Descoberta e uso de novas técnicas, para a solução dos problemas organizacionais, educacionais, humanos, sociais e ecológicos (por meio de consultorias, pesquisas, workshops, cursos e afins) com vistas à busca da melhoria da qualidade da vida humana frente a crise histórica que as sociedades contemporâneas enfrentam com a chegada do terceiro milênio. Contatos: antoniocneto@terra.com.br
domingo, 10 de junho de 2018
TEMOS TUDO PARA GANHAR A COPA DO MUNDO... ESTAMOS FRITOS!!!
TEMOS TUDO PARA GANHARMOS A COPA DO MUNDO... ESTAMOS FRITOS!!!
É só uma questão de impacto. Aquela tecnicazinha micha que os ladrõezinhos de ônibus usam. Eles tão um toque forte no seu ombro direito enquanto pegam a sua carteira no bolso esquerdo da calça. É que o toque no ombro, bem maior, chama a sua atenção e quando você dá por fé, já se foi a sua carteira, cartões, o troquinho que restava. Um saco.
Assim é a nossa elite burguesa, esperta e safada que dorme com O príncipe do Maquieval no criado mudo da cabeceira. Uma gente articulada, preparada, esperta. Aproveita o momento crucial que o país atravessa, um momento singular e único de manifestações, crises, desgraças, corrupção, sujeiras, para, com a vitória na Copa do Mundo atirar todo este lixo para debaixo do tapete, todo o mundo fica felizinho, enquanto as decisões mais cruéis são tomadas contra nossa gente, nosso povo, em todos os sentidos. E o povo ainda aplaude seus algozes, torce fundo para que a desgraça aconteça. Discute, perde seu tempo, seus neurônios. Gasta a energia e a - pouca - inteligência que ainda resta que poderia ser usada numa discussão política, a exploração, o valor dos salários, as pressões do preço do dólar, do barril de petróleo, da economia internacional. Mas assim, como o soco no ombro para camuflar o toque sutil no bolso para pegar a sua carteira, todas estas coisas perdem a força, o vigor e a importância, diante de algo tão importante, de valor inestimável e que vai interferir tanto na vida dos brasileiros, como ganhar a famigerada copa do mundo, que, não por acaso antecede, de apenas meses, eleições tão importantes e que definem o nosso destino.
E tudo é feito com estratégias, mídia, marketing, com uma logística infalível que começa com a escolhas dos mitos, das estrelas, dos salários bilionários que lhes são pagos. Com suas mães, negras e ex-pobres que vão agora para a Rússia usufrir do que seria, para as condições delas, o extremo luxo, uma ostentação sem limites ou precedentes. Tem que ser assim, com muito impacto, senão não gera o resultado estridente que quer a elite, a burguesia, os que cagam dinheiro para ostentar esta que seria, em termos sociais mais extremos, uma "cagada mundial". Contra o povo, mas a favor da elite, dos executores, dos jogadores, dos técnicos escolhidos a dedo, para, com isso, massacrar as consciências, impor jogos e regras, definir a ditadura do jogo, do ganho e do gol, com todos os requintes de pressão psicológica possíveis. É, meu caro, é assim que a banda toca.
A sociedade brasileira ainda precisa evoluir muitíssimo para entender tais jogadas maquiavélicas e que interferem, sim, na ordem política dos fatos, nos fenômenos sociais: no bolso, na educação, na moradia, na saúde, na comida. Tudo interfere em tudo e o futebol, assim como todos os demais esportes competitivos são pensados e repensados, sob medida para , justamente, amortecer consciências, perpetuar a alienação e facilitar a extrema exploração do homem pelo homem que levou o Brasil como um todo para onde está, entendendo que estamos ainda no início do caos, no começo da crise gigantesca e que se aprimora a cada dia, mostrando um quadro novo, com o qual nos surpreendemos, mas que superamos, rapidamente com as alegrias do futebol, as surpresas da novela, os paredões do BBB, o evangelho lido na igreja, a lição da escola, e por aí vai...
O brasileiro não tem ainda a notoriedade intelectual para ler na entrelinha, em que, por exemplo, o jogador que não cumpre a regra que não ajudar a construir, é retirado, é expulso do jogo, mas não se muda a regra e que isto é uma imposição violenta da ditadura, mas que é feita de forma lúdica, festiva, na alegria do gol e no fulgor da vitória - como aquele soco no ombro. Lembra?
A autoridade de um único juíz em tudo interfere, dando a lição da centralização do poder, etc. Assim, associando à competição extrema, a necessidade de ganhar e de fazer mais gols, tudo simboliza a imposição autoritária de um poder que no futebol define o jogo, mas que na vida, define a própria vida e tudo é feito por quem comanda, a serviço de quem comando e para o bem-estar de quem comanda.
