
Inácio tinha fama de ser mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo
dois dragões-da-independência
cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo.
Mas na semana seguinte ele veio contando
que caíra no pátio da escola um pedaço de lua,
todo cheio de buraquinhos.
Feito queijo.
E ele provou e tinha gosto de queijo.
Desta vez, Inácio não ficou só sem sobremesa
como foi proíbido de jogar futebol duarante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que
todas as borboletas da Terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia
e queriam formar um tapete voador
para transportá-la ao sétimo céu.
A mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Aristoclides
abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Culana.
Este menino é mesmo um caso de poesia.
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(Texto de Carlos Drummond de Andrade
devidamente adaptado para a epígrafe do livro:
Anjo sem asas: Tio Inácio cheio de graças, de Antonio da Costa Neto)
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