conferencista, consultor em gestão e
educação. Autor de livros, artigos científicos, resenhas e outras produções
científicas com ênfase em modernização e processos de mudança.
É certo, todos sentimos que muita
coisa vai errada no mundo. O caos, o sofrimento, as crises, as mazelas se
conjugam e se complementam em todos os segmentos do planeta e a cada momento
nos surpreendemos com males que não esperávamos. O declínio político, a
incapacidade de planejamento, a concentração abusiva do poder e da riqueza que
circunda o planeta com a guerra, a fome, o desespero, a precariedade na saúde,
o aquecimento global, enfim, uma lista exaustiva, com a qual poderíamos
preencher páginas e mais páginas. A educação, o desenvolvimento tecnológico
altamente coesos, parciais, e, de certa forma, avalizando todas estas mazelas.
A humanidade apresenta profundos sinais de cansaço e o estresse mundial já se
tornou, a muito, uma indiscutível realidade a que tentamos mascarar a todo o
custo. Assim, a opinião é uníssona: é
preciso mudar. Mas, no entanto, parece que nossos métodos e fórmulas para
se processar este grandioso fenômeno já deram as mais absolutas provas de suas
anomalias e de brutais incapacidades para se fazer o que se busca e de se atingir
ao alvo desejado. Suas engrenagens enferrujaram e precisam ser trocadas.
Falamos em mudança e a processamos exatamente, no contundente sentido de
evita-la. Nossa incapacidade de mudar está mais do que comprovada e o “falar em mudança par evitar a mudança”,
com os fins ideológicos de se preservar o poder, a riqueza e o status da
decantada burguesia saturou e precisamos de algo radicalmente novo neste
sentido. É a mudança da mudança, a tônica do presente trabalho.
Apresentar sugestões de como transformar tudo o que precisamos é, na verdade, o
seu princípio norteador. Precisamos, sem dúvida, mudar as formas de mudar,
para, enfim, mudar ou transformar. Eis no que estamos interessados.
Segundo Thomas Kuhn, em seu
importante livro, A estrutura das
revoluções científicas, os que
trabalham frutificamente com velhas
ideias permanecem, emocionalmente, tão ligados a elas que as levam até para o
túmulo. Aferram-se ao que está errado mas lhes é familiar. Só uma nova geração
reconhece o valor e a força de um novo paradigma, buscando o foco inicialmente,
na mudança individual: um a um. O que será o caminho para uma mudança coletiva
de paradigma que, por sua vez cria um novo consenso, uma nova forma de viver e
desfrutar. Gerando, assim, de modo
ininterrupto novas ideias num ciclo evolutivo interminável. Instituições
revolucionárias, famílias integradas, modernas, transcendentes, arte e cultura
do Século XXI estimulam os que delas participam para as suas próprias mudanças,
levando, assim, a uma transformação coletiva de mentalidade que é, em síntese,
o que todos nós, consciente ou inconscientemente buscamos.
As forças que levaram o planeta à
quase catástrofe que, por assim dizer, hoje vivemos com sérias e drásticas
perspectivas para um futuro muito próximo trazem em si a semente da transformação
necessária. O presente desastroso desequilíbrio pessoal e social prenuncia um
novo tipo de sociedade. Funções, relações, instituições e velhas ideias estão
sendo reavaliadas, reformuladas, remodeladas – algumas apenas maquiadas por
profissionais e pessoas céticas que, infelizmente, ainda não acordaram. Estamos
vivendo o fantástico prenúncio da mudança da mudança, uma rápida remodulação de
nós mesmos e de todas as nossas instituições em crise. Falamos, portanto de
revolucionar, de transformar, trocar o que temos por forças e fatores
radicalmente novos e originais em todos os sentidos: o único caminho e a
esperança de continuidade da vida humana em sociedade, num padrão aceitável de
decência, felicidade, cidadania e valores em todo o dito mundo civilizado.
Devemos mudar para uma humanidade
embutida na natureza, promovendo a autonomia do indivíduo numa sociedade
absolutamente descentralizada. No sentido político, falamos de uma sociedade
anárquica no bom e no amplo sentido. Ou seja, uma sociedade, por ora, utópica,
onde todos tenham a verdadeira consciência de até onde e como podem ir. Ou
seja, um consenso crítico de liberdade para os pensamentos, as palavras e as
ações. Uma sociedade profundamente ética, onde o desrespeito a qualquer direito
alheio, por si, não exista. Pois a evolução humana automatizará tais princípios
que ocorrerão, naturalmente, como um bebê que chora quando sente fome, ou
procurar e beber água quando se tem sede. Simples assim. Não somos vitimas e
nem limitados a condições ou condicionamentos. Somos, sim, herdeiros
ininterruptos de riquezas evolucionárias. Somos capazes de imaginar, inventar e
fazer experiências que até agora apenas vislumbramos. Pois ainda somos guiados
pela horrenda cegueira da competição e do pior de todos os males que é o
egoísmo.
E todos sofremos, mesmo que
indiretamente, de tais revezes que teimam em continuar aí enquanto precisam,
drasticamente, serem transformados.
Precisamos, sem dúvida, com a maior urgência, partir em busca de novas
perspectivas que, no mínimo, respeitem a ecologia de todas as coisas vivas,
incluindo nós os humanos: nascimento, morte, aprendizado, saúde, família,
trabalho, ciência, espiritualidade, artes, comunicação, relacionamentos,
política e tudo mais. A vida não pode ser, necessariamente, circunscrita, o que
faz parte de um passado milenar, sem necessidade, nem mesmo, de ser lembrado.
Até aqui, somos os causadores,
querendo ou não, dos conflitos, dores e sofrimentos que carrega a humanidade e
precisamos entender que não estávamos errados, mas apenas parciais. O que já é
o bastante para desgraçarmos o mundo o que temos conseguido com êxitos
invejáveis. É como se tivéssemos enxergando apenas com um olho, sem desafiar os
sistemas em seus cernes. Fomos todos induzidos pela nossa educação miserável,
pela cultura a competição burguesa a sermos unilaterais demais diante dos fatos
e dos fenômenos que nos cercam. O que nos coloca a serviço de perpetuar o que
aí está, suprimindo o novo e preservando o velho que nos assusta, corrompe,
adoece, estressa, deprime, e, enfim, mata. Choramos, sofremos, mas somos
incapazes de mudar.
Somos, portanto, um construto de covardes e
temos o maior medo de pelo menos tentar superar velhos limites e transpor a
inércia buscando atingir, assim, uma amplitude de opção, um alento certo para
muitos sofrimentos. Mas ficando olhando de longe temendo nos envolver. Qualquer
um pode se sentir mais produtivo, confiante e confortável na insegurança, mas é injusto demais para todos,
pois tudo o que precisamos é de sair desta absurda zona de conforto falsa e
falaciosa, na qual nos mergulhamos a séculos.
Estamos, assim, a anos-luz de qualquer transformação, evolução que sejam
respostas naturais e corretas à crise que talvez durará para sempre, até nos
sucumbir. Nossa patologia é nossa oportunidade de desencadear uma epidemia
crítica de mudança. A crise não é destrutiva, é instrutiva. Temos que mergulhar
no desconhecido, o conhecido nos tem falhado por completo. Eis o que precisamos
entender de forma definitiva, desde os cidadãos mais simples dos rincões mais
longínquos do mundo, até os detentores de esferas de poder das mais importantes
metrópoles mundiais. Este mesmo poder que nos corrompe e destrói, aos pés do
qual nos jogamos numa vertente absurda de submissão. Pois ainda somos pobres,
pequenos e ignorante em demasia para a ousadia humana necessária.
Segundo Beatrice Bruteau –
pesquisadora da ecologia humana profunda – “nós
somos o futuro, nós somos a revolução e não podemos, passivamente, aguardar que
o tempo nos melhore com ele”. É uma questão do simples para o complexo, do
linear para o cíclico, do padrão para o personalístico, iniciando-se de pessoa
para pessoa. Só assim poderemos começar a pensar ou sonhar com a transformação
social que será possível como resultante da transformação pessoal: de dentro
para fora. É a eclosão que acontece como a cura de uma febre. Mas mesmo assim,
nós vivemos um dilema, a mudança pode ser facilitada, mas não decretada e o ser
humano parece resistir brutalmente a
ela. Transformação não se produz por manifestos e, neste sentido, as más
notícias podem ser sim, as boas novas. Novas perspectivas geram épocas diferentes e mais inteiras, ou sejam,
novas libertações de antigos limites. O paradigma que aqui perseguimos com
tanta veemência é um esquema para a compreensão e a explicação de certos
aspectos da realidade e não passam de
maneiras novas de se pensar velhos problemas. Portanto, a coisa é simples. Pois
no fundo, não se acrescentará nada de novo, apenas formas, crenças e valores
mudam, o que é mais do que suficiente para se transformar tudo: pura e
simplesmente, uma questão de energia a ser transmitida nas ações que fazem as
diferenças e não mais, só nas preces, nas desculpas injustificáveis que aliviam
os incautos, mornos e sem coragem para quase nada como ainda o é a absoluta
maioria de nós.