É, podemos ganhar a Copa do Mundo sim, infelizmente. Justo num momento em que ps Bolsonaros buscam desesperadamente o poder e que as pessoas de boa fé, os pais de família, os trabalhadores, apoiam, aplaudem, revigoram a sua vitória. Torcer para o Brasil ganhar a Copa do Mundo com a sua expressão capitalista, elitista e opressora é torcer por Bolsonaro, é votar nele ou ao que o valha no sentido de se deteriorar as conquistas, os valores da nossa ainda nascente democracia.
Ganharemos a copa, é bem possível, para a alegria do famigerado Galvão Bueno, Casagrande, Júnior, Tite, Grabiéis, Neymares, Fernandinhos, etc. Claro, para esta gente é muito bom bom e muito importante.
É possível sim, que ganhemos a Copa do Mundo e herdaremos o seu legado maldito de uma miséria sem ver, uma fome que mata, um desemprego que desespera, uma violência que nos destrói. Os poucos que comandam isto e os seus pares em volta do mundo têm tudo para comemorar. Enquanto nós, o povo que trabalha para sustentar esta corja deveríamos ter medo, sentar, chorar e suplicar para que, em vez de Copa, ganhemos o direito à vida, à dignidade, a cidadania. Pois, infelizmente, havemos de escolher entre uma coisa ou a outra, as duas, são impossíveis de acontecer a esta altura da evolução do mundo. Talvez, senhores, daqui há uns 300, 400, 500, 1000 anos. Talvez nunca. Mas enquanto isto, vamos nos contentando com as copas do mundo para enriquecer os ricos e socializar a pobreza e a miséria. Por oras, está lançado o desafio.
segunda-feira, 4 de junho de 2018
IRMÃO - Poema lindo de José Godoy Garcia
Irmão
Eu não fiz uma revolução.
Mas me fiz irmão de todas as revoluções.
Eu fiquei irmão de muitas coisas no mundo.
Irmão de uma certa camisa.
Uma certa camisa que era de um gesto de céu
e com certo carinho me vestia, como se me
vestisse de árvore e de nuvens.
Eu fiquei irmão de uma vaca, como se ela
também sonhasse. Fiquei irmão de um vira-lata
com o brio com que ele também me abraçava.
Fiquei irmão de um riacho, que é nome
de rio pequeno, um pequeno que cabe
todo dentro de mim, me falando,
me beijando, me lambendo, me lembrando.
Brincava e me envolvia, certos dias eu
girava em torno do redemoinho do cachorro
e do riacho e da vaca, sem às vezes saber
se estava beijando o riacho, o cachorro
ou a vaca, com um grande céu
me entornando, com um grande céu
com a vaca no lombo e com o cão,
com o riacho rindo de nós todos.
Eu fiquei irmão de livros, de gentes.
Eu fiquei irmão de uma certa montanha.
Irmão de muitos rios.
E fiquei irmão de uma certa idéia,
e tive sorte, não me assassinaram
como a milhares de meus irmãos,
e provei a mim mesmo
a minha fidelidade.
Fiquei irmão de muito cidadão de nome certo.
Fiquei irmão de uma certa bebida,
uma certa bebida que se chama ceva orvalhada.
Um ritual de estima: amigos, futebol, poesia,
minha doce donzela de vestido amarelo
e mais as outras tantas donzelas
de vermelho, grená, cinza, branquelo,
os vestidos mais belos e os mais singelos!
Eu gosto de mim, de meu porte nem sei,
de minha doce e embalante imaginação,
de minha frágil e destemida poesia.
Mas me fiz irmão de todas as revoluções.
Eu fiquei irmão de muitas coisas no mundo.
Irmão de uma certa camisa.
Uma certa camisa que era de um gesto de céu
e com certo carinho me vestia, como se me
vestisse de árvore e de nuvens.
Eu fiquei irmão de uma vaca, como se ela
também sonhasse. Fiquei irmão de um vira-lata
com o brio com que ele também me abraçava.
Fiquei irmão de um riacho, que é nome
de rio pequeno, um pequeno que cabe
todo dentro de mim, me falando,
me beijando, me lambendo, me lembrando.
Brincava e me envolvia, certos dias eu
girava em torno do redemoinho do cachorro
e do riacho e da vaca, sem às vezes saber
se estava beijando o riacho, o cachorro
ou a vaca, com um grande céu
me entornando, com um grande céu
com a vaca no lombo e com o cão,
com o riacho rindo de nós todos.
Eu fiquei irmão de livros, de gentes.
Eu fiquei irmão de uma certa montanha.
Irmão de muitos rios.
E fiquei irmão de uma certa idéia,
e tive sorte, não me assassinaram
como a milhares de meus irmãos,
e provei a mim mesmo
a minha fidelidade.
Fiquei irmão de muito cidadão de nome certo.
Fiquei irmão de uma certa bebida,
uma certa bebida que se chama ceva orvalhada.
Um ritual de estima: amigos, futebol, poesia,
minha doce donzela de vestido amarelo
e mais as outras tantas donzelas
de vermelho, grená, cinza, branquelo,
os vestidos mais belos e os mais singelos!
Eu gosto de mim, de meu porte nem sei,
de minha doce e embalante imaginação,
de minha frágil e destemida poesia.
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