Recorremos aqui a uma importante
visão da física em que Einstein sucedeu a Newton: saída do padrão cronométrico
para a incerteza, do absoluto para o relativo e devemos nos inspirar nisto para
nossas ações de todas as espécies, inclusive e principalmente quando pensamos
em transformar algo, ação, método de trabalho, forma de viver. Neste confronto
histórico entre os vivos as novas ideias são sempre recebidas com frieza,
zombaria e hostilidade. São atacadas como heresias e de início elas podem sim,
parecer bizarras e, até mesmo, vagas. Entendamos o processo e nele se pode, a princípio, aderir a uma nova ideia
sem abandonar a antiga e o que é melhor, se pode ainda ficar oscilando entre as
duas durante a maturação, que, se evoluída,
levará, de forma autêntica para a adoção do que for, de fato melhor para
todos. É um ciclo em zig-zag, em vai-e-vem, perturbador, que gera um frio na
espinha. Mas, no final das contas, sempre as pequenas vitórias somam-se a um
grande despertar cultural. A dissolução e o sofrimento são estágios necessários
à transformação, os fracassos podem ser poderosamente instrutivos e geradores
de um prazer jamais experimentado.
Precisamos adentrar ao pensamento
complexo, agregando nele os sentimentos de bondade, amor, empatia,
sensibilidade, pois a lógica, por si só é um profeta deficiente. A intuição é
necessária para se completar o quadro. Por definição, no atrasado mundo que nos
cerca, embora revestido da tardia ciência objetiva e da técnica superdesenvolvida,
as resoluções não são lineares e muitas causam transtornos insuperáveis quando
atuam sobre as outras ao mesmo tempo de forma impensada por quem as operem.
Acreditamos que a confrontação desorganizada, a derrubada pura e simples do
sistema ou a reforma gradativa servem apenas para preservar a alienação básica
da sociedade; a matéria-prima para a manutenção dos processos de exploração,
dor, sofrimentos descabidos para os tempos da era do conhecimento de avanços
tecnológicos inimagináveis.
Bernard Levin, colunista do The Time de Londres afirma-nos que “a forma pela qual o mundo vive hoje não dará
certo. Muitas pessoas têm todo o conforto material que desejam, mas, mesmo
assim, vivem em silencioso desespero, nada compreendendo a não ser que existe um
vazio imenso dentro delas. E esse vazio dói”. Mas como são cegas e avessas
dentro da linearidade a que estão acostumadas. Tudo o que fazem é manter o
mesmo processo que as desesperam. Falta-nos a visão do todo e a sensibilidade
suficientes para ajudarmos a proceder as transformações que tanto desejamos,
buscamos. Mas fazemos ao contrário.
A indignação está sendo proferida, insistentemente, hoje em
dia, bem mais do que em qualquer outro momento da história. Nosso primeiro
grande desafio é o de criar o consenso de que uma mudança profunda, intensa e
fundamental é, não só possível, mas, também, necessária e inadiável: mudança
para ontem. Cabendo, portanto, a cada um
de nós buscar, de forma incansável, a
inspiração criativa, as propostas de mudanças, opções a serem adaptadas
pelos indivíduos. Este sim, é o papel dos educadores, dos artistas, dos
formadores de opinião, dos estrategistas da comunicação e das tecnologias, dos
políticos, sociólogos, dos pais e mães, das pessoas comuns, dos homens e
mulheres, do povo, enfim, de todos os seres vivos. Sem esta mudança a tragédia será total e , em
absoluto sem solução. A humanidade sairá, definitivamente, de cena. Cairá o pano.
E falamos aqui algo de existência
incomensurável em relação ao tempo e a cronogramas. Nossa percepção neste
sentido é demasiado estreita e por ora, não entenderemos esta axiomática que
tanto defendemos. Dentro da eternidade, o tempo que temos não é nada. É um
estigma do passado, cujo presente, nem por microssegundos, nós conseguimos
captar. Quando temos o menor “insight”,
tudo já passou. “Somos uma espécie
condenada a viver coletando minúsculos passados quase sempre amargos e tediosos.
É o que nos é dado por direito a chamar de vida. A soma de todos os nossos dias
é apenas o começo”. E como nos ensina Teilhard de Chardin o futuro está nas
mãos dos que podem oferecer às gerações vindouras razões válidas de esperanças. Depois de tudo que sofremos e
sangramos enquanto vivemos vem um “sim” indefinido para continuarmos. E é deste
“sim” que depende o futuro do mundo que nos leva ao inusitado que nos amadurece
e nos transforma. Profundas mudanças interiores podem ocorrer em resposta a uma
meditação disciplinada durante uma grave enfermidade, de uma perda importante,
de uma decepção amorosa, por exemplo. É dos maiores amargos que surge o doce
sabor repleto de perspectivas novas. O “sim” que vem de dentro nasce da dor e
do sofrimento que não podem ser evitados, mas precisam ser vividos e sentidos.
É o que precisamos aprender a fazer revestidos de “outros sins”, de outras condutas,
mais humanas e cheias de sentido para todos e não só para nós e a quem dedicamos nossos melhores afetos.
Prescindimos de sins, de palavras, pensamentos e ações, que beneficiem a todos
os próximos e distantes de nós: somos uma rede de infinitas proporções e este
saber é a transformação iminente e
necessária.
A maior parte dos habitantes da
terra está preocupada com a sobrevivência, e não, com a transcendência. Uma
rápida transformação da espécie humana tem sido articulada pelos mais
talentosos pensadores, artistas e visionários da história. E nela, quem confia
em si mesmo se sente mais à vontade para confiar nos outros: a transformação
exige uma dose mínima de confiança. Estamos familiarizados com muitos tipos de
ilusão e de auto-ilusão: nos jogos, na propaganda, na política; na apresentação
de uma bela fachada. O ouro do crescimento material e limitado inspirou uma
geração inteira de falsificadores. E, por enquanto, esta mera aparência nos
satisfaz no âmbito de se levar a vida – mesmo que vegetativa – e pronto. É a
dinâmica neurótica do material pelo material como se a grandiosidade da vida se
reduzisse a este engano simples para uma humanidade que se acredita grandiosa,
esperta, inteligente, muito evoluída e cheia de conhecimento.
No entanto, no âmago das coisas e
da verdadeira alegria do existir em sua essência mais poderosa, a infelicidade
é a marca da sensibilidade e da inteligência. Num mundo tão conturbado quanto o
nosso em que as pessoas sofrem e choram na solidão, as crianças passam fome, os
doentes morrem sem tratamento, o medo da peste, da falta de água da
turbulência, do calor exagerado e de um frio assassino, nós não temos motivos
para sorrir, achar graça e esbanjar as demasiado comuns expressões: “está tudo bom”, “está tudo bem”. Porque não está. A questão é
nossa superficialidade que nos torna incapazes de enxergar a verdade inteira
das coisas. Isto só se dá porque somos uma massa insensível e sem escrúpulos,
principalmente, quanto ao sofrimento alheio porque nem sequer sabemos que o
outro não existe: nós somos um só. E a vida é como um jogo de xadrez, que, no
final, reis e peões são guardados todos na mesma caixa. Fazemos parte de um só
bloco que singulariza a vida seus,
mistérios e contornos. “Podemos e devemos
aprender a saborear as marcas e cicatrizes de nossos próprios remorsos como uma
segunda chance para reencontrarmos o sentido de tudo”. Conforme nos
esclarece Teodore Roszak.
Mas, sobretudo, pela nossa
extrema falta de senso nós preferimos manter uma certa fidelidade hipócrita
ante a um antigo paradigma. Mas, se tivermos coragem para comunicar nossas
dúvidas poderemos desmantelá-lo enquanto há tempo de nos mantermos vivos e a
serviço de alguma causa que valha realmente a pena. Não há a necessidade de
esperarmos que ele, o paradigma decadente, apodrecido e aos pedaços caia encima
de nós. É preciso focar os seus perigosos mitos e místicas, a fim de atacar
suas ideias e táticas mais que ultrapassadas e obsoletas. O que nos faz um mal
imenso.
A implosão da informação de
Marshall McLuhan, segundo a qual a comunicação não deve ser somente ampla, mas também
profunda, o que é ponto fundamental para mantermos, a partir de agora, nossos
contatos, relações, trocas, querências pessoais e amorosas . É Carl Roggers que
nos ensina que “as pessoas estão se
mostrando realmente abertas, expressando o que sentem e sem medo de serem
julgadas naquilo que consideram fundamental em seus seres em suas
personalidades e somente aquilo que sentimos muito profundamente pode nos
modificar”. É o soberano direito da autodescoberta. Um novo mundo é uma
nova mentalidade e que agora é centrada
no interior das pessoas. Conhecendo suas diferenças, modos, ritmos, formas de
ver, sentir, fazer, habilidades, sonhos, limitações e respeitando-os
integralmente e em quaisquer instâncias, sem nome, classes ou distinções. Só
assim estaremos processando a mudança, ou, melhor dizendo, nos transformando as
coisas e as pessoas.
Parece um tanto paradoxal, mas
ainda, Aldouxs Huxley se mostra
profundamente otimista quanto à multidão dos homens existentes à margem da
sociedade, o que foi considerado como uma heresia. Mas não nos esqueçamos que
foi com esta premissa que ele veio apoiar Bertalanfy, na Teoria Geral dos
Sistemas, tão aplaudida atualmente, e, segundo a qual, “nada pode ser considerado isolado, pois tudo faz parte de um sistema”,
daí a sua importância pela função de incluir a todos, sem quaisquer fronteiras,
e, isto é grandioso. Lowis Pauwels e Jaques Berger em O despertar dos mágicos descreveram uma rebelião
aberta de indivíduos inteligentes, transformados por suas descobertas anteriores,
mesmo as de vivências de misérias, dores, erros e sofrimentos, que são
ingredientes fundamentais para medidas grandiosas de transformações realmente
válidas para a vida.
Só dentro desta perspectiva é que
começamos a considerar o sentir a ciência, as crenças e valores, aí incluindo
as religiões, tudo num só bloco para o fazer pensar. O que, apenas para iniciar
esta discussão, afirmamos ser que as que podem, juntas, suportar a carga do futuro. “Não a ciência das escolas, as filosofias
simplificadas, as religiões das igrejas,
mas a dimensão espiritual e mística que transcende hábitos e políticas”,
segundo o pensamento de J. B. Priestley. No contexto de se inteirar de tais segmentos
do saber, nós, passaremos, ao invés de desejar ver o que há do outro lado da lua, deveremos
tentar entender o que há do outro lado de nossas mentes, o que só poderemos
fazer exercitando o nosso lado bom que
temos e trazemos no íntimo. Se, espiritualmente falando, conseguirmos, pelo
menos apontar o que há de errado conosco, quais as nossas necessidades mais profundas, então, talvez, o
desespero, o medo da morte irão, gradativamente, desaparecer. E somente os seres inteiros, com tais
características, é que serão os agentes das transformações que aqui descrevemos.
Mas os homens, em sua maior parte, ainda
continuam a pensar de acordo com os velhos padrões fragmentados dos dias mais
lentos da história.
Ruth Ananda “se referiu a uma nova consciência que poderia levar a humanidade para
muito além do medo e do isolamento, incluindo o conceito de auto realização de
Abranham Maslow”. Pessoas engajadas em outros estados de consciência se
tornam mais abertas, menos egocêntricas
e mais responsáveis. Substituindo as estreitas lealdades por uma preocupação
ampla, crítica e amorosa com as outras pessoas. Buscando o que o educador John Holt clama por um ser humano radicalmente
novo. Necessitando, portanto, de uma revolução de consciência. A liberdade
canta não só dentro de nós, como também em nosso exterior. O homem não quer
sentir-se estagnado, o que deseja, na verdade, é ser capaz de mudar, de
transformar a si mesmo e os contornos em sua volta o que requer, ao mesmo
tempo, tolerância para experiências e ondas de inquietação.
Somos todos, invisivelmente,
ligados uns aos outros e há dimensões em que transcendem o tempo e o
espaço exigindo a emergência de um novo
ser humano autônomo. Há a procura de pessoas especiais que não podem ser
encontradas em qualquer lista “à venda”. Devemos nos procurar uns aos outros,
nos encontrar e nos unir. Precisamos acreditar que, algum dia, vamos conseguir transcender à “consciência
normal” e inverter a brutalidade e a alienação da condição humana e fermentar
toda a sociedade com esta nova premissa, transformando o todo. Somente através
de uma nova mentalidade poderá o ser humano modelar-se a si mesmo. Abram os
olhos há mais coisa ainda, mais profundidade, mais altura, mais opções e mais
perspectivas do que havíamos imaginado. É preciso acabar com o perigo da
cegueira da opinião dominante. Precisamos começar a ver através dos olhos e não
mais, ver com eles eliminando, definitivamente, o que fragmenta os poderes do raciocínio e da imaginação.
A maior revolução em nossa
geração é que os seres humanos modificando as atitudes anteriores de suas
mentes podem modificar os aspectos exteriores de suas vidas. Só o homem, de
acordo com Willian James é o arquiteto de seu próprio destino. A ciência
mecanicista não explica os mistérios da vida. Acreditar nisto é uma
ingenuidade, ela, ao contrário, viola a natureza, nossa filosofia, nossa arte,
sentimentos e intuições. Precisamos, para compreender isto de um novo
instrumento holístico; de um novo princípio de organização inerente à natureza.
Portanto, ainda aguardamos o primeiro passo poderoso que começa com a união do
intelecto com a mente intuitiva, conforme nos ensina Carl Jung por meio de sua
sagrada psicologia transpessoal e a revolução que ela representa, deixando o
homem pronto para as transformações necessárias e que, com certeza, ainda estão
por vir.
Começa-se assim uma nova conspiração de indivíduos para
elevar a um novo estágio o edifício da vida, conforme nos lembra Teilhard de
Chardin, em seu O espírito da terra,
o alcance que chamou de “ponto ômega” – “nada
no mundo pode resistir ao fervor do espírito coletivo”. A mente fica
ofuscada quando emerge da sua sombria prisão
e talvez seja este o grande problema, o de saber submergir a este
momento de escuridão e insegurança frente o novo que avança ao nosso encontro.
Nós já entramos no maior período de mudança que o mundo já
conheceu. Os males que sofremos hoje têm suas bases no pensamento humano até
aqui, objetivamente estrangulador e a solução está no entendimento profundo de
tais relações por uma metalinguagem que transcenda os estreitos domínios das
formas, que, por exemplo, nos comunicamos. Mas, felizmente, um novo tipo de
interrelação entre os indivíduos, começa. Alfredo Korzybski ressaltou a
linguagem com outro aspecto de consciência que modela o pensamento. Os
princípios da semântica geral com as palavras cria em nossas mentes imaturas
grandes vazios e por isso mesmo, podemos confundir a realidade e criar falsas
certezas. Isolamos as coisas que só podem existir com continuidade, deixamos de
perceber o processo, a mudança, o movimento. E tudo é fruto de uma ideologia
animalesca, fundada nas concepções de um capitalismo, ou mesmo de um socialismo
gritantemente atrasados e que se formatam nos princípios da profunda
desigualdade, da miséria para muitos e da opulência, não só material para
poucos. E, pior ainda, para os mesmos, desde os primórdios da história do ser
humano sobre a terra. E isto persiste na educação, na política, na gestão das
organizações, no planejamento genuinamente grotesco que ainda temos. Pois sua
evolução está apenas na aparência, nos dogmas, no papel. E não é só isto, as
demais ciências, as práticas sociais, a psicologia, a arte, a universidade, os
meios jurídicos, a construção civil, as ciências ambientalistas, ecológicas, a
biologia, os serviços, a vida, enfim, tudo caminha por esta ainda estreita e
pueril estrada que conduz o que a humanidade incauta chama de evolução.
Quando a pessoa libera uma nova
capacidade, esta torna, de súbito, evidente para outras que podem, então,
desenvolvê-la também. Certas habilidades, artes e esportes desenvolvem-se de
forma espontânea em culturas específicas. Até mesmo nossos talentos “naturais”
devem ser encorajados. Os seres humanos não falam e nem andam de forma
biologicamente natural, mas por imitação. Se os bebês fossem metidos em berços
de asilos sem nada a fazer a não ser olhar para o teto iriam caminhar e falar
muito tarde, se é que chegariam a fazê-lo. Estas capacidades têm de ser
liberadas e envolvem a interação com outros seres humanos e com o meio. E
dentro do contexto de todas as ações e medidas isto se repete, pois, como
estamos vendo, tais fenômenos se renovam, pelo menos similarmente, inclusive
nos processos de transformação e de mudança que aqui tratamos. Ou seja, tudo
volta a acontecer, por isso muitas das mudanças que temos são parciais e
limitadas e devemos suprimir esta
limitação dentro de tal processo. Neste
contexto nós conhecemos a meia mudança,
também chamada de não-mudança que é a forma mais eficiente de não se mudar
nada. A simples inovação é, por assim dizer, uma estratégia dos neutros, dos
que na verdade querem falar em mudança, justamente, para não realizá-la. Pois o
discurso contrário pareceria reacionário demais para quem precisa se mostrar em
grandes evoluções. É chic e necessário falar e propagar a mudança, mas
realiza-la, nunca, pois isto irá ferir a nossa zona de conforto. E o mundo
civilizado está, infelizmente, cheio disto.
Outra forma é a mudança
por exclusão a mais fácil e limitada das formas de mudar. Ela dá início a
tal segmento, mas não o conclui. Neutraliza processos e cega seus agentes,
criando, por assim dizer, um falacioso sentido de satisfação em relação ao que
se espera mudar. Quando o velho sistema de convicções permanece intacto, mas
admite um punhado de anomalias, do mesmo modo que o velho paradigma tolera um
certo número de fenômenos estranhos a ele e que se agregam às suas bordas,
antes da ruptura que leva a um outro paradigma mais inteiro. Um indivíduo
engajado a uma mudança por exclusão pode desaprovar todos os membros de um
particular grupo, exceto um ou dois; os que defendem as exceções que confirmam
a regra; em vez de exceções que não confirmam a regra que se excluem mutuamente
para que tudo permaneça como antes. E, ao mesmo tempo, nada pode parecer
estranho nesta que podemos chamar de uma evolução só das aparências.
Estranho o antagonismo que existe
entre o apelo para a mudança e ao mesmo tempo, os processos utilizados para
impedi-la. No geral, quando as pessoas sentem
que as mudanças necessárias e desejáveis podem mesmo acontecer, consciente ou
inconscientemente, todas as medidas são tomadas para que o fenômeno não se
conclua. Quebram-se seus processos e o resultado é evitado a qualquer custo.
Demitem-se seus agentes, retiram-se os recursos, promovem-se bombardeios de
ideias e exatas revoluções contra qualquer possibilidade, ainda que longínqua.
Se for descoberto que certa pessoa, grupo, equipe, organização tem o vírus da
mudança ou o potencial para mudar elas, no geral, passam a ser tratadas como
quem tem uma terrível doença crônica contagiante e que pode contaminar e
desgraçar todo o seu meio. Passam a ser abandonadas, a viver sozinhas e são
olhadas com desdém e comiseração, como se fossem infelizes e inúteis. Para
disfarçar, opta-se no máximo, pela mudança
quantitativa que é aquela que se dá lentamente, pouco a pouco e só acontece
porque os indivíduos envolvidos não a percebem. É a mudança por partes, gradual
e fragmentada e quando chega ao fim – se é que isto acontece – já se faz
necessário começar de novo um outro
processo de mudança mais atual e eficaz. Mudança meramente disfarçada para que
tudo continue como estava antes, gerando aí um profundo suspiro de alívio para
antecipar as reclamações que se seguiram de que nada muda, nada acontece e
assim, sempre, num ciclo vicioso e doentio.
E falando ainda em mudança que
não muda, resto-nos ainda o que se acostumou de chamar de mudança pendular – é o
abandono de um sistema seguro e fechado por um outro. É a mudança que falha no
processo de integração do que estava correto no antigo e erra ao distinguir o
valor do novo, de seus exageros. A mudança pendular rejeita a sua própria
experiência interior passando de uma espécie de conhecimento incompleto para
outra. Todas estas mudanças não chegam à transformação, pois, lidam com
informações limitadas, conflitantes e antagônicas, diria, meio que de propósito.
Não conseguindo integrá-las, não fundindo uma visão dupla em uma única, levando
os sujeitos a optarem por relações não- conflitantes, reprimindo aquelas que
não se encaixam nas convicções dominantes. Ou seja, exibem e camuflam, ao mesmo
tempo, o fenômeno da mudança para que tudo permaneça sem mudar, assim como todos os demais
processos até aqui discutidos.
Mudemos, portanto, pelo menos o
foco. E, para isto, necessário se faz um certo convencimento de que estamos inseridos até o atual momento
histórico em mudanças que nada mudam, ou seja, fracassam, por razões óbvias. Comecemos
a discutir a mudança de verdade, ou, melhor dizendo, possíveis processos de
transformação, ou mudança de paradigmas.
A bem da verdade, a mudança que buscamos – é, em síntese, a base da
transformação, ou seja a mudança das antigas formas de mudar que já deram
mostras mais do que suficientes de suas graves anomalias em todos os tempos. A
mudança até hoje se dá de uma forma particularmente parcial, sendo coordenada
por quem tem mais do que razões e privilégios próprios para nada mudar. Este
sim, o sentido filosófico, as questões ideológicas para a não-mudança. Mas
seria extremamente cruel, frio e criminoso se admitir tal processo de frente,
daí os elegantes discursos falseadores,
o maior, talvez o único grande mal de nossos tempos. Assim, os agentes das tais
“mudanças” são, geralmente, sectários e pobremente instintivos, fundam-se na
hipocrisia que chamam de técnica. E as suas propostas para mudar são vistas-
por eles próprios, é evidente – por uma ótica decadente, proporcionando os
privilégios e os benefícios para quem já os tem. E, assim, por mais que se
mude, tudo continua a mesma coisa. É o eficaz sentido político da não-mudança
que temos visto e vivido.
Mudar paradigmas é transformar bases, ideias,
pensamentos, valores e ações, partindo, portanto de uma visão ampla dos ciclos
que envolvem as causas, os efeitos, os processos e resultados de qualquer
realidade que se proponha que venha ser mudada, ou melhor, transformada. E, para tanto, tudo deve ser feito de forma
simultânea, integrada, múltipla. É fundamental o entendimento de que tudo e se
liga a tudo e a todos num intenso, global e pertinente sentido de redes vivas e
infinitas. Colocar-se no lugar do outro,
dos que sofrem, dos que buscam, dos que necessitam e que, quase sempre estão
fora dos processos, dos poderes de decidir, e, portanto, de mudar. Todos devem
decidir e mudar juntos. Ao contrário das hierarquias secas que ainda temos. Agregando,
desta forma os sonhos, os desejos, as necessidades, ritmos, estilos de ver,
crer, desejar e fazer as coisas. Derramar por todos e para todos as benesses do
que, do como e do para que e para quem mudar. Já de início, o termo mudança é
pouco, é mínimo. E o que precisamos falar e fazer é uma transformação radical e profunda.
Transformar e evoluir cenários,
extinguir normas e hierarquias, formar redes vívidas e lúcidas. Dando chances
de vida com abundância de qualidade para todos. Assim, reformar é pouco,
inovações não existem, mudança é quase nada. Estamos falando de transformações radicais e propositivas para que a
vida seja o êxito possível.
Algo na atividade consciente está
apto a uma profunda mudança, a adotar o verdadeiro conceito de transformação
nas ações humanas. Uma transformação é, literalmente, uma nova forma de
reestruturação de alguma coisa ou de alguém, buscando e esperando processos e
resultados novos, autênticos e originais em todos os sentidos. Neste aspecto as
mudanças parciais e rasas, não contam, pois são o construto básico da teoria
oca que a nada leva. Uma transformação matemática, por exemplo, é a conversão
de um problema em termos novos para que possa ser resolvido. Falamos aqui da
natureza metafísica da transformação. Uma nova perspectiva que percebe outras
perspectivas, ou seja, uma mudança de paradigmas e não como simples novas
visões que conceituam como mudança as antigas tradições, tanto no sentido
científico, como no místico, no cultural e em outras abordagens. Vivemos,
portanto, a cisão entre o consenso e o conflito e este entendimento é
fundamental para processarmos o que queremos e precisamos para que a vida persista.
O começo de uma transformação é
extremamente difícil. Só temos que nos centrar
no próprio fluxo da atenção. E aí, imediatamente, adquirimos, por assim
dizer, uma nova perspectiva. Qualquer coisa que nos conduza a um estado
consciente e vigilante, assim como a nossa mente é o próprio veículo da
transformação. É a busca de uma dimensão superior, ou seja, mais abrangente. E,
para tanto, devemos atender aos apelos das modernas neurociências e colocar
toda a energia do nosso cérebro a serviço do que queremos fazer, processar,
aprender, descobrir. Para realizarmos qualquer mudança com êxito é a mesma
coisa. Exercitando, proporcional e autenticamente, nossas capacidades mentais
internas de sentimento, razão e prática, na quantidade, proporção manejo e
forma conforme o que desejamos, o que esperamos, seu momento e características.
Abandonando padrões, mas personalizando caso a caso, este sim, o grande
segredo.
Tanto o cérebro, quanto o
comportamento humano são, inacreditavelmente, flexíveis. Somos condicionados
para termos medo, ficarmos na defensiva, sermos hostis, ainda que tenhamos
também a extraordinária capacidade para a autotranscedência. Aqueles que
acreditam na possibilidade de uma transformação iminente, não são otimistas em
relação à natureza humana. Em vez disso, confiam no processo da transformação.
Todos experimentando uma nova modificação positiva em suas vidas – mais liberdade,
sentimento de união e afinidade, mais recursos criativos, meios de lidar com o
estresse. Criando, assim, uma outra noção de sentido da vida. Estas pessoas são
as que admitem que as outras também podem mudar. Acreditam ainda que se um
determinado grupo descobrir novas capacidades em si mesmo, naturalmente,
conspirará para criar um mundo mais hospitaleiro para a imaginação, o
crescimento, a cooperação humana e que só a evolução individual pode conduzir
ao desenvolvimento de todos. Neste sentido, coletivos são meras abstrações
linguísticas que acompanham o viés da política da competitividade doentia.
Sociedade não existe, mas sim, pessoas, com suas limitações, capacidades,
desejos, angústias, carências, necessidades, problemas a solucionar.
Coletivizar é adjetivar, quando o que deveríamos fazer é substantivar. Estamos
exercendo, portanto, uma forma de enganação social por meio da linguagem
elegante, da semântica culta e gramaticalmente correta, justamente para isto.
Não podemos mais nos ajustar aos
paradoxos da vida cotidiana, ficando divididos entre o que os outros desejam de
nós e o que desejamos de nós mesmos. Pois, no fundo, somos um só e tudo
converge para um mesmo fim. O que precisamos ter é a certeza e consciência do
fazer correto, sem os engodos elitistas a que fomos adestrados desde a mais
ínfima idade. Quando nos reprimimos ou vacilamos porque temos que agradar ao
poder sobre nós – seja ele correto ou não e nós intuímos isto sempre – estamos
nos privando da transformação. Ao nível da percepção comum nós negamos a
angústia e o paradoxo. Quando a luta é abandonada ela está, absolutamente,
vencida. Para se chegar mais rápido é preciso diminuir a velocidade. Só vence a
corrida quem tira o pé do acelerador, embora pareça que não. A transformação
não é um espetáculo para ser observado. É para ser feito por todos, sem plateia.
E a complexidade do método não deve ser confundida com a sua eficiência. A
prática faz melhores nadadoras ou esquiadoras dentro e fora da água, quaisquer
que sejam nossos talentos inatos.
A transformação é irreversível:
espelho algum se torna ferro novamente e nenhuma uva madura fica verde de novo.
Disciplinas altamente estruturadas tornam-se um simbolismo intrincado e pode
beneficiar alguns, enquanto outros sofrem ao desalento e em profundo desespero
em volta de todo o mundo civilizado. As altas mudanças com tecnologias simples
são realmente as que contam no parâmetro da busca da evolução de verdade.
Aquela que precisamos, buscamos, mas que se esconde em meio às complexas
confusões criadas por todos nós, seres humanos cegos e incautos frente à real
dinâmica do mundo e as exigências de uma vida minimamente digna para todos . Um
método que dá certo por algum tempo pode, de repente, parecer inapropriado; ou mostrar
que ainda não está produzindo
modificações significativas. Mas num retrospecto, pode-se verificar que muita
coisa interessante aconteceu, daí a
carência da mudança, da transformação rumo ao perfeito que deixa, assim, de ser
utópico, pelo menos no sentido platônico da palavra.
A transformação é processo, é uma
viagem sem destino final. Mas nela há segmentos facilmente identificados:
cumes, lamaçais, areias movediças, erosão, sol, chuva, escuridão, calor, frio,
mas que quase todos resistem – os fortes, os que se fazem necessários. Para identificar se o campo é ou não apropriado
para a transformação devemos verificar no “mapa do território” alguns estágios principais:
1. O
ponto de entrada preliminar, quase casual, algo que abale o velho entendimento
do mundo, as antigas prioridades. Muitas vezes, produto do tédio, da desmotivação, da falta de curiosidade ou do desespero. É uma
experiência espontânea, diria, mística, difícil de ser explicada e muito fácil
de ser negada. Principalmente, pelo complexo de se resistir a quase todas as
formas de mudanças, ou melhor dizendo, a todas elas, pelo menos pela ampla
maioria de nós, os humanos. Transformar a realidade de modo a se chegar mais perto possível do ideal de cada pessoa ou
situação. A mudança de paradigmas só pode ter início com a harmonização das
ideias e filosofias numa nova e poderosa síntese. Ou seja, uma transformação
autêntica de crenças, valores e ações. É a dimensão de uma perspectiva
realmente nova que permite que as informações se unam em novas estruturas e
conjunturas. Não é isso que desejamos? Por que então nós negamos isto com todas
as forças de que somos capazes? Questões que precisamos entender, para só
então, termos as condições mínimas de continuar.
2. Sob
muitos aspectos a dificuldade de processar a mudança se deve ao fato de ter-se de abrir mão da
certeza e passar a trabalhar com aproximações, o que leva a diferentes maneiras
de se enxergar os fatos, os fenômenos e suas histórias. Colocando em risco a
nossa “zona de conforto” dentro deste mesmo processo e sobre diferentes
perspectivas e em distintas ocasiões. Integram-se ao mesmo tempo valores
objetivos, subjetivos e intersubjetivos. Agregam-se ideologias, o que, no
geral, nossa estreita visão não está preparada para lidar.
3. Na
mudança de paradigmas admite-se que se estava parcial ou totalmente errado
antes e que se pode estar agora um pouco mais parcialmente certo. Percebemos
opiniões que eram apenas parte do quadro – e aquilo que sabemos hoje é apenas
parte do que saberemos amanhã. A mudança não é mais uma ameaça, ela absorve,
amplia, enriquece. Cada percepção abre espaço para que a nova etapa seja mais
fácil. E, assim, infinitamente. É, em síntese, a mudança da mudança, exatamente como na natureza; a evolução de um
processo simples para um outro, complexo. Cada nova ocorrência altera aquelas
que se seguem. Ela não gera apenas um
simples efeito linear. É uma súbita mudança, a saída do padrão para uma aspiral
em ciclos evolutivos, sequenciados, permanentes e integrados entre si. Uma rede
em co-existência, por vezes, um cataclismo.
Tudo altera os fluxos, as
percepções, seus processos e resultados. A mudança aumenta infinitamente.
Podemos dizer que “síntese se baseia na
síntese em evoluções permanentes e infinitas”. É a organização
transcendendo velhos conflitos, rompendo a antiga ordenação. Potencializando,
assim, a verdadeira transformação das coisas num movimento de maior maturidade,
de abertura, de força, de criatividade. Estas são características a um só tempo
amplas e sutis e que a pobre e limitada dimensão técnica a que a humanidade tem
se dedicado, especialmente, após a revolução industrial, se esqueceu de
agregar. E hoje talvez seja demasiado tarde para isto. O que, em si, prenuncia
o caos. Daí o sentimento de todo esforço neste sentido ser pouco. Precisamos,
pois, arregaçar as mangas, ranger os dentes e tencionar os músculos: enfim,
revolucionar, no exato sentido da palavra.
Ninguém pode persuadir a outra
pessoa a mudar. Cada um de nós vigia uma porta de mudança que só pode ser
aberta pelo lado de dentro. Não podemos abrir a porta para ninguém, nem com
argumentos e nem com apelos emocionais. Para a pessoa mudar alguma coisa dentro
dela tem que morrer, o que é uma descoberta assustadora. O que prescindimos é
de aspectos e valores para que a
solidariedade humana, a condição
essencial para a expansão de qualquer indivíduo, conforme Erich Fromm se faça
presente em todos os processos decisivos sobre nossas ações em todos os campos
da vida. O que depende de trocas, de relações pessoas fundadas no querer bem
entre elas – sem tal amorização tudo parecerá impossível ou será, no mínimo, muito mais difícil. Não
há transformação sem amigos, somos parteiros uns dos outros, o que na intimidade
de cada um parece gerar, inexplicavelmente, algum ponto de tensão, de reserva.
O que temos é um medo enorme de nos doar pois, somos ainda, e, infelizmente, à
revelia de tanta evolução, egoístas e competitivos por excelência.
Neste sentido, o medo tem sido
nossa eterna prisão: medo de nós mesmos, medo da perda, medo do medo. Nossos
medos são um repositório de tesouros de autoconhecimento e, uma vez que
sentimos a transformação de um medo, temos, igualmente, dificuldades de tornar
a senti-lo. O eu transformado dispõe de novos instrumentos, dons,
sensibilidades que são interações internas que precisam de grandezas que, pelo
que parece, ainda não temos. Perdemos tempo demais, historicamente, com os
valores outros e até antagônicos a tudo o que necessitamos, daí a realidade a
que nos achamos expostos como no fundo de um poço e arranhando loucamente suas
paredes para sair. Precisamos, portanto, de processos de transformação e
mudança. Eles experimentam, especulam, inventam e saboreiam o inesperado. É
como Maslow nos dizia que “temos medo
de nossas potencialidades superiores. O medo de saber é o medo de saber,
pois o conhecimento sempre agrega responsabilidades”.
A transformação é uma experiência
que apresenta resultados e nós aprendemos muito com ela. Sempre que integramos
a algum processo para tais fins, se soma alguma coisa à nossa compreensão, às
nossas habilidades. Seja qual for o fim a que chegamos, nós não perdemos a
descoberta, o novo, o crescimento interior que é o profundamente mais
importante. Por outro lado, nenhuma ideia radical poderá sobreviver se não
tiver incorporada em indivíduos cujas vidas sejam a própria mensagem. Razão e
intuição são complementares, enriquecem-se mutuamente quando sucumbem à
transformação, resgatando a qualidade do “eu” e da importância de cada
indivíduo.
Só ai é que parecemos estar
prontos para a exploração – o sim, após o não final é a entrega deliberada e de uma forma
intencional. Nós soltamos alguma coisa que estávamos apertando, para que
possamos flutuar. É o colocar a mão na massa transformando fatos, fenômenos,
aspectos, coisas, movimentos, pessoas naquilo que desejamos, buscando, assim, a
integração de tudo a tudo, ou seja, a penetração do mistério até então oculto
por detrás de nossas máscaras, nossos jogos e os conflitos, especialmente, os
travados conosco mesmos.
Neste estágio, podemos parecer
visionários demais, mas conspirar passa a ser muito mais do que necessário – a conspiração – a descoberta de outras
formas e dos modos de usá-las a serviço dos outros facilita a transformação mas
não a impõe: conspira para a renovação sistemática e inteira. A mesma que tem
sido descrita historicamente como o verdadeiro despertar. O que prescinde do
entendimento de que ”se algo vai mal no
mundo é porque algo vai mal comigo”. Fomos divididos e somos incapazes de
harmonizar pensamentos e sentimentos contraditórios, quanto mais, antagônicos,
negando o contágio, a conspiração, a multiplicação de ideias, o fazer-se
plural. E neste sentido, a importância do processo é outra descoberta, aprender
é mais importante do que acumular informações, assim, nos convencemos de que,
buscar, exclusivamente resultados, como temos feito historicamente, faz parte
de outro plano. Os objetivos e os pontos finais importam menos, pois
transformar é aventurar-se naquilo que não tem fim. Quando entendemos que a
vida se torna um processo, desaparecem as velhas distinções entre vitórias e
derrotas, sucessos e fracassos tudo é um sinal para nos ensinar a aprofundar a
busca. Devemos deixar de adiar a vida, prestando mais atenção no momento do que
no relógio. A incerteza é uma companhia mais do que necessária e os
conhecimentos tácitos sintonizando sinais interiores tornam-se muito mais
fortes.
Mudança significativa, conforme
nos ensina Mahatma Gandhy, só pode ser implementada em nível de pessoa, de
conversas de vizinhos, de pequenos grupos, em aldeias longínquas, entre árvores
e bichos. Ou seja, dentro da simplicidade criativa do espírito que é, o que, de
fato, nos enriquece. E, para tanto é preciso saber aproveitar as instâncias,
locais e momentos propícios à criatividade lúdica. Mudar e transformar é sair
das hierarquias agonizantes para entrar e se integrar a redes cheias de vida. Se
quisermos, por exemplo, mudar a burocracia, a primeira coisa a fazer é mudar os
tecnocratas, um por um, chegando a todos. A mudança, a transformação social não virá tão
rápida como gostaríamos. Formar uma comunidade em transformação é um processo
tão sutil quanto longo e delicado. Devemos, portanto, apenas viver nossas condições,
e, assim, poderemos transformar o mundo, provocando a necessária revolução das
almas, dos sentimentos bons, eternizando as alegrias de viver.
A revolução pessoal, tão urgente
quanto necessária se caracteriza pela nossa capacidade de transformar a nós
mesmos, ela não se com opera milagres e
nem com ideias antigas. Deve haver também a crítica interna de injustiças, devido
à cultura moral, à religião, aos costumes, às ciências, à tecnologia com que
comungamos, à educação que recebemos e assim por diante. Deve exigir respeito
pela singularidade individual, com a sociedade sendo considerada como um meio
para o desenvolvimento do indivíduo e da fraternidade humana em seu sentido não
só mais puro, como também, mais pleno. Analisar a justaposição existente entre a miséria
e a opulência, o maior dos horrores, o maior dos crimes, no final das contas, o
que cria toda a problemática e a necessidade de solucioná-la por meios
transformadores. Sem mudarmos basicamente esta realidade a partir de nós mesmos
e dos nossos privilégios nada poderemos fazer e tudo o que discutimos e
estudamos é uma exata perda de tempo.
“Qualquer verdade neste sentido produz o escândalo”, sugere-nos
Marguerite Yourcenar. Superar os mistérios dos buracos negros, não no cosmos,
mas dentro de nossas almas é, absolutamente, fundamental e tudo é nulo quando não temos coragem de
abrirmos mãos de nossos privilégios geradores das misérias para tantos.
Fragmentamos e congelamos aquilo que deveria ser móvel, aquecido, vivo e
dinâmico. Montamos hierarquias de poderes artificiais para nada, e o que é
pior, nós não conseguimos enxergar isto. Competimos com o que deveríamos
cooperar e cooperamos com o que deveríamos competir numa autêntica e absoluta
inversão de valores. Vivemos uma necessidade crítica de mudança e tudo fazemos
contra a natureza, enquanto deveríamos viver com ela.
Lembremos o modelo de mudança de
paradigma introduzido por Thomas Kuhn: toda importante ideia nova parece
estranha no início. Como disse o físico Niels Bohr, “grandes inovações, inevitavelmente, parecem desordenadas, confusas,
incompletas, compreendidas apenas em partes, até mesmo por seus próprios
descobridores e misteriosas para qualquer outra pessoa. Não há qualquer
possibilidade de alguma especulação que não pareça absurda à primeira vista”.
É preciso no mínimo cinquenta anos para que uma descoberta importante penetre
na cabeça do público, o que, frente às necessidades dos tempos atuais, põe em
risco e ameaça todo o futuro coletivo, incluindo aí o de cada um de nós.
Nossa ideia é a de criar novos
paradigmas, apontando as falhas dos antigos, derrubando os velhos muros à
procura de novas percepções melhor atuantes e mais abrangentes frente à
complexidade dos problemas do mundo que precisamos resolver. Portanto, sejamos,
acima de tudo, flexíveis, criativos, repletos de doçura e de humanidade. Um
sistema rígido e frio – como o que aí temos acumulará tensões até que se rompa
em algum ponto da estrutura, de modo súbito e até muito perigoso. A
reorganização humana e social é como a manobra de um navio quando se atacavam
os problemas, centrando-se a direção e a atenção no lugar errado. Pode se, por
exemplo, dirigir uma grande organização com um poder sutil, uma perspectiva
aberta, franca, que respeite o ser humano em sua integridade moral, o que
constitui uma força vigorosa de empatia, sensibilidade, compreensão e afeto. E
são, justamente, estes, os valores que faltam para que as organizações e a vida
sejam o sucesso que esperamos e não mais fontes de dor, sofrimentos, desgraças,
angústias, depressões a que teimamos a nos acostumar.
Para tanto, o poder dos novos
paradigmas é uma perspectiva que politiza mesmo aqueles que não têm interesse
na política convencional. Nele se sente que as necessidades compartilhadas têm
mais chances de serem concluídas com sucesso do que uma ideologia apenas
radical que não se explica ou se fundamenta por si mesma. Outra coisa nele
importante é o poder do processo que é um ato de autonomia transformadora:
passos dados no caminho da liberdade e da felicidade que levam a outros ganhos
mais fáceis de conquistar, e, principalmente, manter e distribuir. Programas, cronogramas,
estratagemas são menos importantes do que engajamentos, sentidos, metas,
sentimentos, bondades, belezas, união e esperanças. O objetivo bem definido
demais sempre foge de nós. A salvação é o esforço contínuo e não, a realização
plena. Pois esta não existe. Devemos, pois, nos engajar em uma busca eterna. Entendendo
que a alegria da viagem só está presente enquanto existe o movimento dela própria
e sem sabermos quando, onde chegar, se seremos bem ou mal recepcionados, pois
isto, definitivamente só interessa aos fracos, aos medíocres. São estas as
incertezas que permitem a alegria dos traslados. Nós só viveremos se tivermos
bem alimentados de suspense, de esperas e de surpresas que quebram a rotina
mórbida, a bem da verdade, a única coisa que nos mata a cada respiração.
A importância do poder da
incerteza é o oxigênio necessário como premissa de vida. O incerto inova, muda,
transforma, arrisca com maior facilidade é isto é da mais absoluta utilidade se
é que desejamos mesmo continuar vivos. É o envolvimento lúdico no empenho de
uma nova visão. Nossa imaginação deve ser livre para cometer enganos. E por que
não? É preferível arriscar-se e perder, do que não jogar. Dispor-se a
reconhecer a incerteza é estar livre para aprender, errar, adaptar, inventar,
criar e voltar ao bloco do rascunho sempre.
E tudo inclui no plano
estratégico de tais lógicas o poder de prestar atenção, de descobrir o que dá certo
e de enfrentar os conflitos, deixando-nos completamente despertos, buscando o
autoconhecimento, o voltar-se para dentro, explorar a psiquê, proporcionando a
mudança do poder de cada indivíduo dentro de um mesmo processo. Ter flexibilidade
para a busca de soluções, neutralizando assim, os ataques frontais.
Comunicação, crescimento, transmissão de novas ideias, contágio com visões,
indagações, experiências, novas imagens, sendo, em si, muito mais eficaz do que
a mera instrução. O poder deste conjunto
de elementos aglutina a força perdida pela ignorância. Acentua opções e
talentos coletivos, recompensa a diversidade e sufoca o conformismo. Iremos reconhecer
que dispomos de mais opções do que imaginávamos, podendo, finalmente, dizer não
às sufocantes e inaceitáveis.
Deveremos, portanto, despertar para a influência dos conhecimentos, descobrindo, finalmente, que “não tem que ser assim”. A maioria das pessoas falha porque não desperta e não percebe que se encontra numa bifurcação da estada e tem que decidir. No dizer de Alexis de Tocqueville, em sua Democracia na América: “já basta de linearidade, dentro de um círculo nós somos poderosos e livres”. Devemos, então, aposentar as hierarquias e dar vivas à liberdade, descentralizando ao máximo o poder e a ação para que os desejos se cumpram e os sorrisos concretos possam florir e frutificar. Somos todos iguais dentro deste confronto. Considerar que uns são mais e outros menos é não só, uma ignorância brutal mas um atraso descabido enquanto estamos vivos e respirando. Pois na grande primavera da vida, os galhos são, naturalmente, uns longos, uns curtos, uns tortos e outros retos. Alguns carregam flores, pesados frutos e outros, nada, sendo isto o que deixa a natureza inominavelmente bela.
Deveremos, portanto, despertar para a influência dos conhecimentos, descobrindo, finalmente, que “não tem que ser assim”. A maioria das pessoas falha porque não desperta e não percebe que se encontra numa bifurcação da estada e tem que decidir. No dizer de Alexis de Tocqueville, em sua Democracia na América: “já basta de linearidade, dentro de um círculo nós somos poderosos e livres”. Devemos, então, aposentar as hierarquias e dar vivas à liberdade, descentralizando ao máximo o poder e a ação para que os desejos se cumpram e os sorrisos concretos possam florir e frutificar. Somos todos iguais dentro deste confronto. Considerar que uns são mais e outros menos é não só, uma ignorância brutal mas um atraso descabido enquanto estamos vivos e respirando. Pois na grande primavera da vida, os galhos são, naturalmente, uns longos, uns curtos, uns tortos e outros retos. Alguns carregam flores, pesados frutos e outros, nada, sendo isto o que deixa a natureza inominavelmente bela.
A descentralização é que conduz o
fluxo das novas ideias, imagens e energias para todas as partes. As
concentrações são antinaturais e fatais como um coágulo de sangue ou um fio
elétrico desencapado. Devemos dar vazão
à necessidade de ataques simultâneos a todas as frentes e em todas as partes de
uma só vez. O salto para uma nova ordem é repentino: ou tudo ou nada. John
Platt propôs o uso de estratégias naturais
para conduzir a transformação social e conquista-la como um troféu que é
de todos e tem o nome de preservação da vida. Trabalhar com a mudança viva, a
transformação do que aí está, aconselhou ele, e, devemos, para isto e encontrar
o foco do poder. Descobrir o caminho mais fácil e sermos catalisadores. Não
consumindo nossas energias com inimigos ou adversários. Dedicando-nos aos que
estão amadurecidos para a persuasão. O principal objetivo de quem enxerga não é
lutar contra a maioria, mas, mostrar-lhe como.
Para transformar, bebamos, enfim,
na fonte da intuição coletiva, na orientação que vem de dentro, na
criatividade, na empatia, no claro senso de uma justiça sempre maior e ao
alcance de mais e mais pessoas, em lugar de formar opiniões pela pobre e
limitada lógica exclusiva. Mudar optando, naturalmente, pela intuição criativa,
de certa forma conflitante, e, ao mesmo tempo consensual, portanto, muito mais
rica, fluida e repleta do que tanto necessitamos para continuar a viver. O que
se junta à vocação pelo bem que a sociedade de consumo conseguiu destruir com
um sorriso cínico nos lábios. Lutemos por uma espécie de senso coletivo de
destino, algo muito além do sucesso material e da gratificação imediata. Esta é
a retirada para um novo ciclo, uma outra
visão, pois, precisamos e devemos sempre evoluir. É a sábia e vigorosa filosofia
de Teilhard de Chardin como a última
possibilidade de recuperar o poder que fora entregue ao inimigo desconhecido e
que não pode ser tomado, mas, amorosamente, conquistado de volta. “Pois, na empreitada do viver com dignidade, nós
somos ao mesmo tempo, jogadores, cartas e apostas. Nada poderá acontecer se
abandonarmos a mesa. E, ao mesmo tempo, não há força que nos obrigue a
permanecer”.
Citações & Referências:
Citações & Referências:
- Thomas Kuhn – em sua filosofia privilegiando aspectos sociológicos, psicológicos e históricos do conhecimento a ser colocado a serviço da vida (...) Evolução humanística e sócio-política (...) Ciência para resolver problemas dentro de um paradigmas ou unidade metodológica: racionalidade, ciência normal, pensamento mítico, racional, pré-ciência, descontinuidade e mudança.
- Beatrice Bruteau – pesquisadora da ecologia humana profunda que em seu falbuloso “Nós somos a revolução” faz, especialmente, um apelo para que sejamos capazes de entender e processar a mudança, não apenas esperando, passivamente (... ) E sugere que para isto devamos sair do pensamento simples para o complexo, do linear para o cíclico, do padrão para o personalístico.
- · Bernard Levin – no The Time de Londres afirma-nos que devemos mudar (...) Segundo ele, a forma como temos feito funcionar o mundo não serve mais e falando do desespero silencioso entre a posse material e a riqueza da alma e a saída possível é preencher este vazio com atitudes de carinho, compreensão, amor, bondade e empatia fazendo o bem para todos e com todos.
- · Teilhard de Chardin – em seu “O fenômeno humano” define a complexa humanidade em termos de razões, sentimentos e ações, no sentido de se congregar esperanças para uma vida futura (...) O religioso francês difundia o que, nos nossos dias chamaríamos de sustentabilidade dentro de uma visão bem mais profunda, inserindo o contexto do amor, da pureza e da bondade, ícones de suas obras e estudos que deixou publicados (...) De conformidade com os preceitos de Chardin o futuro está nas mãos dos que podem oferecer às gerações vindouras razões válidas de esperanças (...) Depois de tudo que sofremos e sangramos enquanto vivemos vem um “sim” indefinido para continuarmos. E é deste “sim” que depende o futuro do mundo que nos leva ao inusitado que nos amadurece e nos transforma (...) Teilhard de Chardin, em seu O espírito da terra, nos conclama para o alcance do que chamou de “ponto ômega” – “nada no mundo pode resistir ao fervor do espírito coletivo” (...) S mente fica ofuscada quando emerge da sua sombria prisão e talvez seja este o grande problema, o de saber submergir a este momento de escuridão e insegurança frente o novo que avança ao nosso encontro.
- · Teodore Roszak – trabalha com a física da existência e nela devemos aprender a valorizar nossas dores e sofrimentos mais íntimos, mais internos (...) Nossas cicatrizes são preciosidades que ensinam o que devemos aprender. E uma vez apreendido, ter as chances e a coragem de reconduzir, transformar, mudar o que for preciso: todos temos esta segunda chance, pena que poucos de nós a aproveitamos.
- · Marshall McLuhan – fala-nos implosão da informação fazendo do mundo uma aldeia global segundo a qual a comunicação não deve ser somente ampla, mas também profunda é ponto fundamental para mantermos, a partir de agora nossos contatos, relações, trocas, querências pessoais e amorosas (...) Fixa assim o processo que traduzimos como comunicação tridimensional, efetivando, assim as relações de trocas entre as pessoas e o seu meio (...) Divulga os processos e importância da intercomplementaridade entre o verbal, o não-verbal e o factual, sem os quais a comunicação inexiste .
- · Carl Roggers – nos ensina que “as pessoas estão se mostrando realmente abertas, expressando o que sentem e sem medo de serem julgadas. Somente aquilo que sentimos muito profundamente pode nos modificar”(...) Busca assim integrar aos processos de mudança os processos cerebrais do sentir, do saber e do fazer, complementando de forma múltipla e integrada os processos da comunicação anteriormente citados.
- · Aldouxs Huxley – se mostra profundamente otimista quanto à multidão dos homens existentes à margem da sociedade, o que foi considerado como uma heresia (...) Mas não nos esqueçamos que foi com esta premissa que ele veio apoiar Bertalanfy, na Teoria Geral dos Sistemas, tão aplaudida atualmente, e, segundo a qual, “nada pode ser considerado isolado, pois tudo faz parte de um sistema”, daí a sua importância pela função de incluir a todos, sem quaisquer fronteiras, e, isto é grandioso.
- · Lowis Pauwels e Jaques Berger – em O despertar dos mágicos(...) descreveram uma rebelião aberta de indivíduos inteligentes, transformados por suas descobertas anteriores, mesmo as de vivências de misérias, dores, erros e sofrimentos, que são ingredientes fundamentais para medidas grandiosas de transformações realmente válidas para a vida.
- J. B. Priestley – Fala-nos da grande importância da ciência genuína (...) “Não a ciência das escolas, as filosofias simplificadas, as religiões das igrejas, mas a dimensão espiritual e mística que transcende hábitos e políticas”(...) Segundo o seu pensamento, a ciência e a tecnologia devem ser revolucionárias, transformando-se em relações metafísicas desprendidas dos preceitos e preconceitos econômicos e sociais, não esquecendo a ideologia, mas, pelo contrário, aprofundando ao máximo o seu entendimento na teoria, na prática e na práxis devidamente relativizada.
- Ruth Ananda – “se referiu a uma nova consciência que poderia levar a humanidade para muito além do medo e do isolamento, incluindo o conceito de auto realização de Abranham Maslow”(...) Pessoas engajadas em outros estados de consciência se tornam mais abertas, menos egocêntricas e mais responsáveis com os destinos do mundo e da vida em seu sentido mais amplo e glorioso difundido dentro da boa ciência e da mística. John Holt – Educador que clama por um ser humano radicalmente novo (...) Necessitando, portanto, de uma revolução de consciência. A liberdade canta não só dentro de nós, como também em nosso exterior, bastam, portanto, dois saberes: o de ouvir e o de buscar.
- Alfredo Korzybski – ressaltou a linguagem com outro aspecto de consciência que modela o pensamento (...) Os princípios da semântica geral com as palavras cria em nossas mentes imaturas grandes vazios e por isso mesmo, podemos confundir a realidade e criar falsas certezas. Isolamos as coisas que só podem existir com continuidade, deixamos de perceber o processo, a mudança, o movimento (...) E tudo é fruto de uma ideologia animalesca, fundada nas concepções de um capitalismo, ou mesmo de um socialismo gritantemente atrasados e que se formatam nos princípios da profunda desigualdade, da miséria para muitos e da opulência, não só material para poucos.
- · Abrham Maslow – nos dizia que “temos medo de nossas potencialidades superiores. O medo de saber é o medo de saber, pois o conhecimento sempre agrega responsabilidades” (...) E aprendemos a sucumbir e rejeitar nossa pirâmide de valores, necessidades e interesses a despeito dos condicionamentos sofridos pelas classes sociais, notadamente, as materialmente submissas e dependentes.
- · Mahatma Gandhy – esclarece que a mudança concreta só pode ser implementada em nível de pessoa, de conversas de vizinhos, de pequenos grupos, em aldeias longínquas, entre árvores e bichos. E, para tanto é preciso saber aproveitar as instâncias, locais e momentos propícios à criatividade lúdica (...) Mudar e transformar é sair das hierarquias agonizantes para entrar e se integrar a redes cheias de vida (...) Se quisermos, por exemplo, mudar a burocracia, a primeira coisa a fazer é mudar os tecnocratas, um por um, chegando a todos (...) A mudança, a transformação social não virá tão rápida como gostaríamos. Formar uma comunidade em transformação é um processo tão sutil quanto longo e delicado.
- · Marguerite Yourcenar – Qualquer verdade neste sentido produz o escândalo”(...)sugere-nos na definição do ápice político em Memórias de Adriano, mostrando o que egos beligerantes, fantasias e vaidades interferem não só miticamente na prática cotidiana(...) Privilegia-se assim os processos tradicionais (...) Inibir quaisquer transformações é o ponto de partida para o caos (....) ainda que de forma inconsciente e por meio das máscaras humanas e das carrancas que todos usamos.
- · Niels Bohr – esclarece qie “grandes inovações, inevitavelmente, parecem desordenadas, confusas, incompletas, compreendidas apenas em partes, até mesmo por seus próprios descobridores e misteriosas para qualquer outra pessoa. Não há qualquer possibilidade de alguma especulação que não pareça absurda à primeira vista”(...) É preciso no mínimo cinquenta anos para que uma descoberta importante penetre na cabeça do público, o que, frente às necessidades dos tempos atuais, põe em risco e ameaça todo o futuro coletivo, incluindo aí o de cada um de nós.
- · John Platt – propôs o uso de estratégias naturais para conduzir a transformação social e conquista-la como um troféu que é de todos e tem o nome de preservação da vida. Trabalhar com a mudança viva, a transformação do que aí está, aconselhou ele e devemos, para isto e encontrar o foco do poder (...) Devemos, portanto, descobrir o caminho mais fácil e sermos catalisadores (...) Não consumindo nossas energias com inimigos ou adversários. Dedicando-nos aos que estão amadurecidos para a persuasão. O principal objetivo de quem enxerga não é lutar contra a maioria, mas, mostrar-lhe como.
- · Erich Fromm – foca, a partir da psicologia transpessoal o que prescindimos em termos de aspectos e valores para que a solidariedade humana, a condição essencial para a expansão de qualquer indivíduo se faça presente em todos os processos decisivos sobre nossas ações em todos os campos da vida (...) O que depende de trocas, de relações pessoas fundadas no querer bem entre elas – sem tal amorização tudo parecerá impossível ou será, no mínimo, muito mais difícil.
- · Alexis de Tocqueville – nos dois maravilhosos volumes de “A democracia na América”, afirma, categoricamente, que “já basta de linearidade, dentro de um círculo nós somos poderosos e livres”. Devemos, então, aposentar as hierarquias e dar vivas à liberdade, descentralizando ao máximo o poder e a ação para que os desejos se cumpram e os sorrisos concretos possam florir e frutificar (...) Afirma ainda que no grande processo de mudança que é, justamente, implementar processos democráticos na construção de toda uma política americana, partindo do nada para toda uma construção teórica e prática; gerando transformações, precisamos, sim, de redes, vivas e lúcidas, construídas por todos, eternizando as primaveras do mundo.
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